Uma onda de tensão varreu o setor energético brasileiro nesta quarta,feira (10) com a confirmação de que os petroleiros aprovaram uma greve nacional na Petrobras. A decisão foi tomada após a categoria rejeitar, de forma massiva, a terceira contraproposta apresentada pela estatal para o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2025,2026. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) anunciaram que a paralisação terá início à zero hora da próxima segunda,feira, dia 15 de dezembro. A recusa reflete o descontentamento profundo com o que os sindicatos chamam de “descaso” da gestão de Magda Chambriard com as pautas históricas dos trabalhadores, especialmente em um ano de lucros bilionários para a companhia.
O estopim para a deflagração do movimento foi a insuficiência da proposta econômica e social colocada à mesa. Segundo as lideranças sindicais, a Petrobras ofereceu reajustes que não cobrem as perdas acumuladas e manteve o silêncio sobre questões cruciais, como a solução definitiva para os déficits do fundo de pensão Petros (PEDs), que corrói a renda de aposentados e pensionistas. Além disso, a categoria exige o fim dos chamados “desimplantes” — transferências forçadas de trabalhadores de plataformas offshore —, prática que tem gerado revolta nas bases operacionais.
A notificação oficial da greve será enviada à direção da Petrobras nesta sexta,feira (12), cumprindo os prazos legais da Lei de Greve. Embora a empresa ainda não tenha se manifestado publicamente sobre planos de contingência, o mercado já reage com apreensão. A possibilidade de interrupção no refino e na distribuição acende o alerta para o risco de desabastecimento de combustíveis e gás de cozinha em pleno final de ano, período de alta demanda devido às festas e viagens.
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Paralisação Geral ameaça refinarias e plataformas
A Paralisação Geral programada para a próxima semana promete ser uma das maiores dos últimos anos. Diferente de mobilizações pontuais, a adesão abrange tanto o pessoal administrativo quanto as áreas operacionais críticas, como refinarias, terminais e plataformas de exploração no pré,sal. A estratégia dos sindicatos é afetar a produção para forçar a empresa a reabrir as negociações com propostas concretas. A FNP convocou todas as bases, incluindo terceirizados, para cruzar os braços, sob o lema “Menos Acionista, Mais ACT”.
Diante da iminência desta Paralisação Geral, a preocupação com o abastecimento é imediata. Especialistas do setor alertam que, embora a Petrobras tenha estoques estratégicos, uma greve prolongada pode impactar a logística de distribuição em poucos dias. Sindicatos garantem que manterão os efetivos mínimos exigidos por lei para garantir a segurança das instalações e o atendimento a serviços essenciais, mas a redução no ritmo de processamento de petróleo é inevitável se o impasse persistir.
Além disso, a Paralisação Geral ocorre em um momento politicamente sensível. A gestão da Petrobras, pressionada por resultados financeiros, tenta equilibrar a distribuição de dividendos com a valorização da força de trabalho. No entanto, os trabalhadores argumentam que a empresa prioriza o mercado financeiro em detrimento de quem produz a riqueza, citando a recusa em conceder aumento real significativo e a manutenção de políticas de gestão de pessoas herdadas de governos anteriores.
Movimento Paredista critica gestão de saúde e segurança
Um dos pilares centrais deste Movimento Paredista é a denúncia da precarização das condições de trabalho. Relatos vindos das plataformas indicam que a redução das equipes de saúde a bordo e a sobrecarga de tarefas têm colocado em risco a vida dos petroleiros. A proposta rejeitada pela categoria previa ajustes considerados “paliativos” no auxílio deslocamento e ignorava a demanda por equipes médicas completas nas unidades marítimas, ponto inegociável para a FNP.
O Movimento Paredista também expõe a fratura na relação com a atual presidência da estatal. A FUP acusou a empresa de atuar com “intransigência” e de realizar “ataques” aos direitos durante a negociação, como as punições a dirigentes sindicais e a falta de transparência sobre o Plano de Cargos e Salários. A sensação de traição é palpável, visto que a categoria esperava uma postura mais dialogada sob o atual governo federal.
Contudo, a força do Movimento Paredista reside na sua unidade. Assembleias realizadas em todo o país, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, rejeitaram a proposta patronal com margens amplas, sinalizando que a base está disposta a enfrentar o desconto de dias parados para garantir conquistas estruturais. A liderança sindical reforça que a greve não é um fim em si mesma, mas o único instrumento restante diante do fechamento dos canais de negociação efetiva.
Mobilização Sindical foca na Petros e fim de punições
A Mobilização Sindical traz à tona o drama dos assistidos pela Petros. Milhares de famílias de aposentados sofrem descontos mensais agressivos em seus benefícios para cobrir os déficits do plano, uma situação que se arrasta há anos sem solução definitiva. A categoria exige que a Petrobras assuma sua responsabilidade como patrocinadora e aporte recursos para equacionar a dívida, aliviando o bolso de quem dedicou a vida à empresa. A ausência de uma proposta clara para esse tema foi decisiva para a rejeição do acordo.
Nesta Mobilização Sindical, outro ponto de honra é a anistia e o fim das perseguições políticas internas. Sindicatos relatam que a empresa mantém práticas discriminatórias em processos seletivos internos e dificulta o acesso de dirigentes às áreas de trabalho, ferindo a liberdade sindical. A greve busca restabelecer o respeito institucional e garantir que a representação dos trabalhadores seja exercida sem represálias.
Por fim, a Mobilização Sindical serve como um recado direto ao governo federal. Os petroleiros, base histórica de apoio ao atual projeto político, cobram coerência entre o discurso de valorização do trabalho e a prática da maior estatal do país. A greve coloca o Palácio do Planalto em uma saia justa, tendo que mediar um conflito que envolve sua principal empresa e sua base social mais organizada.
Interrupção das Atividades pode ser evitada?
Ainda há uma estreita janela para evitar a Interrupção das Atividades. As federações afirmam que estão abertas ao diálogo até o último minuto, desde que a Petrobras apresente uma nova proposta que contemple os eixos principais: ganho real, saúde, fim dos equacionamentos da Petros e parada nas transferências compulsórias. A bola agora está com a diretoria da empresa, que pode convocar uma reunião de emergência para tentar desmobilizar o movimento antes de segunda,feira.
Caso a Interrupção das Atividades se concretize, a orientação para a população é de cautela, mas sem pânico. Historicamente, greves de petroleiros têm impacto gradual no abastecimento. No entanto, a especulação de preços nos postos é um efeito colateral quase imediato, independentemente dos estoques reais. O consumidor deve ficar atento a aumentos abusivos e denunciar aos órgãos de defesa.
Portanto, os próximos dias serão decisivos. Se a Petrobras mantiver a postura atual, o dia 15 de dezembro marcará o início de um confronto de grandes proporções. A Interrupção das Atividades no setor de óleo e gás é um evento de impacto sistêmico, capaz de afetar desde o transporte público até a indústria, testando a resiliência da economia brasileira neste fim de 2025.
