BB desembolsa R$ 85 bi ao agro na safra 25/26

Instituição financeira registra queda nos desembolsos em comparação com mesmo período de 2024, reflexo da Selic elevada e menor apetite por investimentos na agricultura empresarial brasileira

Fachada de agência do Banco do Brasil com letreiro amarelo institucional
Instituição financeira registra retração de 19% nos financiamentos ao agro entre julho e novembro de 2025

O Banco do Brasil concluiu o primeiro semestre da safra 2025/26 com desembolsos de aproximadamente R$ 85 bilhões destinados ao financiamento do agronegócio brasileiro. O montante abrange operações realizadas entre julho e novembro de 2025, período que marca o início do ciclo agrícola que se estende até junho de 2026. Os números foram apresentados pelo vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar da instituição, Gilson Bittencourt, durante evento técnico recente. O volume representa retração significativa em relação ao mesmo intervalo da safra anterior, quando a instituição havia liberado R$ 105 bilhões, evidenciando queda de aproximadamente 19% nos desembolsos para o setor.

Os recursos desembolsados pelo banco incluem diversas modalidades de financiamento para a cadeia produtiva do agronegócio. Entre as operações contabilizadas estão linhas tradicionais de crédito rural, títulos agrícolas como as Cédulas de Produto Rural, financiamentos agroindustriais e recursos destinados a capital de giro. Além disso, o montante engloba as operações de renegociação de dívidas rurais, instrumento que tem ganhado relevância diante do cenário macroeconômico desafiador. A instituição financeira mantém expectativa de reequilíbrio dos desembolsos ao longo dos próximos meses, projetando alcançar patamar mais próximo das metas estabelecidas até o encerramento da safra em julho de 2026.

Crédito rural registra maior retração entre modalidades

Quando analisadas exclusivamente as operações de crédito rural, a retração nos desembolsos mostra-se ainda mais acentuada. O Banco do Brasil liberou R$ 78,3 bilhões nesta modalidade durante o primeiro semestre da safra 2025/26, valor substancialmente inferior aos R$ 96 bilhões registrados no mesmo período do ciclo anterior. A diferença de R$ 17,7 bilhões representa queda de aproximadamente 18,4% nas operações tradicionais de financiamento rural. Gilson Bittencourt destacou que, apesar da menor contratação observada até novembro, a instituição projeta melhor equilíbrio no desembolso até julho de 2026, quando a safra se encerra oficialmente.

A meta total estabelecida pelo Banco do Brasil para a safra 2025/26 alcança R$ 230 bilhões em financiamentos destinados ao agronegócio. Este valor representa crescimento modesto de 2% em comparação aos R$ 225 bilhões desembolsados na temporada 2024/25. Da quantia prevista para o ciclo atual, R$ 106 bilhões serão direcionados à agricultura empresarial, segmento que abrange grandes produtores, cooperativas e agroindústrias. Outros R$ 54 bilhões estão reservados para agricultura familiar e médios produtores, enquanto R$ 70 bilhões devem ser distribuídos em negócios da cadeia de valor do agronegócio, incluindo financiamentos indiretos e operações com títulos.

Juros elevados afetam apetite por novos investimentos

A retração observada nos desembolsos reflete diretamente o impacto da taxa Selic elevada sobre o comportamento dos produtores rurais brasileiros. Gilson Bittencourt explicou que a agricultura empresarial apresenta queda entre 35% e 40% no apetite por novos investimentos durante a safra atual. A combinação de juros altos com rentabilidade próxima aos níveis históricos levou os grandes produtores a adotarem postura mais conservadora. O vice-presidente destacou que o momento é propício apenas para produtores que apresentam situação financeira saudável e baixo endividamento, recomendando cautela para aqueles que podem postergar investimentos na expectativa de redução da Selic.

O executivo do banco enfatizou que produtores rurais devem priorizar a reorganização do fluxo de caixa diante das taxas de juros mais elevadas praticadas neste ano. A orientação é que investimentos sejam postergados sempre que possível, permitindo que os agricultores reequilibrem suas contas antes de assumir novos compromissos financeiros. O crédito para custeio da agricultura empresarial também registra volumes inferiores aos da safra anterior, evidenciando menor demanda generalizada por parte dos produtores. A situação contrasta com o desempenho da agricultura familiar, onde os desembolsos de crédito rural permanecem dentro do esperado pela instituição.

Expectativas positivas para produção agrícola nacional

Apesar dos desafios no mercado de crédito, o Banco do Brasil mantém perspectivas otimistas quanto ao desenvolvimento da safra 2025/26. A instituição acompanha atentamente os possíveis efeitos do fenômeno climático La Niña sobre as lavouras brasileiras, mas avalia que o cenário geral permanece positivo para o progresso da produção nacional. Gilson Bittencourt citou as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e da Companhia Nacional de Abastecimento, ambas indicando estabilidade na produção agrícola. A safra está se desenvolvendo conforme o previsto, com grande parte da área já plantada e sem redução expressiva no total cultivado.

O vice-presidente destacou que a área plantada até o momento encontra-se dentro das expectativas, assim como o andamento geral da produção. A instituição financeira aguarda algumas semanas para avaliar se houve redução no pacote tecnológico adotado pelos produtores, fator que poderia afetar a produtividade final das lavouras. Em relação aos preços, o banco observa que as cotações dos principais produtos agrícolas estão retornando aos níveis históricos, movimento que também se reflete na rentabilidade dos produtores. Neste cenário, áreas com alto custo de produção começam a enfrentar maior dificuldade de viabilidade econômica.

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários