BB lidera ganhos e destrava valor após Tesouro dos EUA revogar sanções a Alexandre de Moraes

Banco do Brasil (BBAS3) elimina um risco crítico de compliance que travava suas ações. Entenda como o fluxo estrangeiro e a análise fundamentalista projetam o futuro do banco estatal após a decisão de Washington.

Gráfico financeiro em tons de vermelho com setas de tendência de baixa e velas (candlesticks) ao fundo, sobreposto pelo logotipo quadrado amarelo e azul do Banco do Brasil, ilustrando o período de pressão vendedora e desvalorização do ativo BBAS3.
A pressão vendedora e os gráficos em vermelho ilustram o desconto severo que penalizou o Banco do Brasil nos últimos meses; com a retirada das sanções, o mercado inicia a reversão desse cenário negativo. (Foto: Reprodução/Análise Gráfica)

O mercado financeiro brasileiro reagiu com vigor e otimismo pragmático no fechamento desta sexta-feira (12), impulsionado por um desdobramento crucial na esfera geopolítica e jurídica que vinha penalizando, há meses, a precificação dos ativos estatais brasileiros. As ações do Banco do Brasil (BBAS3) registraram uma valorização expressiva, descolando-se de seus pares privados e liderando as altas do setor bancário no Ibovespa.

O catalisador para esse movimento de repricificação foi o anúncio oficial, emitido pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, confirmando a retirada do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, da lista de sanções da Global Magnitsky Human Rights Accountability Act. A decisão removeu um “risco de cauda” que pairava especificamente sobre o Banco do Brasil, instituição responsável pelo processamento da folha de pagamento do Judiciário, dissipando temores de um compliance crossfire (conflito de conformidade) que ameaçava as operações internacionais do banco.

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Nesta análise detalhada, dissecamos os impactos dessa decisão para o acionista do BB, o comportamento do fluxo estrangeiro e as perspectivas para o ativo BBAS3 no curto e médio prazo.

O Fim do “Desconto Magnitsky”

Desde julho de 2025, quando as sanções foram originalmente impostas em um movimento surpreendente da política externa norte-americana — influenciada por uma forte pressão da ala republicana no Congresso dos EUA —, o Banco do Brasil vinha sendo negociado com um desconto injustificado em relação aos seus fundamentos operacionais.

A inclusão de uma Autoridade Politicamente Exposta (PEP) brasileira na lista da Lei Magnitsky criou um imbróglio jurídico sem precedentes. A lei norte-americana proíbe qualquer entidade que opere no sistema financeiro dos EUA, ou que utilize o dólar, de realizar transações com os indivíduos sancionados. Para o Itaú ou Bradesco, o impacto foi marginal, visto que não possuem vínculos empregatícios diretos com o ministro. Para o Banco do Brasil, no entanto, a situação era crítica.

Como banco pagador oficial do Supremo Tribunal Federal, o BB se viu diante de um dilema existencial de compliance:

  1. Cenário A: Suspender os pagamentos ao ministro para cumprir a ordem da OFAC, violando a legislação brasileira e a soberania nacional, o que acarretaria consequências jurídicas imediatas no Brasil.

  2. Cenário B: Manter os pagamentos e arriscar violar as sanções primárias dos EUA, o que poderia levar a multas bilionárias, congelamento de ativos do próprio banco no exterior e, no pior cenário (o chamado risco nuclear), a desconexão do sistema SWIFT.

Durante o segundo semestre de 2025, o mercado precificou o “Cenário B” com severidade. O múltiplo Preço/Lucro (P/L) do Banco do Brasil foi comprimido, operando abaixo de 4,0x em diversos momentos, enquanto seus pares privados negociavam a múltiplos substancialmente maiores. A alta desta sexta-feira, portanto, não é apenas euforia; é a remoção matemática desse prêmio de risco. O mercado está, efetivamente, devolvendo ao preço da ação o valor que havia sido subtraído pelo medo das sanções secundárias.

A Reação do Mercado e o Fluxo Estrangeiro

A resposta no pregão foi técnica e imediata. Analistas de mesas de operações (buy-side) relataram um fluxo comprador intenso vindo de investidores institucionais estrangeiros (gringos) nos últimos minutos do pregão de sexta-feira, logo após a divulgação da nota de Washington.

A lógica do investidor estrangeiro é pautada, primeiramente, pela segurança jurídica. Muitos fundos de pensão globais e ETFs (Exchange Traded Funds) possuem regras rígidas de compliance que os impedem de deter papéis de empresas que estejam, mesmo que indiretamente, flertando com violações de sanções da OFAC. Com a retirada de Moraes da lista, o Banco do Brasil volta a ser um ativo “limpo” (cleared) para alocação de capital global.

Esse retorno do fluxo estrangeiro é vital para a sustentação da alta. O BBAS3 é um papel de alta liquidez e forte peso no índice, e a ausência do comprador internacional vinha deixando o ativo à mercê da volatilidade doméstica e da especulação de curto prazo. A normalização das relações diplomáticas destrava, portanto, uma demanda represada por ativos brasileiros baratos.

Análise Fundamentalista: O BBAS3 Pós-Sanção

Sem a nuvem negra das sanções, os analistas voltam a olhar para o que realmente importa: os números. E, sob a ótica fundamentalista, o Banco do Brasil permanece como uma das teses de investimento mais resilientes da Bolsa brasileira.

1. Carteira de Crédito e Agronegócio: O BB mantém sua liderança incontestável no agronegócio, um setor que, apesar das oscilações climáticas recentes, continua sendo o motor do PIB brasileiro. A carteira de crédito do banco mostrou-se defensiva, com índices de inadimplência (NPL +90 dias) controlados e abaixo da média do Sistema Financeiro Nacional, mesmo durante o período de turbulência política.

2. Dividend Yield (Retorno em Dividendos): Para o investidor focado em renda passiva, a notícia é duplamente positiva. O risco de sanções trazia consigo o temor de que o banco precisasse reter lucros para fazer frente a eventuais multas em dólar, o que poderia impactar o payout (porcentagem do lucro distribuído). Com o risco afastado, a expectativa é de manutenção de uma política de remuneração robusta aos acionistas, com projeções de Dividend Yield superiores a dois dígitos para o encerramento do ano fiscal de 2025.

3. Desconto de Valuation: Mesmo com a alta recente, o Banco do Brasil continua descontado em relação aos pares privados. A métrica de Preço sobre Valor Patrimonial (P/VP) ainda indica que o banco negocia próximo ou abaixo de seu valor contábil, uma anomalia para uma instituição que entrega um Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) consistentemente acima de 20%. A retirada da sanção atua como um gatilho para a convergência desse valuation para médias históricas mais justas.

O Contexto Diplomático e a Atuação do Itamaraty

É imperativo analisar, também, os bastidores que levaram a essa reversão. Fontes ligadas ao Ministério das Relações Exteriores indicam que a diplomacia brasileira trabalhou intensamente nos últimos meses para demonstrar ao Tesouro Americano a ineficácia e os efeitos colaterais desastrosos da manutenção dessa sanção.

O argumento central do Brasil foi econômico e institucional: sancionar um membro da suprema corte de um aliado democrático, gerando instabilidade no maior banco público da América Latina, não atendia aos interesses estratégicos dos EUA na região. A volatilidade gerada poderia, inclusive, abrir espaço para a entrada de capital de potências rivais no sistema financeiro brasileiro, preenchendo o vácuo deixado pelos investidores ocidentais.

A decisão da OFAC de remover Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane Barci de Moraes, da lista SDN (Specially Designated Nationals), sinaliza um arrefecimento nas tensões diplomáticas e um retorno ao pragmatismo nas relações bilaterais Brasil-EUA. Para o mercado, isso significa previsibilidade — a moeda mais valiosa em tempos de incerteza global.

Riscos Remanescentes e Pontos de Atenção

Apesar do otimismo, o investidor deve manter a cautela e não ignorar os riscos que ainda cercam a tese de investimento em estatais. O fim da sanção resolve o problema externo, mas não elimina os desafios domésticos.

  • Risco Fiscal: O Brasil ainda enfrenta um cenário fiscal desafiador, com dúvidas sobre a meta de déficit zero e a trajetória da dívida pública. O Banco do Brasil, sendo um agente de crédito oficial, pode ser pressionado a atuar de forma anticíclica caso a economia desaqueça, o que historicamente traz preocupações sobre a qualidade da concessão de crédito.

  • Ingerência Política: Embora a atual gestão do banco tenha blindado a governança corporativa e mantido a independência na análise de crédito, o risco de interferência política é inerente a qualquer Estatal. A volatilidade política em Brasília continua sendo um fator a ser monitorado de perto.

  • Cenário Macro Global: A taxa de juros nos EUA (Fed Funds Rate) permanece em patamares que competem com a atratividade dos mercados emergentes. Embora o risco específico do BB tenha caído, o custo de oportunidade global ainda é alto.

Conclusão: Hora de Reavaliar Posições?

A retirada das sanções da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes é, inegavelmente, um game changer para as ações do Banco do Brasil no curto prazo. O evento remove um teto técnico que impedia a valorização do papel e permite que o mercado volte a precificar a eficiência operacional do banco, que é alta.

Para os analistas, a recomendação predominante migra de “Manter/Neutro” (devido ao risco binário que existia) para “Compra/Acumulação”. O consenso é que o mercado exagerou na punição ao papel nos últimos meses e que há espaço para um rally de recuperação, visando fechar o gap de avaliação com os bancos privados.

O investidor que soube ler os fundamentos e suportou a volatilidade dos últimos meses agora colhe os frutos. No entanto, a disciplina na gestão de risco continua essencial. A euforia de sexta-feira deve dar lugar a uma análise sóbria na abertura da próxima semana, onde o foco será a sustentabilidade desse novo patamar de preço.

O Portal Resenha Diária continuará monitorando os desdobramentos desse caso e a reação dos investidores internacionais ao longo da próxima semana. O episódio serve como um lembrete poderoso da interconexão entre política, direito internacional e mercado financeiro no cenário contemporâneo.

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