BC lança Protege+ para blindar seu CPF e Pix

Plataforma gratuita permite travar abertura de contas em seu nome, medida visa combater estelionato e uso de laranjas no sistema financeiro nacional

Smartphone exibindo a logomarca do Pix na tela, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central.
Com o novo "BC Protege+", o usuário poderá bloquear o cadastro de novas chaves Pix em seu CPF para evitar a ação de estelionatários.

O cenário de insegurança digital que assola o sistema financeiro brasileiro ganhou, nesta segunda feira, um novo e poderoso aliado institucional. O Banco Central anunciou o lançamento oficial do “BC Protege+”, uma iniciativa robusta desenhada para devolver ao cidadão o controle sobre sua própria identidade bancária. A ferramenta chega em um momento crítico, onde o uso de dados vazados para a abertura de contas “laranjas” e o cadastro indevido de chaves Pix se tornaram o motor principal de uma indústria de estelionato que movimenta bilhões. A promessa da autarquia é simples mas revolucionária: permitir que qualquer brasileiro bloqueie preventivamente a abertura de novos relacionamentos financeiros em seu nome.

A medida representa uma mudança de paradigma na regulação bancária. Até então, a lógica era reativa, o consumidor só descobria que seu CPF havia sido utilizado indevidamente quando recebia uma cobrança ou consultava o Registrato tarde demais. Com o BC Protege+, a lógica passa a ser preventiva. O usuário pode manter seu CPF “congelado” para novas contas no sistema do Banco Central. Se um golpista tentar abrir uma conta digital em um banco desconhecido usando dados roubados, a consulta obrigatória ao sistema retornará o bloqueio, impedindo a concretização da fraude na origem.

Essa blindagem digital é uma resposta direta à pressão da sociedade e dos órgãos de defesa do consumidor, que cobravam ações mais enérgicas diante da sofisticação das quadrilhas. A facilidade de abertura de contas via aplicativos, embora tenha democratizado o acesso bancário, abriu brechas que foram exploradas à exaustão pelo crime organizado. O BC Protege+ surge, portanto, não apenas como uma ferramenta tecnológica, mas como uma política pública de segurança cibernética, transferindo o poder de veto para a ponta mais fraca da corda: o correntista.

Ferramenta do Banco Central segura dados

A operacionalização do BC Protege+ foi desenhada para ser intuitiva e integrada ao ecossistema Gov.br, garantindo que a autenticação seja rigorosa. Ao acessar a plataforma, o cidadão encontra um painel de controle onde pode ativar ou desativar o bloqueio de abertura de contas com um único clique. Essa funcionalidade assemelha se aos serviços de “congelamento de crédito” existentes nos Estados Unidos, mas com foco específico na infraestrutura bancária brasileira. A ideia é que o bloqueio permaneça ativo por padrão, sendo desativado pelo usuário apenas naqueles breves momentos em que ele realmente deseja iniciar um novo relacionamento com uma instituição financeira.

Além de travar novas contas, a ferramenta do Banco Central segura também a criação de novas chaves Pix. Esse é um ponto crucial, pois muitas fraudes envolvem a criação de chaves aleatórias em contas legítimas invadidas, para desviar recursos rapidamente. Com a função ativada, nenhuma nova chave pode ser cadastrada, mesmo que o fraudador tenha acesso ao aplicativo do banco, pois a validação final passa pelo crivo centralizador do BC. Isso cria uma camada extra de autenticação que independe da segurança específica de cada banco, funcionando como um “escudo mestre” para o sistema.

A implementação dessa tecnologia exigiu uma integração profunda entre o Banco Central e as centenas de instituições financeiras que operam no país, desde os grandes bancos de varejo até as pequenas fintechs de crédito. Todas foram obrigadas a adaptar seus sistemas de onboarding (entrada de clientes) para consultar o status do BC Protege+ antes de aprovar qualquer cadastro. Aquele banco que falhar nessa verificação e permitir a abertura de uma conta fraudulenta em nome de um cidadão com bloqueio ativo estará sujeito a sanções pesadas e à responsabilização objetiva pelos danos causados, o que força o mercado a elevar a régua da conformidade.

Recurso do Bacen contra golpes digitais

A eficácia do recurso do Bacen contra golpes reside na sua capacidade de atacar a raiz do problema: a conta de passagem. Na grande maioria dos golpes, como o do “falso presente”, “falso leilão” ou o clássico sequestro do WhatsApp, o dinheiro da vítima não fica na conta do criminoso, ele é pulverizado instantaneamente para diversas contas abertas em nome de terceiros (laranjas), muitas vezes pessoas que nem sabem que seus nomes estão sendo usados. Ao massificar o uso do bloqueio preventivo, o BC espera secar a oferta dessas contas descartáveis, tornando a logística da lavagem de dinheiro muito mais custosa e complexa para as quadrilhas.

O sistema também oferece um histórico detalhado de tentativas de acesso. Se um golpista tentar abrir uma conta com seu CPF e for barrado pelo bloqueio, você receberá uma notificação via aplicativo ou e-mail cadastrado no Gov.br, informando qual instituição tentou realizar a operação e em qual horário. Essa transparência permite que o cidadão saiba, em tempo real, se seus dados estão sendo “testados” no mercado ilegal, possibilitando que ele tome outras medidas de proteção, como a troca de senhas ou o registro de boletins de ocorrência preventivos.

Analistas de segurança avaliam que essa medida terá um impacto educativo significativo. Ao colocar a gestão da segurança na mão do usuário, o Banco Central fomenta uma cultura de “higiene digital”. O ato de desbloquear o CPF apenas quando necessário deve se tornar um hábito tão comum quanto trancar a porta de casa ao sair. A fricção gerada por ter que entrar no sistema para liberar uma operação é vista como um preço baixo a se pagar pela tranquilidade de saber que nenhuma dívida ou crime está sendo cometido em seu nome em algum banco digital obscuro.

Sistema de defesa financeira para empresas

Embora o foco inicial da divulgação seja a pessoa física, o BC Protege+ também traz funcionalidades vitais para o setor corporativo. O roubo de CNPJs para a abertura de contas empresariais fraudulentas é uma modalidade de crime que causa prejuízos milionários e dores de cabeça jurídicas imensas para empresários. Com o novo sistema de defesa financeira, os sócios administradores poderão bloquear a abertura de contas em nome da empresa, exigindo autenticação reforçada via certificado digital para qualquer nova movimentação cadastral.

Isso é particularmente relevante para evitar o golpe da “emissão de boletos falsos”, onde criminosos usam contas em nome de empresas idôneas para emitir cobranças e desviar pagamentos de fornecedores. A blindagem do CNPJ no sistema do Banco Central protege a reputação da companhia e evita que ela seja incluída indevidamente em listas negras de crédito ou que tenha que responder judicialmente por fraudes cometidas por terceiros. A ferramenta se torna, assim, um componente essencial do compliance e da gestão de risco de qualquer negócio, do microempreendedor individual às grandes corporações.

A adesão das empresas ao sistema deve ser gradual, mas a recomendação de especialistas é a ativação imediata. A vulnerabilidade dos dados cadastrais públicos de empresas no Brasil facilita a ação de estelionatários, e a barreira imposta pelo BC atua como um porteiro digital eficiente. O sistema também permitirá que o empresário delegue permissões específicas para departamentos financeiros, mantendo o controle estratégico sobre a abertura de novos relacionamentos bancários centralizado na diretoria, o que aumenta a governança corporativa.

Mecanismo de proteção bancária e futuro

O lançamento do BC Protege+ não é o fim da linha, mas o início de uma nova era na relação entre segurança e conveniência. O mercado financeiro, que lucrou bilhões com a agilidade da digitalização, agora precisa se adaptar a um ritmo onde a segurança é prioridade. Os bancos, inicialmente reticentes com qualquer medida que pudesse burocratizar a aquisição de novos clientes, agora apoiam a iniciativa, pois também são vítimas das fraudes. Os custos operacionais para lidar com contestações, processos judiciais e ressarcimentos de golpes corroem a rentabilidade das instituições, e o novo mecanismo de proteção bancária surge como um aliviador dessa pressão.

A expectativa é que, com o tempo, o BC Protege+ ganhe novas funcionalidades, como a integração com birôs de crédito para travamento de consultas de empréstimos e financiamentos, criando um “super app” de segurança financeira do cidadão. A inteligência artificial do Banco Central também será alimentada pelos dados de tentativas de fraude bloqueadas, permitindo identificar padrões de ataque e desmantelar quadrilhas com maior rapidez. A base de dados gerada pelo sistema será um tesouro para a inteligência policial e para a formulação de novas políticas de prevenção.

Para o usuário final, a mensagem é clara: a proteção do Estado existe, mas a atitude deve ser individual. Ativar o BC Protege+ é um ato de cidadania digital indispensável em 2025. Em um mundo onde dados valem mais do que petróleo e onde sua identidade pode ser roubada em milissegundos, ter a chave do cofre da sua própria vida financeira é o maior poder que você pode exercer. A ferramenta está disponível, é gratuita e funciona. O resto depende de cada um de nós.

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários