Black Friday 2025: Vendas online batem R$ 4,76 bi

Dados da Confi Neotrust confirmam retomada do setor com crescimento de dois dígitos, eletrodomésticos e ar-condicionado lideram a preferência do consumidor brasileiro.

A fotografia captura o interior de um grande armazém logístico (fulfillment center) durante o pico de operação. Vê-se um sistema complexo de esteiras transportadoras levando centenas de caixas marrons com logotipos de e-commerce. Funcionários uniformizados utilizam leitores de código de barras e tablets para gerenciar o fluxo. A iluminação é industrial e intensa, transmitindo a ideia de velocidade e eficiência.
Movimentação intensa em centros de distribuição garante a entrega dos R$ 4,76 bilhões em produtos vendidos. (Foto: Ilustrativa/Resenha Diária)

O varejo digital brasileiro amanheceu neste sábado, 29 de novembro, com motivos concretos para celebrar. Após um período de incertezas e resultados mornos em anos anteriores, a Black Friday de 2025 consolidou-se como o marco da retomada do consumo no país. Segundo dados oficiais divulgados pela Confi Neotrust, empresa referência em inteligência de mercado, o e-commerce nacional faturou a cifra expressiva de R$ 4,76 bilhões apenas durante a sexta-feira oficial do evento. Esse montante representa uma alta robusta de 11% em comparação ao mesmo período de 2024, superando as expectativas de analistas que projetavam um crescimento mais conservador, na casa de um dígito.

Esse resultado positivo não é apenas um número frio em uma planilha; ele reflete uma mudança de humor na economia doméstica. O consumidor, que passou grande parte de 2023 e 2024 com o freio de mão puxado devido aos juros altos e ao endividamento, voltou às compras com mais confiança. A estratégia das grandes varejistas, que apostaram em descontos agressivos e, principalmente, em condições de pagamento facilitadas e logística ultra-rápida, provou-se acertada. O dia 28 de novembro de 2025 entra para a história como o momento em que a “Sexta-Feira Negra” brasileira recuperou seu vigor, afastando o fantasma da estagnação e injetando ânimo para as vendas de Natal que se aproximam.

Receita do comércio eletrônico em alta

A análise detalhada dos números revela que o crescimento de 11% no faturamento não foi impulsionado apenas pela inflação ou aumento de preços, mas sim por um volume real de pedidos e uma qualificação do consumo. O ticket médio das compras apresentou uma elevação saudável, indicando que o brasileiro aproveitou a data para adquirir bens duráveis de maior valor agregado. Diferente de edições passadas, onde itens de supermercado e produtos de baixo custo dominavam o carrinho para estocar despensa, em 2025 o foco voltou para os “sonhos de consumo”: tecnologia de ponta e conforto para o lar.

Este cenário de bonança no faturamento do e-commerce é explicado também pela maturação do mercado. O consumidor aprendeu a monitorar preços com semanas de antecedência, utilizando comparadores e plugins de navegador para fugir da “Black Fraude”. Isso obrigou as lojas a oferecerem descontos reais e auditáveis. Aqueles varejistas que tentaram maquiar preços foram rapidamente expostos nas redes sociais e perderam vendas, enquanto as plataformas que jogaram limpo colheram os frutos de uma receita expandida. A transparência, portanto, tornou-se um ativo financeiro tão importante quanto o próprio estoque, fidelizando um cliente cada vez mais exigente e conectado.

Outro ponto crucial para essa alta na receita foi a antecipação das ofertas. O conceito de “Black November” ou “Esquenta Black Friday” diluiu as vendas ao longo do mês, mas, paradoxalmente, não esvaziou o dia principal. Pelo contrário, o monitoramento da Confi Neotrust sugere que as compras antecipadas serviram para itens de menor urgência, enquanto a sexta-feira foi reservada para as “ofertas relâmpago” e os grandes descontos em eletrônicos, concentrando um volume financeiro massivo em 24 horas. Essa dinâmica de “dois tempos” permitiu que o varejo otimizasse sua logística e garantisse que o fluxo de caixa se mantivesse positivo durante todo o mês de novembro.

Números da Black Friday no Brasil

Ao mergulharmos nas categorias que mais brilharam nesta edição, a “linha branca” e a climatização aparecem como as grandes protagonistas. O Brasil, enfrentando ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas neste final de 2025, viu uma corrida desenfreada por aparelhos de ar-condicionado e ventiladores. O que antes era considerado um item de luxo para muitos, tornou-se uma necessidade básica de saúde e bem-estar. Os números da Black Friday no Brasil mostram que o setor de eletrodomésticos teve um desempenho estelar, sendo responsável por uma fatia considerável dos R$ 4,76 bilhões arrecadados.

Além da climatização, os smartphones e as smart TVs mantiveram seu reinado tradicional. Com a expansão definitiva da tecnologia 5G para cidades do interior e a proximidade da Copa do Mundo de 2026 (que já começa a movimentar o marketing), muitos consumidores anteciparam a troca de seus aparelhos. Modelos intermediários “premium” foram os mais buscados, equilibrando custo e benefício. O setor de moda e vestuário também surpreendeu, mostrando que a estratégia de “looks para o fim de ano” com desconto funcionou bem, especialmente em marketplaces que oferecem provador virtual e trocas facilitadas.

Entretanto, não foram apenas os produtos físicos que impulsionaram esses índices. O setor de serviços, embora não contabilizado integralmente no relatório da Confi Neotrust (focado em bens de consumo), pegou carona na data. Vendas de pacotes de viagens para as férias de janeiro e assinaturas de serviços digitais (streaming e cursos) ajudaram a criar um ecossistema de consumo vibrante. A diversificação do mix de produtos ofertados pelas grandes plataformas transformou a data em um “shopping center virtual” completo, onde se podia comprar desde uma geladeira até uma consultoria financeira com poucos cliques.

Desempenho das vendas online

Um capítulo à parte nesta história de sucesso é a revolução nos meios de pagamento, liderada soberanamente pelo Pix. Se em anos anteriores o boleto bancário era o vilão da conversão (pois “prendia” o estoque e muitas vezes não era pago), em 2025 o pagamento instantâneo consolidou-se como o queridinho de lojistas e clientes. O desempenho das vendas online foi turbinado por descontos adicionais — variando entre 5% e 15% — para quem optasse pelo Pix. Isso garantiu liquidez imediata para as empresas e evitou o problema do abandono de carrinho, tão comum em outras modalidades.

O cartão de crédito, no entanto, não morreu. Ele mudou de função. O parcelamento sem juros continuou sendo a alavanca fundamental para a compra dos itens de alto valor, como os já citados aparelhos de ar-condicionado e notebooks gamers. A convivência harmônica entre o Pix (para descontos à vista) e o cartão (para financiamento a longo prazo) permitiu que diferentes perfis de consumidores participassem da festa do consumo. Além disso, as carteiras digitais e o cashback (dinheiro de volta) funcionaram como ferramentas de retenção, fazendo com que o cliente gastasse o saldo acumulado na própria plataforma em uma segunda ou terceira compra no mesmo dia.

A logística também merece destaque no desempenho geral. O investimento massivo em centros de distribuição regionais e a “uberização” das entregas permitiram que o prazo de entrega, antes o grande gargalo, se tornasse um diferencial competitivo. Em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, a modalidade same day delivery (entrega no mesmo dia) foi amplamente utilizada. Receber o produto horas depois de clicar no botão “comprar” gerou uma satisfação imediata que retroalimentou as vendas. A eficiência na última milha (last mile) foi determinante para que o consumidor confiasse em fazer compras de última hora.

Lucro do varejo digital

O saldo final de R$ 4,76 bilhões traz um alívio necessário para os balanços das grandes varejistas, que vinham sofrendo com margens apertadas. O lucro do varejo digital nesta Black Friday não deve ser medido apenas pelo volume bruto de vendas, mas pela eficiência da operação. Com menos devoluções esperadas (devido a melhores descrições de produtos e reviews em vídeo) e um custo de aquisição de cliente (CAC) otimizado pelo uso de inteligência artificial na publicidade, a rentabilidade da operação tende a ser superior à de 2024.

Para o mercado financeiro, esses números são um sinal verde. As ações de empresas de e-commerce e logística devem reagir positivamente na abertura do pregão de segunda-feira, refletindo a capacidade de execução do setor. Além disso, o sucesso da data pavimenta o caminho para o Natal. Historicamente, uma Black Friday forte antecipa um Natal sólido, pois o consumidor que teve uma boa experiência de compra em novembro tende a retornar em dezembro para os presentes de família. O varejo, portanto, entra no último mês do ano com estoque girando e caixa reforçado.

Por fim, a mensagem que fica deste 29 de novembro é de resiliência e adaptação. O e-commerce brasileiro atingiu um nível de maturidade global, capaz de processar bilhões de reais em transações em poucas horas sem quedas sistêmicas graves e com uma operação logística de guerra. O consumidor, por sua vez, mostrou que, quando a proposta de valor é clara e o desconto é real, ele está disposto a abrir a carteira. A alta de 11% é mais do que um dado estatístico; é a prova de que a economia digital é o motor que, mesmo diante de desafios, continua a puxar o Brasil para frente.

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