A Caixa Econômica Federal anunciou, nesta terça-feira (9), uma mudança significativa para o mercado de habitação brasileiro. A instituição financeira voltou a permitir que clientes contratem mais de um financiamento imobiliário simultaneamente utilizando recursos da poupança (SBPE). Essa modalidade estava suspensa desde novembro de 2024, totalizando 13 meses de restrição severa ao crédito. A retomada visa atender à demanda reprimida de famílias e investidores, além de aquecer o setor da construção civil neste final de 2025. Durante o período de bloqueio, a regra impedia a concessão de novo crédito para quem já possuísse um contrato habitacional ativo, estendendo-se inclusive aos cônjuges, independentemente do regime de casamento.
Agora, essa barreira foi oficialmente eliminada. A partir desta semana, proponentes podem acumular financiamentos, desde que comprovem capacidade de pagamento compatível com as parcelas. O presidente da Caixa, Carlos Vieira, explicou que a medida foi viabilizada após o Banco Central alterar as normas sobre os depósitos compulsórios da poupança. Essa flexibilização regulatória liberou recursos que estavam travados, solucionando o descompasso entre a alta procura por imóveis e a escassez de funding no SBPE que motivou o bloqueio no ano anterior. Vieira destacou que a ação “fortalece a capacidade das instituições de manter o ritmo de concessões”.
Novas regras de habitação
As condições comerciais para essa retomada seguem parâmetros atrativos para o cenário atual. As operações realizadas com recursos do SBPE possuem saldo devedor corrigido pela Taxa Referencial (TR), com juros partindo de 10,99% ao ano. Além disso, o prazo de pagamento pode chegar a até 420 meses, ou seja, 35 anos, o que dilui o valor das parcelas e facilita o enquadramento na renda mensal do comprador. A medida não se restringe apenas a quem busca a casa própria, mas abre portas novamente para quem deseja investir em imóveis como forma de proteção patrimonial.
Contextualizando o cenário, a Caixa já havia implementado outras medidas de incentivo em outubro de 2025. O banco aumentou o teto do valor dos imóveis financiáveis pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH) de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões. Essa alteração ampliou significativamente o acesso de famílias de renda média e alta ao crédito com juros controlados. Somado a isso, a instituição voltou a financiar até 80% do valor do imóvel na modalidade SAC, exigindo uma entrada menor por parte do comprador, o que havia sido reduzido para 70% durante a crise de liquidez anterior.
Empréstimo para segundo imóvel
A possibilidade de contratar um segundo financiamento é vista pelo mercado como um motor para a economia em 2026. Analistas apontam que a restrição anterior travou muitos negócios, especialmente de pessoas que precisavam mudar de cidade, mas ainda não haviam vendido o imóvel anterior. Com a liberação, esse público volta a ter liquidez e poder de compra. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) já previa que, sem medidas de injeção de recursos, o volume de crédito poderia diminuir, mas a ação do Banco Central sobre os compulsórios reverteu essa expectativa negativa.
O impacto prático na vida do leitor é direto. Quem planejava comprar um imóvel de veraneio ou investir em uma segunda propriedade para aluguel agora encontra as portas do maior banco habitacional do país abertas. Antes, a única saída para esses casos era buscar taxas de mercado em bancos privados, que costumam ser mais elevadas, ou recorrer ao Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI) com condições menos vantajosas. A unificação das regras para o primeiro e o segundo imóvel simplifica o processo e democratiza o acesso ao patrimônio imobiliário novamente.
Aquisição de múltiplas propriedades
Por fim, é crucial entender que a sustentabilidade dessa medida depende da manutenção dos depósitos em poupança e da estabilidade da taxa Selic. O financiamento via SBPE utiliza justamente o dinheiro que os brasileiros guardam na caderneta. Quando os saques superam os depósitos, como ocorreu em 2024, o banco precisa frear os empréstimos. A “otimização do compulsório” mencionada pela diretoria da Caixa foi a ferramenta técnica encontrada para liberar dinheiro que estava parado nos cofres do Banco Central, devolvendo-o à circulação na forma de tijolo e cimento.
Portanto, o momento é de oportunidade, mas exige planejamento financeiro rigoroso. A aprovação de múltiplos financiamentos passará por uma análise de risco de crédito criteriosa, onde o comprometimento de renda não pode ultrapassar 30%. A Caixa reforça que os canais digitais e as agências já estão operando com as novas diretrizes. Para o consumidor, a recomendação é simular as condições no site oficial antes de fechar negócio, garantindo que as parcelas acumuladas caibam no orçamento familiar sem gerar inadimplência futura.
