Comunicado duro do Copom ‘empurra’ cortes da Selic para março, alerta Empiricus

Matheus Spiess aponta tom “hawkish” do Banco Central, cita “tripé econômico manco” por falta de âncora fiscal e recomenda cautela aos investidores com a renda fixa.

Em primeiro plano, destaca-se uma placa de mesa escura com a inscrição "Comitê de Política Monetária - COPOM" em letras brancas; ao fundo, fora de foco, observam-se membros do colegiado vestindo ternos sentados ao redor de uma grande mesa de madeira envernizada.
A decisão unânime do Copom manteve a taxa Selic em 15%, sinalizando que o combate à inflação exigirá juros altos por mais tempo, conforme alertado pela Empiricus. (Foto: Reprodução)

A decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros em 15% ao ano nesta quarta-feira (10) jogou um balde de água fria nas apostas mais otimistas do mercado financeiro. O comunicado oficial, desprovido de qualquer sinalização de afrouxamento iminente, foi classificado como “duro” por analistas, indicando que a batalha contra a inflação exigirá mais tempo de juros em patamares contracionistas. Para Matheus Spiess, estrategista da Empiricus Research, a mensagem foi clara: o início do ciclo de cortes da Selic, antes ventilado para janeiro, agora foi “empurrado” para março de 2026.

A avaliação da casa de análise é que o Banco Central optou pela prudência diante de um quadro macroeconômico onde a desancoragem das expectativas inflacionárias ainda preocupa. Spiess destaca que, ao não adotar uma comunicação “dove” (suave), a autoridade monetária reafirma seu compromisso técnico, ignorando pressões políticas por juros baixos no curto prazo. O documento citou explicitamente que a estratégia de manutenção da taxa por período prolongado se mostrou a mais adequada para assegurar a convergência da inflação, que deve fechar 2025 próxima ao teto da meta.

Com a Selic estacionada no maior nível desde 2006, o custo do crédito permanece elevado, impactando o consumo e os investimentos produtivos. No entanto, a leitura do mercado é que essa “dor” de curto prazo é o remédio amargo necessário para evitar que a inflação de serviços e os preços administrados saiam de controle no ano eleitoral que se avizinha.

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Rigor Monetário sem flexibilidade

O Rigor Monetário adotado pelo Banco Central surpreendeu parte dos agentes que esperavam ao menos um aceno para uma redução em janeiro. Segundo Spiess, o comunicado mostrou que “está tudo mantido” em termos de severidade, sem espaço para leniência com a alta dos preços. O texto do Copom enfatizou que os riscos para a inflação seguem “mais elevados do que o usual”, tanto para cima quanto para baixo, o que justifica a cautela extrema.

Esse Rigor Monetário se sustenta, em parte, pelos dados de atividade econômica que, embora mostrem desaceleração (o PIB cresceu apenas 0,1% no terceiro trimestre), ainda revelam uma resiliência que dificulta a queda de preços. O estrategista da Empiricus aponta que, paradoxalmente, os juros altos têm sido menos eficazes do que o esperado para frear a economia, justamente por causa dos estímulos fiscais concedidos pelo governo, que atuam na direção contrária à política monetária.

Cenário Fiscal como o “vilão”

Na visão da Empiricus, o Cenário Fiscal é a principal âncora que impede o voo da economia e a queda dos juros. Matheus Spiess utilizou uma metáfora forte para descrever a situação atual: o Brasil opera com um “tripé econômico manco”. Segundo ele, enquanto a perna monetária (juros) e a cambial (câmbio flutuante) funcionam, a perna fiscal está quebrada devido à falta de uma âncora credível de controle de gastos.

O analista argumenta que há fundamentos técnicos para a Selic estar em 15%, e a culpa recai sobre a “irresponsabilidade fiscal” que obriga o Banco Central a fazer um “trabalho dobrado”. Sem um compromisso claro do Executivo com o equilíbrio das contas públicas, o prêmio de risco exigido pelos investidores aumenta, mantendo a curva de juros futuros pressionada e impedindo que o Copom inicie o afrouxamento monetário sem colocar a meta de inflação em risco.

Expectativa de Juros para 2026

Com o adiamento, a Expectativa de Juros se realinha para o primeiro trimestre de 2026. A projeção agora consensual entre os mais realistas é de que o primeiro corte ocorra apenas na reunião de março. Até lá, o mercado viverá meses de ansiedade, monitorando cada dado do IPCA e cada declaração vinda de Brasília. A XP Investimentos, por exemplo, também vê março como o cenário base, embora não descarte janeiro se houver surpresas muito positivas nos dados de inflação, o que parece improvável dado o tom do comunicado.

A Expectativa de Juros terminais para 2026 também sofre ajustes. Grande parte dos analistas projeta que a Selic encerre o próximo ano ainda em dois dígitos, na casa dos 12%, indicando que o dinheiro continuará caro por um longo horizonte. Para o investidor, isso significa que a era da renda fixa “gorda” ganhou uma sobrevida importante, permitindo travar taxas atrativas por mais tempo.

Estratégia de Investimento recomendada

Diante desse quadro, a Estratégia de Investimento sugerida pela Empiricus e outras casas de análise reforça a atratividade da renda fixa. Títulos pós-fixados atrelados ao CDI continuam sendo o “porto seguro” ideal, entregando retornos de 1% ao mês com baixo risco e liquidez. Além disso, o momento é oportuno para títulos atrelados à inflação (IPCA+), que oferecem proteção contra a persistência da alta de preços e pagam juros reais elevados.

Na renda variável, a Estratégia de Investimento exige seletividade. Embora a Bolsa tenha fechado em alta reagindo ao corte de juros nos EUA, o cenário doméstico de juros travados em 15% retira liquidez das ações locais. A recomendação é focar em empresas de qualidade, com baixo endividamento e boa geração de caixa, capazes de atravessar esse deserto de juros altos sem depender de crédito barato. O investidor deve evitar a euforia e manter uma carteira diversificada, pois a volatilidade promete ser a única certeza até março.

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