A Smart Fit (SMFT3), maior rede de academias da América Latina, anunciou na manhã desta terça-feira (02) um movimento agressivo para consolidar sua liderança no mercado nacional. A companhia comunicou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a aquisição do controle acionário da rede Evolve, com um aporte que pode chegar a R$ 100 milhões. O negócio, que envolve a compra de pelo menos 60% do capital social da empresa, marca uma ofensiva estratégica da gigante liderada por Edgard Corona na região Centro-Oeste, especificamente no Distrito Federal, onde a Evolve possui uma operação robusta e bem posicionada. A transação reflete o apetite voraz da Smart Fit por expansão inorgânica, combinando crescimento acelerado com a captura de pontos comerciais premium em praças de alta renda.
Aquisição da rede Evolve
O acordo firmado prevê que a Smart Fit subscreva novas ações da Evolve Participações em Sociedades S.A., injetando capital diretamente na companhia adquirida. Do valor total de R$ 100 milhões, uma parcela inicial de R$ 40 milhões será desembolsada já no fechamento da transação. O saldo remanescente será pago ao longo de dois anos, condicionado ao cumprimento de determinadas metas operacionais e financeiras estabelecidas em contrato, além de ser corrigido pela inflação (IPCA). Essa estrutura de pagamento, conhecida como “earn-out”, protege o caixa da Smart Fit e alinha os interesses dos antigos sócios com o crescimento sustentável do negócio sob a nova gestão.
A Evolve não é uma operação pequena; trata-se de um ativo valioso com 28 academias em pleno funcionamento e outras sete unidades já em fase de construção. A rede tem forte presença no Distrito Federal, um mercado cobiçado devido à alta renda per capita e à demanda constante por serviços de bem-estar. Ao incorporar essas unidades, a Smart Fit elimina um concorrente regional relevante e ganha, de uma só vez, dezenas de pontos prontos para operar, evitando a burocracia e a demora típicas da construção de novas lojas do zero. O movimento é cirúrgico: comprar pronto para crescer rápido.
Além da transferência de controle, o contrato estabelece um Acordo de Acionistas que definirá a governança corporativa da Evolve daqui para frente. Esse documento inclui opções de compra (call) e venda (put) que permitirão à Smart Fit adquirir, no futuro, a totalidade das ações que hoje permanecem nas mãos dos sócios minoritários. Isso significa que, na prática, a Evolve caminha para se tornar integralmente uma subsidiária da Smart Fit nos próximos anos, seguindo o roteiro clássico de M&A (fusões e aquisições) que a empresa tem executado com maestria em outros mercados da América Latina.
Para o mercado financeiro, a notícia foi recebida como um sinal de força e disciplina de capital. A avaliação da Evolve (Enterprise Value) foi fixada em R$ 199,7 milhões, um múltiplo que analistas consideram atrativo dado o potencial de sinergias. A Smart Fit utilizará sua escala para reduzir custos operacionais da Evolve, negociando melhores contratos de energia, aluguel e equipamentos, o que deve aumentar rapidamente a margem de lucro das unidades adquiridas. A eficiência operacional da Smart Fit é sua marca registrada, e a aplicação desse “manual de gestão” na Evolve deve destravar valor significativo no curto prazo.
Expansão da marca Smart Fit
A estratégia por trás dessa compra vai muito além de apenas somar número de lojas; trata-se de densificação de mercado. A Smart Fit já opera com um modelo de “cluster”, onde busca dominar certas regiões geográficas para criar uma barreira de entrada para competidores. Ao adquirir a Evolve, a empresa fecha o cerco no Distrito Federal, dificultando a vida de outras redes low-cost ou mid-market que tentem entrar na região. Com mais unidades, a marca ganha visibilidade, poder de precificação e oferece mais conveniência ao aluno, que pode treinar em diversas localizações com o plano Black.
O histórico recente da companhia mostra que esse apetite por compras não é um evento isolado. Recentemente, a empresa já havia adquirido a rede de estúdios Velocity e a Just Fit, demonstrando que seu caixa está robusto e sua equipe de expansão trabalha em ritmo frenético. A compra da Evolve se encaixa perfeitamente no guidance (projeção) da empresa, que prevê a abertura de até 360 novas academias em 2025. Adquirir uma rede pronta acelera o cumprimento dessa meta e entrega resultados mais rápidos aos acionistas do que o crescimento puramente orgânico.
A integração das marcas será um ponto crucial a ser observado nos próximos meses. Embora a Smart Fit tenha expertise em padronização, a Evolve possui uma identidade própria e uma base de clientes fidelizada. A decisão sobre manter a bandeira Evolve ou convertê-la totalmente para o padrão visual amarelo e preto da Smart Fit dependerá de estudos de marca e público-alvo. Em aquisições anteriores, como a da Just Fit, a transição foi gradual para não causar ruptura no relacionamento com os alunos. A gestão da mudança será vital para garantir que os alunos da Evolve percebam a chegada da Smart Fit como uma melhoria, e não apenas como uma troca de CNPJ.
Vale destacar que a operação não precisará passar pelo crivo da assembleia de acionistas da Smart Fit, pois não se enquadra nos critérios do artigo 256 da Lei das S.A., o que agiliza o processo. No entanto, a conclusão do negócio ainda está sujeita à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Dada a fragmentação do mercado de academias no Brasil, é improvável que o órgão antitruste imponha restrições severas, mas a análise é uma etapa regulatória obrigatória que deve levar algumas semanas ou meses.
Investimento no Centro-Oeste
O foco no Centro-Oeste revela uma leitura inteligente das oportunidades econômicas do Brasil. Enquanto o eixo Rio-São Paulo já se encontra bastante saturado em termos de academias de rede, o Centro-Oeste, impulsionado pelo agronegócio e pelo funcionalismo público de Brasília, apresenta uma classe média com alto poder de consumo e demanda reprimida por serviços de qualidade. A Evolve soube capturar esse público com academias bem localizadas e equipamentos modernos, criando um ativo que se tornou “a noiva” ideal para a Smart Fit.
A injeção de R$ 40 milhões no caixa da Evolve logo na assinatura do contrato permitirá que a rede regional finalize as sete obras em andamento e, possivelmente, inicie novas frentes de expansão sob a tutela da nova controladora. Isso gera um ciclo virtuoso de investimento e emprego na região, movimentando a construção civil e o mercado de trabalho local. Para o consumidor do Distrito Federal, a chegada oficial da gestão Smart Fit pode significar, no futuro, acesso a tecnologias como o Smart Fit App, treinos online e a possibilidade de usar academias em toda a América Latina.
A concorrência local, formada majoritariamente por academias de bairro e estúdios menores, sentirá o impacto. A chegada de um player com capital infinito e capacidade de marketing agressiva tende a elevar a régua do setor, forçando os pequenos a se especializarem ou a baixarem preços. Esse fenômeno de consolidação é natural em mercados maduros e beneficia, em última análise, o consumidor, que passa a ter acesso a serviços melhores por preços mais competitivos. A “Smartfitização” do fitness brasileiro segue avançando, agora com um capítulo decisivo no coração do país.
Outro ponto relevante é a sinergia com outras verticais do grupo. A Smart Fit não é mais apenas uma academia de musculação; ela possui ecossistemas de nutrição (Smart Fit Nutri), vestuário e suplementação. A base de alunos da Evolve, agora integrada, torna-se um novo mercado consumidor para esses produtos auxiliares, aumentando o “share of wallet” (fatia da carteira) que a empresa captura de cada cliente. A inteligência de dados da Smart Fit permitirá mapear o comportamento desses novos alunos e oferecer produtos personalizados, maximizando a receita por usuário (ARPU).
Negócio milionário no fitness
A cifra de R$ 100 milhões impressiona, mas é compatível com os números superlativos que a Smart Fit movimenta na Bolsa de Valores (B3). Com um valor de mercado na casa dos bilhões, a empresa utiliza sua ação valorizada e seu acesso a crédito barato para comprar crescimento. Em um cenário de juros (Selic) ainda em patamares que exigem cautela, ter caixa e coragem para fazer aquisições desse porte separa os líderes dos seguidores. A Smart Fit demonstra, com essa compra, que sua visão é de longo prazo e que a volatilidade econômica momentânea não altera seu plano de voo.
O mercado de capitais reagiu com atenção aos detalhes do “valuation”. Pagar cerca de R$ 200 milhões (considerando o valor da empresa inteira) por 35 unidades (28 prontas + 7 em obras) sugere um custo por loja que o mercado considera razoável, especialmente se comparado ao custo de construção e maturação de uma unidade nova em ponto nobre de Brasília. O retorno sobre o capital investido (ROIC) dessa operação tende a ser alto, dado que as academias já possuem fluxo de caixa ativo e clientela formada. É o tipo de negócio que agrada analistas fundamentalistas: risco controlado e potencial de valorização claro.
Por fim, a aquisição da Evolve reforça a tese de que o setor de bem-estar e saúde continua sendo um dos mais resilientes da economia global. Mesmo em tempos de crise, as pessoas não deixam de buscar saúde, e a pandemia apenas acelerou a consciência sobre a importância da atividade física. A Smart Fit, ao se posicionar como a consolidadora desse mercado na América Latina, garante sua perpetuidade. A compra da Evolve é mais uma peça no quebra-cabeça gigante que Edgard Corona está montando, transformando a empresa na “Netflix” das academias: onipresente, acessível e indispensável.
Conclui-se que o dia 02 de dezembro de 2025 ficará marcado como o momento em que a Smart Fit fincou sua bandeira de forma definitiva no Centro-Oeste. Para os acionistas, é promessa de dividendos futuros; para os concorrentes, é sinal de alerta máximo; e para os alunos da Evolve, é o início de uma nova era, agora sob o guarda-chuva da maior rede fitness do continente. O jogo virou, e a Smart Fit está, mais do que nunca, dando as cartas.
