O presidente Donald Trump anunciou nesta quinta-feira a remoção de uma sobretaxa de 40 % sobre exportações agrícolas brasileiras, entre elas o café, a carne e frutas tropicais. A decisão faz parte de uma manobra voltada a amenizar a inflação nos Estados Unidos e restabelecer laços comerciais com o Brasil. A tarifa havia sido imposta no meio do ano em meio a tensões diplomáticas, mas agora o governo americano sinaliza recuo e abertura. A medida entra em vigor de forma retroativa a 13 de novembro e poderá gerar devoluções de valores recolhidos.
Contexto e razão da tarifa inicial
Em julho de 2025, o governo dos EUA elevou as taxas sobre produtos brasileiros em até 50 %, causando forte pressão sobre setor agroexportador nacional. A justificativa oficial incluía acusações de práticas comerciais desleais e questões políticas envolvendo o Brasil. Com isso, o café brasileiro — que representa boa parcela do consumo americano — ficou sujeito à sobretaxa. O impacto foi sentido tanto no Brasil quanto nos EUA, onde os preços ao consumidor de café chegaram a subir cerca de 40% em alguns segmentos.
Com a retirada da sobretaxa de 40 %, importadores americanos classificarão os produtos brasileiros agrícolas sob tarifa normal, o que potencialmente reativa vendas represadas em armazéns aduaneiros. No Brasil, exportadores comemoram a medida, mas muitos alertam para o fato de que parte da sobretaxa ainda ficou em efeito para determinados itens ou que a recuperação de mercado pode demorar. Enquanto isso, consumidores nos EUA podem vir a pagar menos por café e carne importados, o que era parte do objetivo americano ao recuar.
Principais produtos afetados
Os itens mais visados na medida são o café (especialmente o tipo arábica), cortes de carne bovina e frutas tropicais que compõem importante parcela das exportações brasileiras aos EUA. Essas categorias foram citadas expressamente no anúncio e são vistas como símbolo do comércio entre os dois países. A queda de barreiras tarifárias representa alívio para produtores brasileiros e importadores americanos. Porém, setores alertam que competitividade ainda depende de outros fatores como câmbio, logística e custos de produção.
No Brasil, autoridades governamentais e associações de exportadores saudaram a iniciativa, mas também mostraram cautela. O vice-presidente destacou que, apesar do avanço, ainda há produtos enquadrados em sobretaxas consideradas “distorsivas”. Os produtores brasileiros enfatizam a necessidade de aproveitar a brecha para consolidar mercados alternativos, diversificar parceiros e reduzir dependência de tarifas favoráveis. Analistas ressaltam que recuperar participação no mercado americano demanda mais do que redução tarifária — envolve qualidade, regularidade de fornecimento e ajustes de custo.
Crítica à eficácia e ao timing da medida
Embora a retirada da sobretaxa seja considerada vitória para o Brasil, críticos apontam que o recuo vem após meses de impacto negativo sobre exportações e cadeias produtivas. A alta tarifa inicial gerou perdas, cancelamentos de contratos e mudança de fornecedores por parte de importadores estadunidenses. Esse atraso na reversão pode ter permitido a concorrentes avançarem em participação de mercado, o que pode dificultar recuperação plena. Além disso, há questionamentos sobre se a medida era motivada mais por pressões domésticas nos EUA do que por boa-vontade diplomática.
A ação de Trump indica que o Brasil recupera espaço depois de período de tensão comercial, mas também deixa claro que tarifas podem variar conforme interesses políticos e econômicos de Washington. Isso reforça a necessidade de estratégias brasileiras de longo prazo, menos dependentes de decisões externas. Para o setor exportador, abre-se janela de oportunidade para reforçar competitividade e explorar novos acordos. Já para os EUA, significa alívio inflacionário e melhora de imagem em setores sensíveis como alimentos e bebidas.
O que esperar nos próximos meses
Agora que a sobretaxa foi retirada, fica a expectativa sobre negociações adicionais que possam reduzir ou eliminar tarifas residuais, consolidar contratos e reverter perdas. O Brasil deverá intensificar esforços diplomáticos e comerciais para garantir que a retomada seja rápida. Ainda assim, importadores americanos poderão exigir garantias — como volumes, prazos e qualidade — antes de retomar compras em grande escala. Do mesmo modo, produtores brasileiros terão de ajustar estrutura de custos, verificar logística e assegurar competitividade.
A redução da sobretaxa de 40 % pelos EUA sobre produtos agrícolas brasileiros representa um passo relevante para normalizar o comércio entre os dois países. No entanto, a demora, os impactos já sofridos e a necessidade de recuperação do terreno perdido colocam em relevo que a medida, embora positiva, não é solução completa. A competitividade brasileira agora será testada em prática, e resta ver se o país aproveitará a oportunidade para consolidar presença internacional ou se continuará vulnerável a novos episódios de instabilidade tarifária.