Os cinemas dos Estados Unidos registraram, em outubro de 2025, o pior resultado de bilheteria em 30 anos, segundo dados preliminares do portal especializado Box Office Mojo. O faturamento total ficou abaixo de US$ 320 milhões, valor muito inferior à média histórica do mês, tradicionalmente impulsionado por estreias de suspense, ficção científica e dramas de prestígio voltados ao Oscar.
O declínio acentuado ocorreu após uma série de fracassos comerciais consecutivos, que afetaram grandes estúdios e colocaram em dúvida a recuperação completa da indústria após a pandemia e as greves de roteiristas e atores de 2023.
Fracassos de alto orçamento marcam o mês
Entre os principais títulos responsáveis pelo fraco desempenho, destacam-se “Tron: Ares”, produção da Disney com orçamento estimado em US$ 250 milhões, e “The Smashing Machine”, drama estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson. Ambos tiveram desempenho decepcionante e não conseguiram cobrir seus altos custos de produção e marketing.
Críticos apontam que a saturação de franquias e a falta de roteiros originais têm afastado o público das salas. Além disso, o interesse crescente por plataformas de streaming e o encarecimento dos ingressos reduziram a frequência, especialmente entre os jovens adultos.
Hollywood enfrenta esgotamento de fórmulas
Analistas de mercado afirmam que os grandes estúdios estão pagando o preço de uma dependência excessiva de sequências e reboots. O público, cada vez mais exigente, tem demonstrado desinteresse por produções previsíveis e voltadas apenas ao espetáculo visual.
Estudos da Entertainment Research Group mostram que a audiência de filmes baseados em franquias caiu 17% em comparação com 2024, enquanto produções independentes e dramas originais registraram aumento de interesse em festivais, mas sem o mesmo impacto comercial.
Produções menores ganham espaço
Enquanto os blockbusters enfrentam um cenário desolador, filmes de médio e baixo orçamento começaram a ocupar brechas no mercado. Títulos como The Culling, suspense psicológico da A24, e o drama Lost at Sunset receberam boas críticas e atraíram público fiel, embora sem força para reverter o quadro geral.
Produtores independentes enxergam nesse cenário uma oportunidade de reposicionar o cinema autoral como alternativa ao desgaste das grandes franquias. Segundo o analista Jeff Bock, “Hollywood está em um ponto de inflexão; quem inovar sobrevive”.
Crise reflete em cortes e reestruturações
Com o cenário adverso, estúdios começaram a anunciar redução de orçamentos e demissões em departamentos de marketing e efeitos visuais. Executivos da Warner Bros. e da Paramount admitiram que estão revisando seus cronogramas de lançamentos e considerando adiar estreias para 2026.
O impacto também é sentido em circuitos internacionais, já que muitas distribuidoras dependem das estreias norte-americanas para o calendário global. No Brasil, redes de cinema relatam uma queda de 12% na venda de ingressos em relação ao mesmo período de 2024.
Perspectivas para o fim de 2025
Mesmo com o tom pessimista, analistas ainda veem potencial de recuperação nos últimos meses do ano. Títulos aguardados como Gladiator II, Sonic 3 e Mufasa: The Lion King podem reacender o interesse do público e evitar que 2025 se torne o pior ano da história moderna do cinema.
Ainda assim, a indústria reconhece que precisa de renovação criativa e equilíbrio entre arte e mercado. O alerta de outubro serve como ponto de reflexão sobre o futuro do entretenimento em tela grande.
Crítica e reflexão sobre o cenário atual
A queda histórica da bilheteria reforça uma tendência preocupante: Hollywood se tornou vítima do próprio gigantismo. A busca por sucessos garantidos levou à repetição de fórmulas que, embora lucrativas no passado, hoje demonstram sinais de esgotamento.
A insistência em franquias e remakes pode ter enfraquecido a conexão emocional com o público. Como resumiu a crítica Rebecca Keegan, da Variety, “o problema não é o cinema, mas a falta de coragem de arriscar histórias novas”.