Criação do título Kill Bill: The Whole Bloody Affair traz cenas inéditas e final alternativo

Tarantino lança corte definitivo de 4 horas com luta colorida, animes inéditos e mudanças na narrativa que transformam a experiência da vingança da Noiva, confira os detalhes.

Uma Thurman como a Noiva, vestindo macacão amarelo e empunhando uma katana, cercada por membros da gangue Crazy 88.
Uma Thurman enfrenta o exército dos Crazy 88 na sequência que ganha versão colorida no novo corte (Foto: Reprodução/Miramax).

A aguardada união dos dois volumes da saga de vingança de Quentin Tarantino finalmente chegou aos cinemas norte-americanos em dezembro de 2025, trazendo mudanças substanciais que redefinem a obra. “Kill Bill: The Whole Bloody Affair” não é apenas uma colagem dos filmes de 2003 e 2004, mas sim a concretização da visão original do cineasta, apresentada agora como um épico contínuo de mais de quatro horas de duração. A principal novidade técnica, que salta aos olhos logo na primeira metade, é a restauração completa da sequência da “Casa das Folhas Azuis”.

Anteriormente exibida em preto e branco no ocidente para evitar a censura NC-17, a batalha de Beatrix Kiddo contra os Crazy 88 agora é mostrada em cores vibrantes e gloriosas. O vermelho do sangue contrasta intensamente com o amarelo do macacão da protagonista e o azul do cenário, entregando a violência estilizada que Tarantino sempre planejou. Além da colorização, a sequência inclui tomadas alternativas e ângulos mais explícitos, elevando o nível de brutalidade artística que se tornou a assinatura da franquia ao longo das últimas duas décadas.

A experiência de assistir à obra sem a interrupção de meses entre os volumes altera fundamentalmente a percepção do ritmo e da construção da narrativa. O que antes parecia dois filmes com tons distintos — um focado na ação frenética oriental e outro no drama western — agora se funde em uma jornada de transformação orgânica. A transição entre os estilos se torna uma evolução natural do estado de espírito da Noiva, guiando o espectador por uma odisseia cinematográfica fluida.

Corte estendido Tarantino

Uma das alterações mais significativas nesta versão diz respeito à estrutura narrativa e à revelação de segredos cruciais da trama, que mudam a experiência emocional do público. O famoso gancho final do Volume 1, onde Bill revela que a filha da Noiva está viva, foi completamente removido desta montagem unificada. A decisão editorial de Tarantino transforma o suspense em uma bomba relógio dramática, alinhando a descoberta do público com a da própria protagonista no clímax da história.

Essa mudança estrutural fortalece o impacto do encontro final entre Beatrix e Bill, tornando o momento de descoberta da maternidade muito mais visceral e surpreendente. Sem a antecipação criada pelo cliffhanger original, a jornada de vingança da Noiva ganha um tom ainda mais trágico e cego, pois o espectador compartilha de sua ignorância sobre o destino de B.B. até o último segundo. Isso recontextualiza toda a violência perpetrada na segunda metade do filme sob uma nova luz.

Além disso, a introdução do Volume 2, que contava com um monólogo da Noiva dirigindo um carro em preto e branco, também foi suprimida para manter a continuidade direta. A narrativa flui agora sem as recapitulações que eram necessárias quando os filmes foram lançados separadamente, criando uma imersão ininterrupta. O filme conta com um intervalo clássico de 15 minutos, posicionado estrategicamente para evocar a experiência das grandes exibições de cinema do passado.

Lançamento integral sangrento

Para os fãs da estética anime, esta versão oferece um presente inestimável com a expansão considerável do segmento animado que conta a origem de O-Ren Ishii. Produzida pelo renomado estúdio Production I.G, a sequência ganhou cerca de sete minutos adicionais de material inédito, aprofundando a brutalidade e a complexidade da história pregressa da vilã. As novas cenas mostram com detalhes gráficos a vingança da jovem O-Ren, incluindo execuções mais viscerais que haviam sido cortadas.

O detalhamento da violência no segmento animado não é gratuito; ele serve para espelhar a jornada da própria Noiva, criando paralelos temáticos mais fortes entre heroína e antagonista. A adição de cenas como a do elevador e a morte gráfica do Chefe Matsumoto adicionam camadas de textura ao universo do filme. A violência animada, livre das restrições do live-action, permite a Tarantino explorar o exagero visual como ferramenta narrativa de forma ainda mais livre.

Outro detalhe mórbido que foi restaurado é o destino de Sofie Fatale, a advogada e braço direito de O-Ren Ishii, que sofre ainda mais nas mãos da Noiva. Nesta versão, é mostrado explicitamente que Beatrix corta o outro braço de Sofie durante o interrogatório, uma cena que havia sido apenas sugerida na versão teatral original. Esses pequenos acréscimos de gore pontuam o filme, reforçando a natureza implacável da missão de vingança e a determinação inabalável da protagonista.

Obra definitiva atualizada

Talvez a adição mais polêmica e comentada desta nova versão seja o conteúdo pós-créditos intitulado “The Lost Chapter: Yuki’s Revenge”. Trata-se de um curta-metragem animado, criado utilizando a engine do jogo Fortnite, que narra a busca de vingança de Yuki Yubari, irmã gêmea da personagem Gogo Yubari. Baseado em um roteiro descartado do filme original, este segmento extra divide opiniões por sua estética moderna e distinta do restante da obra.

Apesar da controvérsia visual, o segmento serve para expandir o lore do universo de Kill Bill, mostrando que as consequências da violência da Noiva geram novos ciclos de vingança. A escolha de usar uma tecnologia de videogame para contar essa história demonstra o desejo contínuo de Tarantino de experimentar com diferentes mídias e formatos. Contudo, para muitos puristas, a diferença de estilo pode parecer um anacronismo dentro de uma obra que homenageia o cinema dos anos 70 e 80.

Em suma, “Kill Bill: The Whole Bloody Affair” se estabelece como a visão pura e não diluída de um dos maiores diretores contemporâneos. Com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes em sua semana de estreia, a obra reafirma sua relevância cultural e sua capacidade de encantar e chocar novas gerações. Seja pela restauração das cores, pela reestruturação dramática ou pelas novas sequências animadas, esta versão é um convite obrigatório para revisitar a saga da Noiva sob a perspectiva definitiva de seu criador.

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