A notícia caiu como uma bomba silenciosa, mas potente, nos corredores atapetados de Brasília neste sábado (29). Gilmar Mendes, o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), e Guiomar Feitosa, advogada e uma das figuras mais articuladas da capital federal, anunciaram o fim de seu casamento de 18 anos. Considerados por quase duas décadas como o “casal do poder” no judiciário brasileiro, a separação marca o encerramento de um ciclo na vida social e política da Corte, mas promete manter intacta a parceria que transcende o matrimônio. Em um gesto que desafia as convenções de términos litigiosos, ambos embarcaram juntos para a Europa logo após a decisão, reafirmando que a amizade de meio século permanece inabalável.
A confirmação veio através de declarações à imprensa, onde o tom de maturidade e respeito mútuo foi o protagonista. Não houve notas oficiais frias ou especulações sobre crises intempestivas. O que se viu foi a naturalidade de duas pessoas que, após compartilharem uma vida e construírem um império de influência, decidiram reconfigurar a relação. Para os observadores da cena política de Brasília, o rompimento de Gilmar e Guiomar não é apenas uma nota de coluna social; é uma mudança na geografia dos bastidores do poder, onde os jantares promovidos pelo casal eram, muitas vezes, mais decisivos do que as sessões plenárias.
O fim de uma era em Brasília
Para entender o peso dessa separação, é preciso compreender quem eram Gilmar e Guiomar juntos. Eles não eram apenas marido e mulher; formavam uma instituição. A casa do casal no Lago Sul foi, durante anos, o epicentro de encontros que reuniam a nata da política nacional, juristas, empresários e intelectuais. Guiomar, com sua elegância discreta e inteligência afiada, era a anfitriã perfeita, capaz de navegar com fluidez entre diferentes espectros ideológicos, costurando relações e apaziguando ânimos. Gilmar, com sua verve polêmica e erudição jurídica, encontrava nela o contraponto e o suporte necessários para enfrentar as tempestades constantes de sua vida pública.
A frase dita por Guiomar à jornalista Mônica Bergamo — “Cansamos de ser casados, mas não cansamos, e jamais cansaremos, de ser amigos” — resume a essência dessa transição. Ela reflete uma sofisticação emocional rara, especialmente em um ambiente onde o poder costuma inflar egos e tornar rupturas traumáticas. O “familião”, como Guiomar costumava descrever a união que agregava filhos e netos de relacionamentos anteriores, não deve se desfazer. A estrutura familiar e social que eles montaram parece sólida o suficiente para sobreviver à mudança de estado civil, mantendo a convivência e o respeito como pilares centrais.
A advogada por trás do ministro
Guiomar Feitosa nunca foi apenas a “esposa do ministro”. Sua trajetória própria e sua influência nos bastidores lhe renderam, à boca miúda, o apelido de “12ª ministra” do Supremo em certos círculos, tamanha era sua capacidade de articulação e trânsito livre entre os gabinetes. Conhecida por sua competência técnica e por um networking invejável, ela construiu uma carreira sólida que correu em paralelo à ascensão de Gilmar, mas que muitas vezes se entrelaçou com ela nos salões do poder. Sua presença era vista como um fator de estabilidade e sofisticação, humanizando a figura muitas vezes austera do decano.
A amizade entre os dois remonta aos tempos da Universidade de Brasília (UnB), na década de 1970, onde se conheceram ainda jovens estudantes de Direito. Essa base histórica, construída muito antes da fama e dos cargos de alto escalão, explica a solidez do vínculo que agora se transforma. Eles viram um ao outro crescer, casaram-se com outras pessoas, tiveram filhos, separaram-se e, só então, reencontraram-se para viver esse casamento de quase duas décadas. Essa profundidade de conhecimento mútuo é o que permite, segundo amigos próximos, que eles viagem juntos para a Europa logo após assinarem o divórcio, sem o constrangimento habitual de ex-casais.
Gilmar Mendes: O decano solteiro
Para Gilmar Mendes, a separação chega em um momento de consolidação absoluta de seu poder no STF. Como decano, ele é a voz mais influente da Corte, um farol jurídico que guia discussões complexas e atua como um poder moderador em crises institucionais. Sua vida pessoal, sempre resguardada mas inevitavelmente pública, agora entra em uma nova fase. A imagem do ministro, muitas vezes associada à combatividade no plenário, ganha agora nuances mais pessoais com a revelação desse desfecho amigável. A “solteirice” do ministro, no entanto, não deve alterar sua rotina de trabalho ou sua postura incisiva nos julgamentos.
A viagem à Europa, que inclui passagens por Lisboa e Roma para eventos acadêmicos e jurídicos, serve como uma demonstração pública de normalidade. Gilmar continua sendo o gigante jurídico que transita internacionalmente, e Guiomar continua sendo sua parceira intelectual e social nessas jornadas. O rompimento do laço conjugal não significa o fim da parceria estratégica que ambos representam. Em Brasília, onde as aparências muitas vezes valem mais que a realidade, a manutenção dessa proximidade envia um sinal claro de força e estabilidade emocional, blindando ambos de fofocas maldosas ou especulações sobre “terceiras pessoas”.
Bastidores e repercussão política
Nos grupos de mensagens de advogados e políticos, a notícia foi recebida com surpresa, mas logo seguida de admiração pela forma como foi conduzida. “Civilidade” é a palavra que mais circula nas análises de bastidores. Em um país polarizado, onde divergências viram guerras, o exemplo de Gilmar e Guiomar soa quase contracultural. Eles mostram que é possível encerrar ciclos sem destruir o passado. A separação também levanta questões pragmáticas sobre a dinâmica social de Brasília: quem organizará agora os famosos jantares? A resposta parece ser: os dois, talvez em novos formatos, mas com a mesma influência.
A comunidade jurídica também observa se haverá alguma mudança na atuação profissional de Guiomar ou se ela se afastará de certos círculos. Contudo, dado seu histórico e conexões independentes, é improvável que ela deixe de ser uma protagonista na capital. A separação de corpos não implica separação de mentes ou de propósitos. O casal pode ter desfeito a aliança matrimonial, mas a aliança política e afetiva que os une há 50 anos parece indestrutível. Brasília perde um “casal oficial”, mas mantém uma dupla de poder que, mesmo em casas separadas, continuará a influenciar os rumos da República.
O legado de uma união poderosa
Ao olharmos para os 18 anos de união de Gilmar e Guiomar, vemos um período de intensa transformação no Brasil, do qual eles foram testemunhas e, muitas vezes, agentes ativos. Eles navegaram juntos por impeachments, operações policiais históricas, crises entre poderes e mudanças de governo. A casa do casal foi bunker e salão de festas da democracia brasileira. Esse legado de convivência intensa não se apaga com uma assinatura de divórcio. Fica a memória de uma parceria que soube misturar afeto e poder como poucas na história recente do país.
Por fim, a mensagem que fica é a de que relacionamentos longos podem, sim, terminar bem. A viagem para a Europa não é uma fuga, mas uma celebração do que resta: a amizade. Gilmar e Guiomar ensinam, com este último ato de seu casamento, uma lição de classe e inteligência emocional. A vida segue em Brasília, o Supremo continua suas sessões, e o decano e a advogada seguem seus caminhos, agora paralelos, mas nunca distantes. O “casal do poder” acabou; viva a “amizade do poder”.
