O último sábado entrou para a história do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) pelas piores razões. Segundo dados preliminares de audiência obtidos por fontes de mercado na Grande São Paulo, a emissora de Silvio Santos atingiu o seu pior índice de Ibope em mais de quatro décadas, registrando uma média catastrófica que expõe a profunda crise de programação e relevância que o canal enfrenta. O colapso foi sentido em toda a grade, desde os programas da tarde até a faixa mais competitiva da noite.
A média geral da emissora no último sábado teria ficado em torno de 2,5 pontos, um número que coloca o SBT não apenas atrás da Globo e da Record, mas o aproxima perigosamente da Band em determinados momentos. O número é considerado um marco negativo, pois remete a patamares de audiência que a emissora não via desde o início da década de 1980, quando o canal ainda estava em fase de consolidação nacional.
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O problema foi generalizado. Nenhum dos programas conseguiu se destacar, e a queda de audiência foi se agravando ao longo do dia. O pico da crise foi registrado no horário nobre, onde a emissora viu a Record disparar na vice-liderança com folga, ampliando a distância para mais de 5 pontos em alguns momentos. Analistas de mídia apontam que o SBT está pagando o preço de anos de investimentos insuficientes em formatos originais e da dependência excessiva de reprises e programas de auditório desgastados.
Os Vilões da Queda: Programação Repetitiva e Desinteresse do Público
A crise de sábado é um sintoma claro de problemas estruturais na grade da emissora. O sábado, historicamente, é um dia crucial para o faturamento do SBT, dominado por atrações de auditório e novelas, que costumavam garantir a vice-liderança estável. O cenário atual, contudo, mostra a saturação do público com o formato.
Um dos fatores apontados é a falta de renovação dos programas. O público estaria migrando para a concorrência em busca de reality shows mais modernos, jornalismo investigativo e formatos de entretenimento que o SBT não consegue oferecer de forma competitiva. A decisão de manter longas reprises no horário da tarde, que já não geram o mesmo engajamento de antigamente, contribuiu diretamente para o piso histórico.
A faixa da noite, que deveria ser o motor da audiência, foi particularmente atingida. Enquanto a Record investe em produções de alto custo e programas com impacto nas redes sociais, o SBT parece ter se acomodado em uma programação previsível. A falta de um “hit” ou de um programa que gere burburinho nas redes é um sinal de alerta vermelho para o departamento comercial, que agora terá dificuldades em vender o espaço publicitário para o fim de semana.
A Dança das Cadeiras: Consequências Internas e o Futuro
A repercussão interna do pior Ibope em décadas é de crise profunda. Há relatos de que a alta cúpula do SBT, incluindo os executivos responsáveis pela programação, está sob pressão máxima. A perda de audiência não é apenas uma questão de ego, mas de milhões de reais em faturamento. A publicidade no Brasil é vendida com base na audiência, e o SBT corre o risco de perder grandes anunciantes que buscam o público mais qualificado que está migrando para a concorrência ou para as plataformas de streaming.
A crise de sábado acelera os rumores de uma reestruturação drástica na programação. Especula-se que o SBT possa estar avaliando a compra de novos formatos internacionais ou a contratação de apresentadores de peso do mercado para tentar reverter a situação. No entanto, essas movimentações exigem grandes investimentos, algo que a emissora tem evitado nos últimos anos.
Analistas de mercado sugerem que o SBT precisa urgentemente rejuvenescer sua grade e se reconectar com o público jovem, que praticamente abandonou a televisão aberta aos sábados. A tentativa de explorar novos nichos ou de investir em reality shows de baixo custo não tem sido suficiente para competir com o poder de fogo da Globo e a estratégia assertiva da Record.
O Comparativo: Record e a Vice-Liderança Consolidada
O desastre do SBT contrasta diretamente com o bom desempenho da Record, que consolidou sua posição como vice-líder de audiência no sábado. A estratégia da emissora de Edir Macedo, que combina jornalismo forte (com programas como o Jornal da Record e especiais investigativos) com produções bíblicas e reality shows de impacto, provou ser eficaz para reter o público.
A distância entre Record e SBT no sábado, que antes era uma disputa apertada, agora é um abismo. A crise no SBT significa que a Record tem mais poder de negociação com os anunciantes, capitalizando a audiência que o concorrente perde. Para o mercado, o SBT perdeu o status de “canal curinga” que oferecia uma alternativa real à Globo.
Se a tendência de queda continuar, o SBT poderá ser forçado a tomar decisões extremas, como a redução do número de horas de programação local, aumentando a compra de enlatados para cortar custos, o que, ironicamente, pode aprofundar ainda mais a crise de audiência, criando um ciclo vicioso.
Impacto no Cenário da Mídia Nacional
A derrocada do SBT aos sábados é um reflexo da mudança no consumo de mídia no Brasil. O público está cada vez mais fragmentado entre streaming, redes sociais e vídeos on demand. Para sobreviver, a TV aberta precisa oferecer conteúdo que seja evento ou que seja relevante.
O SBT, em seu sábado de pior ibope em quatro décadas, mostra que o modelo de televisão dos anos 90 não funciona mais. A crise é um alerta para todas as emissoras que dependem da audiência tradicional para sobreviver e que não se adaptarem rapidamente à nova realidade digital. A pressão agora recai sobre a diretoria para provar que a emissora de Silvio Santos ainda tem fôlego e capacidade de se reinventar, antes que a perda de relevância seja irreversível.
