As ações da gigante do streaming Netflix sofreram um duro golpe na Bolsa de Valores de Nova York, registrando uma queda abrupta de cerca de 7% no after-market. O movimento de venda massiva ocorreu logo após a divulgação do balanço trimestral da companhia, que trouxe números frustrantes para a linha final do resultado. A justificativa apresentada aos investidores apontou um culpado inesperado: o sistema tributário brasileiro. A empresa informou que seu lucro ficou abaixo das projeções devido a uma despesa não recorrente de US$ 619 milhões (aproximadamente R$ 3,3 bilhões) ligada a uma disputa fiscal no Brasil, referente ao pagamento da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico).
O lucro por ação reportado foi de US$ 5,87, bem aquém da expectativa de US$ 6,97 projetada por analistas de Wall Street. Segundo a diretoria da Netflix, se não fosse pelo impacto dessa cobrança retroativa — que abrange o período de 2022 até o terceiro trimestre de 2025 —, a margem operacional da empresa teria superado as metas estabelecidas. O diretor financeiro, Spencer Neumann, classificou o episódio como um “custo de fazer negócios no Brasil”, alertando que a decisão judicial que validou a cobrança pode afetar outras multinacionais de tecnologia que operam no país.
A notícia caiu como uma bomba para o mercado, que vinha celebrando o crescimento de assinantes e a eficácia da nova política de compartilhamento de senhas. A revelação de que um único contencioso tributário em um mercado emergente foi capaz de drenar centenas de milhões de dólares do caixa global acendeu o sinal de alerta sobre a previsibilidade jurídica das operações internacionais.
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Tombo Bursátil reflete incerteza
O Tombo Bursátil verificado nas negociações reflete o medo do investidor com a volatilidade dos lucros. Embora a receita da Netflix tenha crescido 17% no período, alcançando US$ 11,5 bilhões, a incapacidade de converter esse faturamento em lucro líquido na proporção esperada gerou desconfiança. Analistas apontam que, em empresas de tecnologia com múltiplos de avaliação altos, qualquer “surpresa” negativa no balanço é punida severamente, independentemente de ser um evento não recorrente.
Neste cenário de Tombo Bursátil, a justificativa da empresa tentou isolar o evento como um caso único. A administração enfatizou que os fundamentos do negócio permanecem sólidos, com recordes de engajamento e crescimento na venda de publicidade. No entanto, a magnitude da cifra — que corroeu mais de cinco pontos percentuais da margem operacional do trimestre — levantou questionamentos sobre a gestão de riscos fiscais da companhia em jurisdições complexas como a brasileira.
Impacto Tributário da CIDE-Tecnologia
O Impacto Tributário que derrubou os papéis da Netflix gira em torno da CIDE-Tecnologia, um tributo de 10% que incide sobre remessas de valores ao exterior a título de royalties, serviços técnicos e assistência administrativa. A disputa se intensificou após uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF), que validou a constitucionalidade e a abrangência da cobrança sobre esse tipo de transação digital. Até então, muitas empresas de tecnologia sustentavam teses jurídicas para não recolher o imposto ou fazê-lo em alíquotas menores.
Com a derrota judicial, a Netflix foi obrigada a reconhecer o passivo. O valor de US$ 619 milhões refere-se ao acumulado de quase quatro anos de operações não tributadas conforme o novo entendimento. Esse Impacto Tributário revela o peso gigantesco da operação brasileira no balanço global da empresa. Se 10% de imposto gerou uma fatura de US$ 600 milhões, estima-se que as remessas totais da subsidiária brasileira para a matriz tenham somado mais de US$ 6 bilhões no período, evidenciando que o Brasil é uma das “vacas leiteiras” mais importantes do streaming mundial.
Surpresa Contábil e transparência
A Surpresa Contábil pegou o mercado de calças curtas. Diferente de outros riscos operacionais, como greves em Hollywood ou aumento da concorrência, o risco fiscal brasileiro não estava precificado nos modelos da maioria dos analistas de Nova York. A inclusão dessa despesa na linha de “custo de receita” pegou todos de surpresa, quebrando uma sequência de seis trimestres de superação de expectativas de lucro.
Para mitigar a Surpresa Contábil, a Netflix adotou um tom de transparência agressiva, detalhando que o evento não deve se repetir com a mesma magnitude. A empresa afirmou não esperar “impactos materiais adicionais” dessa natureza no futuro, sugerindo que o provisionamento atual cobre o risco passado e que o fluxo futuro já estará ajustado à nova realidade tributária. Contudo, a mancha na credibilidade de curto prazo permanece, forçando a empresa a entregar resultados impecáveis no próximo trimestre para recuperar a confiança total.
Custo Brasil na mira global
O episódio colocou o famigerado Custo Brasil nas manchetes financeiras globais. Executivos da Netflix usaram a teleconferência de resultados para criticar a complexidade e a agressividade do fisco brasileiro, descrevendo o imposto como algo que “não se vê em nenhum outro grande mercado”. Essa retórica serve tanto para justificar o erro de projeção quanto para pressionar por reformas ou tratamento diferenciado.
A exposição do Custo Brasil dessa forma pode afugentar novos investimentos no setor de serviços digitais. Tributaristas alertam que a decisão do STF sobre a Cide-Tecnologia afeta não apenas o streaming, mas qualquer empresa que importe tecnologia ou pague royalties para matrizes estrangeiras, criando um efeito cascata de encarecimento de serviços no país. Para o consumidor final, o risco é que essa conta seja repassada no preço da assinatura, tornando o entretenimento mais caro para cobrir o rombo fiscal.
