A notícia caiu como uma bomba no cenário esportivo nacional na noite deste sábado, 29 de novembro de 2025, alterando completamente os ânimos no Rio Grande do Sul. O Internacional, imerso em uma das crises mais profundas de sua história recente, recorreu à sua figura mais emblemática para tentar um milagre esportivo. Abel Braga, o homem que conduziu o clube ao topo do mundo em 2006, aceitou o chamado de emergência da diretoria colorada e interrompeu sua aposentadoria para assumir o comando técnico da equipe nas duas rodadas finais do Campeonato Brasileiro. A decisão foi tomada horas após a humilhante derrota por 5 a 1 para o Vasco da Gama, resultado que selou a demissão do argentino Ramón Díaz e empurrou o clube gaúcho para a temida zona de rebaixamento.
A atmosfera no Beira-Rio transformou-se instantaneamente de desespero para uma esperança quase religiosa. Aos 73 anos, Abelão retorna para sua oitava passagem pelo clube, não por dinheiro ou projeto de longo prazo, mas atendendo a um apelo emocional de uma instituição que clama por salvação. O contrato, algo inédito no futebol moderno de alto nível, tem duração de apenas dois jogos. É uma missão suicida para muitos, mas vista como um ato de heroísmo pelos torcedores que ainda acreditam na permanência na Série A. A diretoria, liderada pelo presidente Alessandro Barcellos, jogou sua última cartada ao apostar na mística e na liderança de vestiário de Abel, na tentativa de estancar a sangria de confiança que assolou o elenco nas últimas semanas.
O cenário que o novo comandante encontra é de terra arrasada, tanto tática quanto psicologicamente. O Internacional ocupa a 17ª colocação na tabela, somando 41 pontos, e depende não apenas de suas próprias forças, mas também de uma combinação de resultados para evitar o que seria o segundo rebaixamento de sua história centenária. A chegada de Abel serve como um escudo para a direção e um catalisador para a torcida, que promete abraçar o time nestes momentos derradeiros. A apresentação oficial ocorre neste domingo, no CT Parque Gigante, onde ele terá pouquíssimo tempo para trabalhar antes do confronto decisivo contra o São Paulo, fora de casa.
É fundamental analisar que este movimento vai na contramão de todo o planejamento “profissional” pregado no início da gestão. Trazer um treinador aposentado desde 2022 para resolver problemas complexos de 2025 expõe a fragilidade das convicções do departamento de futebol. No entanto, o futebol brasileiro muitas vezes desafia a lógica, e o “Fator Abel” é uma variável que não pode ser quantificada apenas por táticas ou estatísticas. Sua presença no banco de reservas impõe respeito aos adversários e traz uma memória afetiva de vitórias que pode ser o diferencial para um grupo de jogadores que parecia entregue e sem rumo sob o comando da comissão técnica anterior.
Desafio do recém-chegado comandante
A matemática para a permanência na elite do futebol brasileiro é cruel e não permite erros para o recém-chegado comandante. Com apenas duas rodadas restantes, o Internacional precisa somar pontos vitais contra adversários qualificados. O primeiro desafio será contra o São Paulo, no Morumbi ou Vila Belmiro (dependendo dos mandos finais), um time que luta por vaga direta na Libertadores. Em seguida, o colorado decide sua vida em casa, no Beira-Rio, contra o Red Bull Bragantino. Abel Braga terá a hercúlea tarefa de simplificar o jogo de uma equipe que vinha sofrendo com excesso de variações táticas mal sucedidas e focar no básico: competitividade, fechamento de espaços e bola parada.
O elenco que Abel encontra é um misto de jovens promessas e veteranos desgastados, que não responderam bem ao estilo de jogo de Ramón Díaz. O antecessor argentino, que durou apenas 13 jogos no cargo, deixou um legado de confusão defensiva, evidenciado pelos cinco gols sofridos na última rodada. O novo técnico precisará, em questão de horas, definir um onze inicial que tenha, acima de tudo, equilíbrio emocional. A pressão de jogar “com a corda no pescoço” costuma travar as pernas dos atletas, e é nesse aspecto mental que a figura paternal e motivadora de Abel Braga deve atuar com mais intensidade do que qualquer prancheta tática.
Além do campo, há o componente político e institucional que pesa sobre essa “Missão Z4”. O presidente Alessandro Barcellos, reeleito com a promessa de modernização, vê sua gestão ser questionada ao recorrer a soluções do passado. O ano de 2025 foi marcado por uma instabilidade impressionante no comando técnico: começou com Eduardo Coudet, passou pela aposta frustrada em Roger Machado, seguiu para o desastre curto de Ramón Díaz e termina com o retorno do “bombeiro” Abel. Essa dança das cadeiras reflete uma perda de identidade do futebol colorado, que agora busca em suas raízes mais profundas a força para sobreviver ao caos que ele mesmo criou.
Criticamente falando, a dependência de um “salvador” expõe a falência do modelo de gestão esportiva atual do clube. Se o Internacional escapar da Série B, o mérito será quase que exclusivamente atribuído à mobilização gerada por Abel. Se cair, a mancha no currículo do treinador será mínima, pois ele assumiu um “paciente terminal”, mas a diretoria ficará marcada para sempre. O risco calculado de Abel Braga aceitar esse convite mostra sua gratidão inabalável pelo clube, colocando sua biografia em jogo para tentar resgatar a dignidade de uma torcida que sofreu durante toda a temporada com desempenhos pífios e eliminações precoces.
Retorno do estrategista campeão
Para entender o impacto do retorno do estrategista campeão, é preciso revisitar a história. Abel Braga não é apenas um ex-funcionário; ele é a personificação das maiores glórias do Internacional. Foi sob sua batuta que o clube conquistou a América e o Mundo em 2006, vencendo o poderoso Barcelona de Ronaldinho Gaúcho. Sua última passagem, entre 2020 e 2021, também foi marcante, embora traumática no final: ele pegou o time desacreditado e o levou a uma sequência recorde de vitórias, perdendo o título brasileiro por um único gol, anulado nos minutos finais da última rodada. Aquela campanha de recuperação deixou um sentimento de “dívida” do futebol para com ele, e talvez este seja o momento de o destino acertar as contas.
Desde que anunciou sua aposentadoria como treinador em 2022, após deixar o Fluminense, Abel vinha atuando em cargos diretivos, como diretor técnico no Vasco da Gama. Ele repetia em entrevistas que a rotina estressante da beira do campo não lhe apetecia mais. O fato de abrir essa exceção agora demonstra a gravidade da situação colorada. Segundo apurações de bastidores, a conversa com a diretoria foi franca e direta: não há projeto para 2026, não há discussão sobre reforços, há apenas a necessidade de vencer dois jogos de futebol. É um “tiro curto” baseado puramente na paixão e na necessidade de sobrevivência.
A torcida, que vinha protestando violentamente contra a direção e os jogadores, mudou o tom nas redes sociais imediatamente após o anúncio. A hashtag #OAbelVoltou dominou os trending topics, e movimentos de apoio para lotar o aeroporto e o estádio já estão sendo organizados. Esse fenômeno de massa é crucial. O Beira-Rio, que vinha sendo um ambiente hostil para os próprios jogadores, promete se transformar em um caldeirão de apoio incondicional na última rodada. Abel tem o dom de unir as arquibancadas, e essa sinergia pode ser o “12º jogador” que faltou ao time durante toda a campanha irregular deste Brasileirão de 2025.
No entanto, o futebol não se joga apenas com história. O desafio técnico é real. O time do Inter tem problemas crônicos na transição defensiva e pouca efetividade no ataque. Jogadores importantes como o atacante Borré e o meia Alan Patrick viveram fases de oscilação técnica. Caberá a Abel resgatar a confiança desses líderes técnicos. A simplicidade será a chave. Não haverá tempo para treinar jogadas ensaiadas complexas; o foco será na conversa, no posicionamento básico e na entrega física. É o “futebol raiz” sendo convocado para salvar um time montado com cifras milionárias, mas que rendeu muito pouco em campo.
Expectativa sobre o novo professor
A expectativa sobre o novo professor transcende as quatro linhas e atinge a própria estrutura do futebol brasileiro. O caso do Inter em 2025 servirá de estudo de caso sobre gestão de crise. Se Abel conseguir evitar o rebaixamento, validará a tese de que o fator humano e a liderança ainda superam a tática pura em momentos de alta pressão. Por outro lado, se a queda se confirmar, será o triste epílogo de uma temporada marcada por erros de planejamento sucessivos, onde nem mesmo o maior ídolo foi capaz de operar o milagre. A imprensa esportiva de todo o país volta seus olhos para Porto Alegre, transformando os jogos do Inter nos eventos mais aguardados desta reta final.
Os adversários também observam com cautela. Enfrentar um time desesperado já é perigoso; enfrentar um time desesperado comandado por uma lenda motivada é ainda pior. O São Paulo, próximo oponente, sabe que encontrará um Internacional com uma postura completamente diferente daquela apática vista contra o Vasco. A mobilização no vestiário colorado deve gerar um time mais aguerrido, disputando cada bola como se fosse um prato de comida. Essa mudança de atitude é a assinatura de Abel Braga, conhecida como “alma colorada”, algo que parecia ter se perdido em meio a tantas trocas de comando e filosofias estrangeiras que não se adaptaram à cultura do clube.
É importante ressaltar que Élio Carravetta, histórico coordenador de preparação física e homem de confiança de Abel, também retorna ao clube para compor a comissão técnica emergencial. Isso reforça a ideia de fechar o grupo em torno de pessoas que conhecem os corredores do Beira-Rio como a palma da mão. Não há espaço para estranhos no ninho agora. A identidade do clube está em jogo, e a diretoria optou por blindar o vestiário com figuras que representam o “ser Internacional”. É uma estratégia de guerra para duas batalhas finais.
Por fim, o torcedor colorado viverá uma semana de emoções extremas. Do luto pela goleada e entrada no Z4 à euforia contida pelo retorno do “pai” Abel. O desfecho dessa história será escrito nos próximos dias, mas uma coisa é certa: o Internacional não cairá sem lutar. A presença de Abel Braga garante, no mínimo, que a equipe venderá caro qualquer resultado, resgatando a dignidade que foi arranhada na fatídica tarde de sábado no Rio de Janeiro. Resta saber se o amor e a mística serão suficientes para superar a frieza dos números e a competência dos adversários em um campeonato tão disputado quanto o Brasileirão.
