Quem foi ao Maracanã na noite desta quinta-feira (11) não esperava menos do que uma guerra. E foi exatamente isso que Vasco e Fluminense entregaram no jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil de 2025. Em um duelo eletrizante, decidido apenas no último suspiro, o Vasco vence Fluminense de virada por 2 a 1, levando a torcida cruzmaltina ao delírio absoluto. Com gols de Rayan e do predestinado Pablo Vegetti — já nos acréscimos —, o time comandado por Fernando Diniz reverteu a desvantagem inicial construída por Kevin Serna e agora joga pelo empate no próximo domingo para carimbar o passaporte rumo à grande final.
O cenário não poderia ser mais grandioso. Com recorde de público na competição — quase 65 mil vozes ensurdecedoras —, o clássico começou com a tensão habitual de um mata-mata desse porte. O resultado premia a insistência de um time que, mesmo atrás no placar e com os nervos à flor da pele, jamais abdicou de atacar. Para o Tricolor das Laranjeiras, fica o gosto amargo de ter controlado parte do jogo e deixado a vitória escapar entre os dedos nos minutos finais, obrigando a equipe de Luis Zubeldía a uma missão ingrata na partida de volta.
Cruzmaltino supera Tricolor no clássico: a batalha tática
Desde o apito inicial de Raphael Claus, ficou claro que as estratégias eram opostas, mas igualmente perigosas. Fernando Diniz, fiel ao seu estilo, escalou o Vasco para morder a saída de bola, com um meio-campo combativo formado por Thiago Mendes e Barros, protegendo a criação de Philippe Coutinho. Do outro lado, Zubeldía apostou na velocidade de Serna e Soteldo para explorar as costas dos laterais vascaínos.
O primeiro tempo foi um jogo de xadrez tenso. O Vasco tinha a posse, rondava a área, mas esbarrava na muralha liderada pelo veterano Thiago Silva. E como o futebol pune quem não mata, o Fluminense foi letal na sua primeira grande chance. Aos 20 minutos, em uma jogada ensaiada de bola parada, Renê cruzou, Thiago Silva desviou e a bola encontrou Kevin Serna. O colombiano não perdoou: finalização seca, sem chances para Léo Jardim. 1 a 0 para o Flu e silêncio momentâneo no lado preto e branco da arquibancada.
O gol tricolor desestabilizou o Vasco por alguns minutos. A equipe sentiu o golpe e viu o Fluminense crescer, com Lucho Acosta quase ampliando em um chute que passou raspando o travessão. O clima esquentou, com discussões ríspidas no meio-campo e empurra-empurra que Claus precisou controlar na conversa, poupando cartões naquele momento. O intervalo chegou com a sensação de que o Gigante da Colina precisaria de muito mais alma do que tática para reverter o cenário.
Time de Diniz busca reviravolta e incendeia o segundo tempo
Se o primeiro tempo terminou com dúvidas, o segundo começou com certezas. Diniz, percebendo a necessidade de agressividade, adiantou as linhas. E a resposta foi imediata. Logo aos 5 minutos da etapa complementar, a joia da base apareceu. Andrés Gómez, incansável pela esquerda, fez boa jogada individual e cruzou rasteiro. A bola atravessou a área, passou por Nuno Moreira e encontrou Rayan. O garoto, com a frieza de um veterano, fuzilou para as redes: 1 a 1.
O gol de empate transformou o Maracanã em um caldeirão. A torcida vascaína, que já cantava alto, aumentou o volume e empurrou o time para cima. O Fluminense, acuado, tentava responder nos contra-ataques com Keno (que entrou no lugar de Soteldo), mas a defesa vascaína, liderada por Robert Renan e Cuesta, mostrava uma solidez impressionante nos duelos individuais.
Estatisticamente, o Vasco dominou as ações ofensivas na segunda metade. Foram 14 finalizações contra apenas 4 do Fluminense no período. Puma Rodríguez chegou a carimbar a trave de Fábio em um cabeceio que fez a estrutura do estádio tremer. O cheiro da virada estava no ar, mas o relógio era o maior inimigo. Parecia que o empate persistiria, deixando tudo absolutamente aberto para domingo. Parecia.
Gigante da Colina triunfa no Maracanã com dedo do treinador
As substituições foram cruciais para o desfecho da narrativa. Enquanto Zubeldía tentou fechar a casinha colocando Hércules para dar consistência ao meio, Diniz foi para o “tudo ou nada”. A entrada de Vegetti no lugar de Nuno Moreira mudou a referência do ataque. O Vasco passou a alçar bolas na área, explorando o jogo aéreo, ponto forte do seu centroavante.
O Fluminense tentou segurar o resultado, gastando tempo e quebrando o ritmo, uma estratégia arriscada diante de um adversário com tanto volume de jogo. A pressão era sufocante. Coutinho regia o meio, distribuindo passes e buscando espaços na compacta defesa tricolor. A sensação de urgência tomava conta de cada dividida.
Foi então, quando o cronômetro já marcava 48 minutos — três além do tempo regulamentar —, que a mística aconteceu. Uma falta na intermediária, cobrada rapidamente por Rayan para Andrés Gómez. A defesa do Flu, desatenta por um segundo, permitiu o cruzamento. A bola viajou com precisão cirúrgica.
Vegetti garante vitória dramática
Lá estava ele. O Pirata. Pablo Vegetti subiu mais que Freytes e Renê, pairando no ar como se o tempo tivesse parado. O cabeceio foi fatal, no ângulo superior esquerdo de Fábio, que nada pôde fazer. Gol do Vasco. Virada decretada. O Maracanã explodiu em uma catarse coletiva poucas vezes vista.
Vegetti, amarelado na comemoração por tirar a camisa e celebrar com a massa, pouco se importou. Aquele era o gol da vantagem. O apito final de Raphael Claus, minutos depois, selou o 2 a 1 e confirmou que, em clássicos, a vontade muitas vezes supera a técnica.
Agora, a situação se inverteu. O Vasco joga pelo empate no domingo, novamente no Maracanã, às 20h30. Ao Fluminense, resta a obrigação de vencer por dois gols de diferença para avançar direto, ou por um gol para levar a decisão aos pênaltis. O lado psicológico, sem dúvida, está com o time de São Januário, que provou ter casca para sair de situações adversas.
Para o torcedor vascaíno, a noite de 11 de dezembro de 2025 entrará para a história não apenas pelo resultado, mas pela forma como foi construído: na raça, no grito e na cabeça do seu artilheiro. Domingo promete ser mais um capítulo inesquecível dessa rivalidade centenária.
