Vanderlei Luxemburgo confirmou nesta segunda-feira o encerramento definitivo de sua carreira como treinador de futebol profissional. O anúncio ocorreu durante participação no programa Galvão e Amigos, transmitido pela TV Bandeirantes, onde o agora ex-técnico afirmou que não pretende mais aceitar propostas de clubes. Aos 73 anos, Luxemburgo estava sem equipe desde a saída do Corinthians em 2023, quando chegou às semifinais da Copa Sul-Americana e da Copa do Brasil. Consequentemente, a decisão põe fim a uma trajetória de mais de quatro décadas no comando de times brasileiros e internacionais.
O treinador foi direto ao explicar os motivos que o levaram à aposentadoria. Segundo Luxemburgo, a função de técnico mudou profundamente nos últimos anos e ele não se vê inserido no modelo atual de gestão do futebol. Além disso, o ex-comandante criticou duramente a perda de autonomia dos treinadores frente aos diretores executivos, afirmando que não aceita ficar subordinado a essas figuras administrativas. A declaração confirma o encerramento de uma das carreiras mais vitoriosas e influentes da história do futebol brasileiro.
Durante o programa, Luxemburgo afirmou que nunca havia revelado publicamente sua decisão de parar. Entretanto, escolheu a atração comandada por Galvão Bueno para fazer o anúncio oficial diante de milhares de espectadores. O ex-técnico demonstrou insatisfação com a atual estrutura dos clubes e manifestou desejo de voltar apenas em condições semelhantes ao início de sua trajetória, quando possuía controle pleno sobre aspectos técnicos e táticos das equipes.
Críticas ao modelo atual do futebol
Luxemburgo foi enfático ao criticar a hierarquia estabelecida atualmente nos clubes de futebol. O treinador afirmou que não quer estar abaixo de diretores executivos que mandam e desmandam nas decisões técnicas. Segundo ele, a profissão de técnico deixou de ser a de head coach, termo em inglês que designa o comandante principal com autonomia completa. Portanto, essa mudança estrutural foi determinante para sua decisão de encerrar as atividades definitivamente.
O ex-comandante comparou a situação atual com períodos anteriores de sua carreira. Luxemburgo mencionou especialmente o trabalho realizado sob orientação de Telê Santana e Mário Zagallo, considerados ícones do futebol brasileiro. Ademais, o treinador citou a experiência no Real Madrid como exemplo de ambiente onde possuía liberdade para implementar suas ideias sem interferências excessivas de gestores administrativos. Consequentemente, só consideraria retorno caso tivesse autonomia semelhante àquela vivenciada nessas passagens marcantes.
A fala de Luxemburgo expõe tensão crescente no futebol moderno entre comissões técnicas e departamentos executivos dos clubes. Muitos treinadores contemporâneos enfrentam limitações impostas por dirigentes que centralizam decisões sobre contratações, escalações e métodos de trabalho. Entretanto, o ex-técnico deixou claro que não está disposto a trabalhar nessas condições, preferindo encerrar carreira a aceitar subordinação que considera inadequada para função que exerceu durante décadas.
Trajetória vitoriosa iniciada no Espírito Santo
Vanderlei Luxemburgo começou a carreira como treinador no Rio Branco do Espírito Santo em 1983. A conquista do Campeonato Capixaba naquele ano colocou o recém-comandante em evidência nacional, abrindo portas para trabalhos em clubes maiores. Posteriormente, o Bragantino contratou Luxemburgo e ali começaria a construção de um currículo invejável. Sob comando do técnico, o Massa Bruta conquistou o Campeonato Paulista de 1990, resultado surpreendente que consolidou reputação do treinador entre principais nomes da nova geração.
A chegada ao Bragantino também trouxe participação na final do Campeonato Brasileiro de 1991, onde a equipe do interior paulista terminou vice-campeã. Entretanto, foi no Palmeiras que os títulos de maior expressão começaram a surgir na carreira de Luxemburgo. Entre 1993 e 1996, o comandante conquistou dois Campeonatos Brasileiros, três títulos paulistas e o lendário Paulistão dos 100 gols em 1996, torneio que entrou para história do futebol pela quantidade impressionante de gols marcados pelo Verdão.
Além disso, Luxemburgo também alçou voos no rival Corinthians após deixar o Palmeiras. Em 1998, o treinador garantiu conquista do Campeonato Brasileiro comandando o Timão, demonstrando capacidade de obter resultados em diferentes ambientes e contextos. A flexibilidade tática e liderança demonstradas nessas passagens consolidaram Luxemburgo como um dos técnicos brasileiros mais respeitados dos anos 1990 e início dos anos 2000.
Tríplice coroa no Cruzeiro e Real Madrid
Em 2003, Luxemburgo voltou ao protagonismo nacional ao assumir o Cruzeiro e conquistar a chamada Tríplice Coroa daquela temporada. O treinador levou a Raposa aos títulos do Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro no mesmo ano. Ademais, o título brasileiro de 2003 teve importância histórica por ser o primeiro disputado em sistema de pontos corridos, formato que vigora até hoje. Consequentemente, a campanha vitoriosa com equipe mineira abriu caminho para salto internacional na carreira do comandante.
No ano seguinte, Luxemburgo recebeu convite surpreendente para assumir o Real Madrid, um dos clubes mais poderosos do mundo. A oportunidade de comandar elenco repleto de estrelas incluindo Ronaldo Fenômeno, Zinedine Zidane, David Beckham, Luís Figo, Raúl e Iker Casillas representou reconhecimento raro para treinador brasileiro. Entretanto, apesar do prestígio e da qualidade individual dos atletas, o time ficou conhecido como Galácticos mas não conquistou títulos sob comando de Luxemburgo. A equipe terminou vice-campeã espanhola, perdendo La Liga para rival Barcelona.
A passagem pelo Real Madrid durou até final de 2005 e marcou momento histórico em que técnico brasileiro foi reconhecido para comandar gigante europeu. Além disso, a experiência internacional agregou conhecimento e credibilidade à trajetória de Luxemburgo. Posteriormente, o treinador retornaria ao Brasil para seguir acumulando conquistas e passagens por clubes tradicionais nas décadas seguintes, mantendo-se relevante no cenário do futebol nacional por quase duas décadas após deixar Espanha.
Seleção Brasileira e Copa América de 1999
Vanderlei Luxemburgo também comandou a Seleção Brasileira em um dos momentos de sua carreira. O treinador assumiu a Amarelinha e conquistou a Copa América de 1999, torneio disputado no Paraguai. Ademais, Luxemburgo conduziu as primeiras partidas das Eliminatórias para Copa do Mundo de 2002, competição que o Brasil venceria posteriormente sob comando de Luiz Felipe Scolari. Entretanto, a passagem pela seleção ficou marcada também por polêmicas extracampo que afetaram imagem do comandante.
O ex-técnico enfrentou problemas ao ser flagrado utilizando documentação falsa e se envolveu em processo de sonegação fiscal durante período no comando da seleção. Consequentemente, essas questões geraram desgaste e contribuíram para encerramento prematuro do trabalho. A passagem pela Seleção Brasileira terminou definitivamente após eliminação nos Jogos Olímpicos de 2000, quando a equipe não conseguiu alcançar resultados esperados na competição. Portanto, apesar do título da Copa América, o trabalho no time nacional não teve longevidade que Luxemburgo desejava.
Além das conquistas já mencionadas, Luxemburgo acumulou passagens marcantes por Santos, Flamengo, Fluminense, Vasco, Atlético Mineiro, Grêmio e Sport. Ademais, o treinador também trabalhou no futebol chinês expandindo experiência internacional. O técnico retornou ao Palmeiras em 2020 e conquistou o Campeonato Paulista daquele ano, seu último título como comandante. Entretanto, Luxemburgo fez parte da trajetória do Verdão na Libertadores de 2020, competição vencida pelo time sob comando do português Abel Ferreira após saída do brasileiro.
Números impressionantes em quatro décadas
Ao longo de carreira que se estendeu por mais de 40 anos, Vanderlei Luxemburgo conquistou 32 títulos no total. Desse montante, cinco foram Campeonatos Brasileiros conquistados em 1993, 1994, 1998, 2003 e 2004 comandando Palmeiras, Corinthians e Cruzeiro. Além disso, o treinador venceu 23 torneios estaduais e regionais, sendo nove Campeonatos Paulistas que demonstram domínio especial no futebol do estado de São Paulo. Consequentemente, os números consolidam Luxemburgo como um dos técnicos mais vitoriosos da história do futebol brasileiro.
O currículo do ex-comandante também inclui conquistas internacionais. A Copa América de 1999 pela Seleção Brasileira representa título em competição oficial envolvendo seleções sul-americanas. Ademais, Luxemburgo participou da campanha vitoriosa do Palmeiras na Libertadores de 2020, apesar de não estar no comando quando equipe venceu final. O treinador também possui uma Copa do Brasil conquistada em 2003 pelo Cruzeiro e um título da Série B do Campeonato Brasileiro vencido em 1989, demonstrando versatilidade em diferentes níveis competitivos.
Luxemburgo ficou marcado por estilo de trabalho que priorizava organização tática e disciplina rigorosa. O técnico era conhecido pelo apelido Profexô, referência à postura professoral adotada nas coletivas de imprensa e no relacionamento com jogadores. Entretanto, também enfrentou críticas ao longo da carreira relacionadas a métodos considerados ultrapassados por parte da mídia especializada e torcedores. Portanto, sua trajetória combina sucessos incontestáveis com momentos controversos que marcaram décadas de envolvimento profundo com futebol brasileiro.
Pré-candidatura ao Senado Federal
O anúncio da aposentadoria ocorre em momento que Vanderlei Luxemburgo se prepara para possível carreira política. O ex-técnico é pré-candidato ao Senado Federal pelo partido Podemos no estado do Tocantins. Durante fim de semana anterior ao anúncio no programa de Galvão Bueno, Luxemburgo cumpriu agenda política na região do Bico do Papagaio. Ademais, o empresário esteve reunido com presidente da Assembleia Legislativa estadual e outros lideranças políticas locais, demonstrando envolvimento crescente com atividades partidárias.
A decisão de encerrar carreira como treinador parece alinhada com foco nas atividades políticas planejadas para próximos anos. Entretanto, Luxemburgo não descartou completamente participação em projetos relacionados ao futebol. O ex-comandante afirmou que pode considerar atuação em formação de jovens talentos ou consultorias esportivas, desde que não envolvam responsabilidades diárias de técnico profissional. Consequentemente, a aposentadoria representa afastamento dos gramados mas não necessariamente rompimento total com ambiente futebolístico.
A trajetória de Vanderlei Luxemburgo deixa legado importante para gerações futuras de treinadores brasileiros. O comandante demonstrou que profissionais nacionais podem alcançar reconhecimento internacional e conquistar títulos nos mais altos níveis do futebol. Ademais, suas críticas ao modelo atual de gestão esportiva provocam reflexão sobre autonomia técnica e relação entre diferentes setores dentro dos clubes. Portanto, mesmo aposentado, Luxemburgo continuará influenciando discussões sobre futebol brasileiro através de sua vasta experiência acumulada durante décadas.