A morte prematura e trágica do pequeno Benício Xavier de Freitas, de apenas 6 anos, chocou a população de Manaus e levantou um debate urgente sobre segurança hospitalar e protocolos médicos no Brasil. O caso, ocorrido nesta semana no Hospital Santa Júlia, na capital amazonense, transformou o que deveria ser um atendimento de rotina para uma tosse seca em um pesadelo para a família. A Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (Cremam) já iniciaram investigações para apurar as circunstâncias que levaram ao óbito da criança, que, segundo denúncias dos pais, foi vítima de um erro fatal na administração de adrenalina.
O drama começou quando Benício foi levado à unidade de saúde apresentando um quadro leve de laringite. De acordo com relatos emocionados do pai, Bruno Freitas, a médica responsável pelo atendimento prescreveu, entre outros procedimentos, a administração de adrenalina. O medicamento, comumente utilizado em casos de reações alérgicas graves e crises respiratórias agudas, geralmente é administrado via inalação (nebulização) em quadros similares ao de Benício. No entanto, a prescrição médica indicava a aplicação intravenosa, ou seja, diretamente na veia da criança.
A família relata que chegou a questionar a equipe de enfermagem sobre o método de aplicação, estranhando a injeção na veia ao invés da nebulização habitual. A resposta recebida foi técnica e burocrática: a ordem estava na prescrição e precisava ser seguida. Minutos após a injeção, o quadro de saúde de Benício, que até então era estável e não apresentava risco iminente de morte, deteriorou-se rapidamente. A criança começou a passar mal, sofreu alterações súbitas nos sinais vitais e entrou em colapso.
Tragédia infantil com medicamento
O que se viu nos corredores do hospital após a aplicação do fármaco foi uma sequência de desespero e tentativas frustradas de reanimação. O menino sofreu múltiplas paradas cardiorrespiratórias. O pai, que acompanhava tudo de perto, descreveu cenas de horror ao ver o filho lutar pela vida enquanto a equipe médica tentava reverter o quadro gravíssimo provocado pela reação ao medicamento. A administração de adrenalina intravenosa exige monitoramento cardíaco contínuo e dosagens extremamente precisas, pois é um potente estimulante cardíaco que, em excesso ou uso inadequado, pode causar arritmias letais.
A transferência para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) foi realizada na tentativa de estabilizar o paciente, mas o dano ao organismo da criança já parecia irreversível. Benício não resistiu às complicações e faleceu, deixando uma família devastada e uma sociedade indignada. A notícia se espalhou rapidamente pelas redes sociais, gerando uma onda de solidariedade aos pais e cobranças por justiça. O luto transformou-se em luta por respostas claras sobre como um procedimento padrão pôde resultar em morte.
O Hospital Santa Júlia emitiu nota informando que afastou a médica e a técnica de enfermagem envolvidas no atendimento. A instituição afirmou que preza pela segurança dos pacientes e que está colaborando integralmente com as autoridades. Entretanto, para a família e para especialistas em direito médico, o afastamento preventivo é apenas o primeiro passo de um longo processo de responsabilização civil e criminal. A análise do prontuário médico será fundamental para determinar se houve imperícia, imprudência ou negligência na conduta dos profissionais.
Óbito de menor no Amazonas
A análise crítica deste caso revela falhas sistêmicas que vão além do erro individual. A segurança do paciente depende de barreiras de proteção que, neste caso, parecem ter falhado em sucessão. Quando a família questionou a via de administração, houve uma oportunidade de ouro para a equipe de enfermagem checar novamente a prescrição com o médico (processo conhecido como “dupla checagem”). A barreira de comunicação, onde a hierarquia ou a pressa se sobrepõem à dúvida razoável, é frequentemente apontada como causa raiz em eventos sentinela na saúde.
Além disso, o episódio reacende a discussão sobre a sobrecarga dos profissionais de saúde e a qualidade da formação técnica. A adrenalina é uma droga vasoativa poderosa. Confundir a via de administração (inalatória para venosa) altera drasticamente a farmacocinética da droga, entregando uma dose massiva diretamente ao coração em segundos, ao invés de uma ação local e sistêmica gradual via pulmões. Esse tipo de erro, conhecido como erro de via de administração, é um dos mais perigosos na farmacologia hospitalar pediátrica.
O inquérito policial deverá ouvir todos os envolvidos, desde a recepção até a equipe da UTI. A Polícia Civil do Amazonas já solicitou o prontuário completo e as imagens das câmeras de segurança, se houver, para reconstruir a linha do tempo do atendimento. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) será a peça-chave para confirmar a causa da morte e correlacioná-la diretamente com a injeção de adrenalina. A necrópsia deve apontar se houve edema pulmonar agudo ou falência cardíaca compatível com intoxicação por epinefrina.
Falecimento por erro hospitalar
A repercussão do caso Benício ultrapassa as fronteiras do Amazonas. Ele serve como um alerta nacional para pais e cuidadores sobre a importância de questionar e entender os procedimentos médicos realizados em seus filhos. Embora a confiança no médico seja a base da relação terapêutica, o papel fiscalizador da família tem se tornado cada vez mais relevante em um cenário de saúde saturado. Especialistas recomendam que, diante de qualquer dúvida ou procedimento que pareça estranho ao habitual, os responsáveis peçam uma pausa e solicitem explicações adicionais antes da execução.
No âmbito jurídico, a família de Benício tem direito a buscar reparações. A responsabilidade objetiva do hospital, prevista no Código de Defesa do Consumidor, indica que a instituição responde pelos danos causados por seus prepostos, independentemente de culpa direta da administração. Isso significa que o hospital deve responder pelo erro de sua equipe. Além da indenização por danos morais e materiais, a família busca, acima de tudo, a punição exemplar dos responsáveis para que outras crianças não percam a vida de forma tão evitável.
A classe médica também observa o desdobramento com apreensão. O Conselho Regional de Medicina (CRM) abrirá sindicância para apurar a ética da conduta profissional. Se comprovada a infração, as penas podem variar desde advertências até a cassação do registro profissional da médica envolvida. O mesmo se aplica à técnica de enfermagem junto ao Conselho Regional de Enfermagem (Coren). A responsabilização ética corre em paralelo à criminal e cível, mas é fundamental para retirar do mercado profissionais que não demonstrem competência técnica para lidar com vidas humanas.
Vítima fatal de negligência médica
A dor da perda de um filho é incomensurável, e o luto da família Freitas é agravado pela sensação de que a morte poderia ter sido evitada com uma simples verificação. A sociedade manauara prepara manifestações e homenagens ao pequeno Benício, exigindo que o caso não caia no esquecimento, como tantos outros episódios de suposta negligência médica no país. A hashtag com o nome do menino já circula nas redes, pedindo “Justiça por Benício”.
Este triste evento também coloca em xeque os protocolos de segurança de medicamentos de alta vigilância (MAV) nos hospitais brasileiros. Medicamentos como a adrenalina deveriam ter protocolos rígidos de dispensação e administração, com alertas visuais e dupla checagem obrigatória. A banalização do risco em ambientes de emergência é um inimigo silencioso que, desta vez, cobrou o preço mais alto possível: a vida de uma criança de 6 anos que tinha um futuro inteiro pela frente.
Enquanto as investigações avançam, resta à família a memória de Benício e a luta incansável por verdade. O caso serve de triste lição para o sistema de saúde brasileiro: tecnologia e modernidade não substituem a atenção, o cuidado e a escuta ativa no momento de cuidar de uma vida. A morte de Benício não pode ser em vão; ela deve catalisar mudanças profundas na forma como hospitais treinam suas equipes e ouvem os questionamentos dos pacientes e seus familiares.
Acompanharemos de perto os desdobramentos das investigações policiais e os laudos periciais que serão divulgados nas próximas semanas. A transparência do Hospital Santa Júlia e a celeridade das autoridades competentes são o mínimo que se espera diante de uma tragédia dessa magnitude. O portal Resenha Diária continuará cobrindo o caso, trazendo informações atualizadas e cobrando respostas para que a justiça seja feita em nome de Benício Xavier de Freitas.
