Opositor é agredido e expulso de vigília pró-Bolsonaro

Ismael Lopes, coordenador da Frente Nacional dos Evangélicos, discursou ao lado de Flávio Bolsonaro e citou mortes por Covid-19 antes de ser retirado à força por simpatizantes do ex-presidente. Polícia Militar usou spray de pimenta.

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Homem jovem de barba e camisa lilás segura microfone durante vigília noturna, cercado por multidão de apoiadores em Brasília.
Ismael Lopes discursa ao microfone segundos antes de ser agredido e expulso por apoiadores do ex-presidente após criticar gestão da pandemia.

Um homem identificado como Ismael Lopes foi agredido e expulso da vigília em apoio a Jair Bolsonaro na noite deste sábado em Brasília. O episódio ocorreu em frente ao condomínio onde o ex-presidente cumpria prisão domiciliar, poucas horas após a decretação de sua prisão preventiva pelo ministro Alexandre de Moraes.

Lopes, de 34 anos, apresentou-se como coordenador da Frente Nacional dos Evangélicos e pediu para discursar durante o ato religioso. O senador Flávio Bolsonaro autorizou sua participação e lhe entregou o microfone por volta das 20h15. Dessa forma, o homem começou sua fala ao lado do próprio filho do ex-presidente.

Inicialmente, o evangélico leu uma passagem bíblica que parecia em defesa de Bolsonaro. Entretanto, o tom mudou quando ele citou o trecho que afirma que quem cava covas por elas será engolido. Em seguida, passou a criticar a gestão do ex-presidente durante a pandemia de Covid-19.

Discurso sobre pandemia provoca reação violenta

Durante sua fala, Ismael Lopes declarou que havia orado por justiça no país e para que aqueles que abrem covas caiam nelas. Contudo, ressaltou que não desejava a morte de ninguém, apenas que fossem julgados e condenados pelo mal que fizeram. Diretamente ao senador Flávio Bolsonaro, afirmou que o pai dele abriu 700 mil covas durante a pandemia.

A reação dos apoiadores foi imediata e violenta. O ex-desembargador e advogado Sebastião Coelho tomou o microfone das mãos de Lopes enquanto simpatizantes do ex-presidente avançavam sobre ele. Apesar do pedido de Flávio Bolsonaro para que não houvesse agressão, os ataques continuaram.

O homem foi expulso do local aos gritos, chutes e tapas. Enquanto era afastado, recebeu pontapés e teve uma das mangas da camisa social rasgada. Xingamentos como vagabundo e outros termos de baixo calão acompanharam a expulsão. Lopes saiu correndo e foi perseguido por vários metros.

Polícia Militar intervém com spray de pimenta

A Polícia Militar precisou intervir para conter a confusão generalizada que se instalou no local. Agentes utilizaram spray de pimenta para dispersar os agressores e conseguiram escoltar Ismael Lopes até um carro de aplicativo. Somente após a intervenção policial a situação se acalmou.

O tumulto encerrou a vigília que havia começado cerca de uma hora e meia antes. O evento reunira aproximadamente cem pessoas na rotatória de acesso à rua do condomínio Solar de Brasília 2. Além de Flávio Bolsonaro, participaram o vereador Carlos Bolsonaro, a deputada federal Bia Kicis, o deputado Marcel van Hattem e os senadores Rogério Marinho e Izalci Lucas.

Antes do incidente, pastores conduziram cânticos e fizeram pregações pedindo libertação e proteção para o ex-presidente. Flávio Bolsonaro havia declarado que o encontro tinha caráter exclusivamente religioso e não político. Todavia, também afirmou que a bancada no Congresso deveria se mobilizar pelo projeto da anistia.

Evangélico ligado a movimentos progressistas planejou discurso

Ismael Lopes é membro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, organização que realiza eventos com a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, em diferentes estados. Embora não seja pastor, ele milita por causas progressistas nas redes sociais. Em seu perfil no Facebook, utiliza uma imagem de capa com ilustrações de pensadores de esquerda.

Segundo o próprio Lopes, sua participação não foi coordenada pela Frente. Porém, ele avisou lideranças do movimento sobre sua intenção de discursar no evento bolsonarista. Para ser chamado ao microfone, apresentou-se como representante de um movimento evangélico presente em 19 estados brasileiros.

O homem já havia representado a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em uma reunião do Conselho de Participação Social da Presidência da República em dezembro de 2024. Dessa forma, sua atuação junto a setores ligados ao governo Lula era conhecida antes do episódio na vigília.

Incidente reforça argumentos sobre potencial de tumulto

A confusão na vigília acabou por confirmar as preocupações que haviam motivado a prisão preventiva de Jair Bolsonaro horas antes. O ministro Alexandre de Moraes citou especificamente a convocação do ato por Flávio Bolsonaro como fator de risco para a ordem pública em sua decisão.

O PSOL protocolou no mesmo dia uma notícia-crime contra Flávio Bolsonaro na Procuradoria-Geral da República. Os deputados do partido acusaram o senador de incitação ao crime e obstrução de Justiça, argumentando que a vigília tinha potencial de gerar tumultos e dificultar a atuação da Polícia Federal.

Por fim, o episódio evidenciou a polarização extrema que marca o cenário político brasileiro. A vigília, convocada oficialmente para orações pela saúde do ex-presidente, transformou-se em palco de violência quando um dissidente ousou expressar opinião contrária. O confronto entre apoiadores e opositores de Bolsonaro demonstra que o clima de tensão permanece elevado mesmo após a prisão do ex-mandatário.

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