Médico preso por fraude com Césio-137

O médico Luciano Henrique da Silva, preso por fraude com Césio-137, atuou no Centro de Reabilitação e Readaptação (Crer) em Goiânia; investigação revela laudos falsos e desvio de R$ 2 milhões.

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Médico preso por fraude com Césio-137 durante operação da Polícia Civil de Goiás em Goiânia.
Imagem divulgada pela Polícia Penal mostra o médico Luciano Henrique da Silva, preso durante operação que investiga fraude com laudos falsos sobre contaminação por Césio-137 em Goiás.

A Polícia Civil de Goiás prendeu cinco pessoas suspeitas de integrar um esquema de falsificação de laudos médicos e fraudes judiciais relacionados ao acidente radiológico com o Césio-137. Entre os detidos está o médico preso por fraude Luciano Henrique da Silva, que atuou no Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação (Crer), em Goiânia, até junho deste ano.

De acordo com as investigações, o grupo emitia laudos falsos para atestar doenças supostamente causadas pela exposição ao elemento radioativo. Com esses documentos, advogados ingressavam com ações judiciais pedindo isenção de imposto de renda e outros benefícios. O prejuízo apurado chega a R$ 1,7 milhão, mas poderia ultrapassar R$ 79 milhões se o esquema não fosse interrompido.

Luciano atuou um dia no Crer, diz instituição

Em nota oficial, o Crer informou que o médico preso por fraude atuou na unidade apenas no dia 25 de fevereiro de 2023, por meio de empresa terceirizada. O centro explicou que Luciano não faz parte do corpo clínico efetivo e que seu nome deixou de constar nas escalas de atendimento desde julho de 2025.

“O Crer esclarece que o profissional citado não integra o corpo clínico. Ele atuou por empresa terceirizada, prestando serviços apenas em 25 de fevereiro de 2023”, informou a direção da unidade.

A instituição acrescentou que, após essa data, o médico não voltou a exercer atividades e permanece inativo desde então.

Operação Césio 171 mira núcleo jurídico e técnico

A investigação faz parte da Operação Césio 171, conduzida pela Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Deic). A ação deflagrada na quinta-feira (30) cumpriu sete mandados de busca e apreensão e cinco de prisão temporária em diferentes endereços da Região Metropolitana de Goiânia.

Além do médico preso por fraude, foram detidos os advogados Letícia Pereira Silva Neto, Guilherme Alves de Matos Bites, Breno Brandão Silva e o engenheiro Ricardo André Marques. Todos estão detidos na Casa do Albergado.

Segundo a polícia, o grupo operava de forma estruturada, com divisão de tarefas. O médico produzia laudos falsos, o núcleo jurídico montava as ações judiciais e o engenheiro assessorava tecnicamente os pareceres que sustentavam os pedidos de indenização.

Esquema simulava contaminação de militares

As ações fraudulentas envolviam nomes de militares estaduais, supostamente contaminados pelo Césio-137. O médico preso por fraude assinava documentos que simulavam doenças graves decorrentes de radiação.

Os advogados, por sua vez, ajuizavam processos em nome desses militares, solicitando isenção indevida de imposto de renda e outros benefícios garantidos apenas a vítimas comprovadamente contaminadas. A fraude foi descoberta quando outros profissionais de saúde perceberam irregularidades nas assinaturas e comunicaram a Deic.

Mandado de prisão por pensão alimentícia

Durante o cumprimento das ordens judiciais, os agentes também encontraram um mandado de prisão em aberto contra Luciano Henrique da Silva por dívida de pensão alimentícia de R$ 3.643,51. O médico foi levado à Casa do Albergado, onde cumpre prisão temporária.

As defesas dos investigados ainda não se manifestaram oficialmente. O portal Mais Goiás informou que o espaço permanece aberto para pronunciamento.

Prejuízo poderia chegar a R$ 79 milhões

De acordo com o delegado responsável, o dano efetivo causado ao erário é de R$ 1,7 milhão, mas o prejuízo potencial seria de R$ 79 milhões, caso o esquema continuasse ativo. As fraudes envolviam manipulação de laudos, uso de documentos falsos e acesso indevido a informações sigilosas.

O médico preso por fraude teria utilizado estrutura de clínicas privadas para emitir relatórios falsos que eram anexados a processos judiciais. A Polícia Civil segue analisando computadores e prontuários apreendidos durante a operação.

Crer reforça controle sobre profissionais terceirizados

Após o episódio, o Crer anunciou a revisão dos contratos com empresas terceirizadas e o reforço dos protocolos de verificação de antecedentes profissionais. Segundo a instituição, o caso servirá de base para aprimorar mecanismos de segurança e auditoria de credenciais.

A direção reafirmou que o médico preso por fraude não mantinha vínculo permanente e que não há registro de pacientes prejudicados no período em que prestou atendimento.

Origem do nome da operação

A “Operação Césio 171” faz referência ao Césio-137, material radioativo envolvido no maior acidente radiológico do mundo fora de uma usina nuclear, ocorrido em Goiânia, em 1987. O nome também faz alusão ao artigo 171 do Código Penal, que trata de crimes de estelionato.

Essa é a segunda fase da operação, iniciada em 2024, quando a Deic identificou os primeiros indícios de falsificação de documentos e rastreou o envolvimento de profissionais de saúde e advogados.

Polícia mantém investigações e novas prisões não são descartadas

A Polícia Civil informou que a investigação continua em andamento e não descarta novas prisões. Documentos apreendidos passarão por perícia para identificar eventuais ramificações do esquema em outros estados.

O delegado afirmou que o objetivo é recuperar os valores desviados e impedir que o grupo volte a atuar. A corporação também pretende reforçar o controle sobre ações judiciais relacionadas ao Césio-137, evitando novas tentativas de fraude.

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