O caso que chocou a internet brasileira ganhou um novo capítulo dramático neste domingo (30). Trechos inéditos do depoimento do influenciador Hytalo Santos à Justiça vieram a público, revelando pela primeira vez a linha de defesa adotada pelo criador de conteúdo após sua prisão preventiva. Diferente da ostentação e das danças que marcavam seus perfis nas redes sociais, o Hytalo que apareceu diante do juiz mostrou-se abatido e adotou um discurso de benfeitor injustiçado. Ao ser questionado sobre as acusações de exploração infantil e “adultização” de menores, ele negou veementemente qualquer crime, justificando que sua relação com os adolescentes era de cuidado, praticamente uma “relação de pai e filha“.
Hytalo, que foi transferido recentemente de São Paulo para um presídio na Paraíba, afirmou em juízo sentir-se “constrangido” por estar preso após, segundo ele, ter “feito tanto por essas crianças”. A defesa técnica tenta descaracterizar os crimes de exploração sexual e tráfico de pessoas, argumentando que o conteúdo produzido na famosa “mansão” tinha cunho artístico e cultural, e não erótico. Para o Ministério Público, no entanto, a narrativa de “paizão” não se sustenta diante das evidências de lucro obtido através da exposição de corpos infantis em coreografias sugestivas.
A divulgação dessas falas ocorre em um momento crítico, onde a opinião pública aguarda o desfecho das investigações. O influenciador alegou que tudo o que era gravado tinha o consentimento dos responsáveis e que os jovens viam nele uma chance de ascensão social que o Estado ou suas próprias famílias não conseguiam prover. Essa tentativa de inverter a lógica — colocando-se como salvador e não como explorador — é a aposta central de seus advogados para tentar reverter a prisão preventiva que o mantém encarcerado.
O embate jurídico promete ser longo. Enquanto a promotoria foca na vulnerabilidade dos menores e na monetização indevida da infância, Hytalo insiste na tese da gratidão e do vínculo afetivo. As declarações dadas em audiência, agora expostas, devem reacender o debate nas redes sociais sobre os limites entre a ajuda assistencialista e o abuso de poder econômico sobre menores em situação de fragilidade.
Depoimento revela tese de defesa
No centro do Hytalo Santos depoimento justiça, está a negação da intenção libidinosa. O influenciador disse ao magistrado que as danças, muitas vezes criticadas por simularem atos sexuais ou usarem roupas sumárias, eram apenas “expressões culturais” típicas das tendências do TikTok. Ele rejeitou o rótulo de agenciador ou explorador, insistindo que nunca obrigou ninguém a gravar e que a dinâmica da casa era baseada na convivência voluntária.
A frase sobre a “relação de pai e filha” foi usada para justificar a intimidade e a autoridade que ele exercia sobre os jovens. Hytalo argumentou que arcava com custos de saúde, educação e lazer, assumindo um papel de provedor que, na sua visão, o isentaria de dolo (intenção de cometer crime). No entanto, especialistas jurídicos apontam que a “paternidade socioafetiva” não autoriza a exploração comercial da imagem de menores, nem se sobrepõe ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O sentimento de “constrangimento” citado por ele demonstra o choque de realidade. Acostumado a ser aplaudido por milhões de seguidores e a ter suas atitudes validadas por “likes”, Hytalo agora enfrenta um sistema que não opera pela lógica do engajamento, mas sim pela letra da lei. A prisão preventiva, mantida pelo juiz apesar dos apelos da defesa, sinaliza que o Judiciário vê indícios robustos de materialidade criminosa que vão além da percepção subjetiva do influenciador.
Transferência e rotina no cárcere
A realidade atual de Hytalo Santos é muito distante do luxo que ele exibia. Após ser detido em São Paulo, onde estava supostamente escondido com seu marido, ele foi transferido para o sistema prisional da Paraíba, estado onde as investigações se originaram. A mudança de presídio atende a uma lógica processual, para que ele fique à disposição da autoridade judicial competente local.
Na prisão, a rotina de gravações diárias e festas deu lugar ao isolamento e às regras rígidas do cárcere. A defesa tentou, sem sucesso, converter a prisão em medidas cautelares, alegando que Hytalo não representava risco à sociedade. Porém, o risco de reiteração criminosa e a influência que ele exerce sobre as supostas vítimas foram fatores determinantes para a manutenção da custódia.
A divulgação do depoimento pode ser uma faca de dois gumes. Se por um lado mobiliza a base de fãs que acredita na sua inocência, por outro fornece munição para a acusação, que pode apontar contradições em seu discurso de “ajuda desinteressada” diante dos lucros milionários que sua empresa auferia com os vídeos das crianças.
Acusações de exploração versus cultura
A linha tênue entre cultura e crime é o campo de batalha onde Hytalo Santos depoimento justiça se desenrola. A defesa alega que o “funk” e as “dancinhas” são manifestações culturais periféricas legítimas e que criminalizá-las seria um preconceito de classe. Hytalo defendeu que estava apenas dando visibilidade a talentos que, de outra forma, seriam ignorados pela grande mídia.
Contudo, o Ministério Público rebate focando na “adultização”. O problema não seria a dança em si, mas a erotização precoce de corpos em desenvolvimento para satisfazer o algoritmo e atrair audiência adulta. Relatórios psicológicos anexados ao processo sugerem que essa exposição pode causar danos irreversíveis à formação da identidade desses jovens, que passam a valer pelo que geram de visualização.
O argumento de que “era cultural” tenta normalizar o que a lei tipifica como exploração. O desafio de Hytalo será convencer o juiz de que o ambiente na mansão era saudável e educativo, e não uma fábrica de conteúdo onde a infância era a matéria-prima descartável.
Repercussão do caso na mídia
A exposição do depoimento no horário nobre da TV aberta, através de programas como o Fantástico, coloca o caso em uma nova dimensão nacional. Até então restrito às bolhas da internet, o debate sobre Hytalo Santos chega agora à grande massa, pressionando ainda mais o Judiciário por uma resposta exemplar.
A sociedade se vê diante de um espelho desconfortável: até que ponto o consumo de conteúdo digital financia esse tipo de exploração? A fala de Hytalo sobre ser um “pai” para os seguidores soa para muitos como uma distorção perigosa dos valores familiares, usada para mascarar relações de trabalho infantil não regulamentadas.
O desfecho deste caso poderá criar jurisprudência importante para o mercado de influenciadores digitais no Brasil. Se condenado, Hytalo Santos pode enfrentar penas longas, marcando o fim de uma era de impunidade digital. Se absolvido, o precedente aberto sobre a “liberdade artística” com menores será polêmico. Por ora, o que resta é a imagem de um “rei do engajamento” tentando explicar à Justiça por que seus “filhos” rendiam tanto dinheiro.
