O ex-deputado estadual Roberto Razuk, 84 anos, obteve autorização para cumprir prisão domiciliar apenas um dia após ser detido. A juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna concedeu o benefício considerando o estado de saúde extremamente debilitado. A decisão foi proferida nesta quarta-feira pelo Núcleo de Garantias de Campo Grande.
O empresário foi preso na terça-feira (25) durante quarta fase da Operação Successione. O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) cumpriu mandados em Dourados. A ação investiga organização criminosa envolvida na exploração de jogos ilegais em Mato Grosso do Sul.
Roberto Razuk deu entrada no Hospital Aliança após prisão. A defesa apresentou laudos médicos atestando cirurgia recente para retirada de tumor cancerígeno. O idoso necessita de cuidados especiais incluindo uso constante de aparelho de oxigênio.
A magistrada fundamentou decisão no artigo 318 do Código de Processo Penal. A lei autoriza substituição da prisão preventiva pela domiciliar para pessoas com mais de 80 anos. O dispositivo também contempla indivíduos extremamente debilitados por doença grave.
Ex-deputado consegue regime diferenciado por saúde
O Ministério Público Estadual manifestou-se favoravelmente à concessão do benefício de forma provisória. A promotoria reconheceu gravidade do quadro clínico apresentado. Os documentos médicos juntados comprovaram necessidade de tratamento especializado contínuo.
Roberto Razuk passou por duas cirurgias oncológicas recentes segundo informações da família. A esposa Délia Razuk, ex-prefeita de Dourados, confirmou operações para remoção de tumores na bexiga e rim. A situação de saúde foi classificada como extremamente delicada.
A juíza deferiu ainda pedido da defesa para realização de perícia médica oficial. O exame atestará com precisão o estado de saúde do investigado. Foi determinado ofício à AGEPEN para verificar existência de estabelecimento penal adequado no estado.
A Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário deverá informar capacidade de fornecer tratamento médico necessário. A resposta baseará-se no laudo pericial a ser apresentado. A análise determinará se sistema prisional possui estrutura para casos oncológicos graves.
Roberto Razuk cumprirá prisão preventiva em sua residência na Rua João Cândido Câmara. O endereço localiza-se em Dourados, a 251 quilômetros da capital Campo Grande. Ele usará tornozeleira eletrônica com monitoramento constante pelas autoridades.
Justiça avalia quadro clínico debilitado empresário
A decisão estabelece restrições de locomoção ao investigado. O ex-deputado não poderá se ausentar da residência sem autorização judicial prévia. O descumprimento das condições impostas resultará em retorno imediato ao regime fechado.
Os filhos de Roberto Razuk permaneceram presos após audiência de custódia. Jorge e Rafael Razuk passaram por avaliação judicial nesta quarta-feira. A magistrada manteve prisão preventiva de ambos por entender necessidade da medida.
O chefe de gabinete do deputado Neno Razuk também continua detido. Marco Aurélio Horta foi preso durante operação do Gaeco. O advogado Rhiad Abdulahad e empresário Sérgio Donizete Balthazar permanecem no sistema prisional.
A Operação Successione alcançou quarta fase investigando organização criminosa. Foram cumpridos 20 mandados de prisão preventiva em cinco municípios. A ação atingiu Campo Grande, Corumbá, Dourados, Maracaju e Ponta Porã.
Foram executados também 27 mandados de busca e apreensão. A operação estendeu-se para estados do Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul. As investigações apontaram pelo menos 20 integrantes da organização criminosa.
Empresário mato-grossense recebe benefício judicial
O Gaeco identificou que grupo tentou assumir controle do jogo do bicho em Campo Grande. A movimentação ocorreu após derrocada da família Name na Operação Omertà. Aquela ação foi deflagrada em dezembro de 2019.
Roberto Razuk foi apontado como antigo chefe da operação do jogo do bicho. A atuação concentrava-se na região sul do estado. O empresário controlava especialmente Dourados e Ponta Porã.
O deputado estadual Neno Razuk é apontado pelos promotores como líder operacional da organização. As investigações indicam que ele comandava operações diárias. Porém, decisões estratégicas passavam pelo aval do pai Roberto.
A hierarquia dentro do clã Razuk foi mapeada pelo Ministério Público. Jorge exercia papel de gerente e articulador da jogatina. Rafael também possuía grande influência na alta cúpula da organização criminosa.
O Gaeco revelou tensão entre irmãos após primeira fase da Successione. Em novembro de 2023, Jorge e Rafael questionaram decisões de Neno. Eles classificaram escolhas como equivocadas e inoportunas naquele momento.
Magistrada autoriza cumprimento pena residência
A divisão territorial do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul remonta aos anos 1990. Fahd Jamil deixou comando e dividiu operação em duas frentes. Campo Grande ficou com Jamil Name enquanto região de Dourados passou para Roberto Razuk.
O antigo líder manteve-se distante mas preservou influência. Reportagem da revista Piauí em dezembro de 2024 revelou conexões persistentes. A estrutura familiar garantiu continuidade do esquema ao longo das décadas.
Roberto Razuk nasceu em Campo Grande em 7 de março de 1941. Filho de emigrados do Líbano, possui origem turca. Construiu carreira política em Dourados conquistando respeito de aliados e adversários.
Nos anos 1980 e início dos 1990, jogo do bicho corria solto em Dourados. Emissoras de rádio locais transmitiam ao vivo sorteios do Galo de Ouro. Naquela época, poucos viam jogatina como atividade ilegal.
Em cada esquina havia banca para registrar apostas. O sistema operava ao estilo do vale o escrito, prática dos bicheiros cariocas. A atividade integrava-se naturalmente ao cotidiano da cidade fronteiriça.
Roberto Razuk ganhou respeito entre desportistas e cronistas do futebol. Por muitos anos presidiu o Ubiratan Esporte Clube. O clube conhecido como Leão da Fronteira conquistou três títulos sul-mato-grossenses.
O empresário apoiou financeiramente o time durante período de glórias. A paixão pelo futebol consolidou popularidade na região. O nome Razuk tornou-se sinônimo de poder na fronteira.
Esta não é primeira vez que Roberto Razuk enfrenta problemas com Justiça. Em 2002, foi preso por fraude em empréstimo bancário. Em 2007, sofreu nova detenção durante Operação Xeque-Mate.
A atual operação representa fase mais ampla de investigação sobre jogo do bicho. Autoridades identificaram uso de violência para estabelecer domínio sobre jogos ilegais. O grupo atuava com organização criminosa armada.
As investigações revelaram estrutura sofisticada de exploração ilegal. Policiais militares teriam atuado como gerentes do esquema. A corrupção permeava diferentes níveis das instituições estaduais.
O caso permanece sob investigação do Ministério Público. Novas fases da operação podem ser deflagradas. Autoridades trabalham para desarticular completamente rede criminosa.
A defesa de Roberto Razuk sustenta inocência do empresário. Advogados argumentam perseguição política contra família. O caso ganha repercussão nacional pela dimensão da operação.