Uma tarde de sexta-feira que deveria ser de aprendizado transformou-se em cenário de horror na Zona Norte do Rio de Janeiro. O campus Maracanã do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet/RJ) foi palco de um crime brutal neste dia 28 de novembro de 2025. Dois disparos fatais silenciaram a rotina da instituição e tiraram a vida de duas servidoras públicas dedicadas. O autor dos disparos, identificado como um ex-funcionário da casa, cometeu suicídio logo após o ataque, deixando um rastro de sangue e perguntas sem respostas imediatas.
O pânico se espalhou rapidamente pelos corredores assim que os primeiros estampidos foram ouvidos. Alunos e professores, sem entender a gravidade da situação, buscaram refúgio em salas de aula e banheiros. Relatos de testemunhas descrevem momentos de terror e correria, com muitos estudantes enviando mensagens desesperadas para familiares. A Polícia Militar foi acionada imediatamente, cercando o perímetro e evacuando o prédio para garantir a segurança dos presentes, mas infelizmente as vidas das duas mulheres já haviam sido ceifadas.
As vítimas foram identificadas como Allane de Souza Pedrotti Mattos e Layse Costa Pinheiro. Ambas exerciam funções importantes na estrutura educacional e de apoio ao estudante. A perda dessas profissionais representa um golpe duro não apenas para suas famílias, mas para toda a comunidade escolar que convivia diariamente com seu trabalho. O crime chocou pela frieza e planejamento, ocorrendo dentro de um ambiente que, por definição, deveria ser seguro e acolhedor para o desenvolvimento do conhecimento.
Pânico e mortes no tiroteio no Cefet Maracanã
O atirador foi identificado pela polícia como João Antonio Miranda Tello Ramos Gonçalves, de 47 anos. Segundo as primeiras investigações da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), ele era ex-servidor da instituição e havia sido exonerado recentemente. Informações preliminares apontam que o crime pode ter sido motivado por divergências profissionais e pessoais. Há relatos de que o autor dos disparos tinha dificuldades em aceitar a hierarquia, especialmente por ser chefiado por mulheres, o que levanta a hipótese de misoginia como um dos componentes da tragédia.
Allane de Souza Pedrotti Mattos ocupava o cargo de diretora da Divisão de Acompanhamento e Desenvolvimento de Ensino. Sua trajetória era marcada pelo compromisso com a qualidade da educação pública. Já Layse Costa Pinheiro atuava como psicóloga na instituição, oferecendo suporte emocional e mental para a comunidade acadêmica. O trabalho de ambas era fundamental para o funcionamento humanizado do Cefet. A violência abrupta que encerrou suas carreiras deixa um vazio irreparável na estrutura administrativa e pedagógica do centro de ensino.
O clima de consternação tomou conta da frente da unidade após a confirmação dos óbitos. Pais de alunos chegavam aos montes, aflitos por notícias de seus filhos. O trânsito na região do Maracanã ficou complicado devido à intensa movimentação de viaturas da polícia, bombeiros e imprensa. A direção do Cefet/RJ decretou luto oficial e suspendeu todas as atividades acadêmicas e administrativas por tempo indeterminado, enquanto colabora com as autoridades para o esclarecimento total dos fatos.
Ex-servidor ataca colegas e comete suicídio
A dinâmica do crime sugere que João Antonio foi ao local com um alvo definido. Ele conhecia a rotina e os locais de trabalho das vítimas. A facilidade com que um ex-funcionário armado conseguiu acessar as dependências internas levanta debates urgentes sobre a segurança nas instituições federais de ensino. O Ministério da Educação (MEC) emitiu uma nota de pesar, solidarizando-se com as famílias e prometendo acompanhar de perto as investigações, além de prestar todo o apoio necessário à comunidade do Cefet neste momento de dor.
A questão da saúde mental no ambiente de trabalho e as relações hierárquicas também vêm à tona. Colegas relataram que o atirador apresentava comportamento instável e que sua saída da instituição não havia sido tranquila. O ressentimento acumulado, somado a possíveis transtornos não tratados, pode ter funcionado como um gatilho para a ação violenta. A Polícia Civil agora trabalha para mapear os passos de João Antonio nos dias anteriores ao crime, buscando entender se houve premeditação detalhada.
O feminicídio no ambiente de trabalho é uma realidade alarmante que este caso expõe de forma crua. O fato de o atirador ter mirado especificamente em duas mulheres que exerciam cargos de liderança ou suporte técnico reforça a necessidade de combater o machismo estrutural. A sociedade e as instituições precisam estar atentas aos sinais de comportamentos agressivos e discriminatórios, agindo preventivamente para evitar que conflitos administrativos escalem para tragédias irreversíveis como a presenciada hoje.
Comunidade lamenta tragédia na Zona Norte
Nas redes sociais, a repercussão foi imediata e dolorosa. Alunos, ex-alunos e servidores usaram seus perfis para homenagear Allane e Layse, lembrando de sua dedicação e carinho. A hashtag #LutoCefet rapidamente subiu aos assuntos mais comentados, com mensagens pedindo paz e justiça. A sensação de vulnerabilidade é palpável entre os estudantes, que agora associam seu local de estudo a uma memória traumática de violência extrema. O retorno às aulas exigirá um forte trabalho de acolhimento psicológico.
A ministra dos Direitos Humanos e políticos locais também se manifestaram, repudiando o ato de violência. A deputada Elika Takimoto, que também é professora da instituição, declarou estar devastada com a perda das colegas. O episódio reacende o debate sobre o controle de armas e a segurança pública no Rio de Janeiro, embora este caso específico tenha contornos de um crime passional e vingativo, focado em relações interpessoais deturpadas dentro do ambiente laboral.
Enquanto a perícia finaliza seus trabalhos no local do crime, as famílias de Allane e Layse iniciam o doloroso processo de despedida. O Cefet, uma instituição centenária e de excelência, terá a difícil missão de se reconstruir emocionalmente após este dia sombrio. A memória das duas servidoras deve ser preservada como símbolo de dedicação à educação pública, enquanto a investigação policial deve trazer todas as respostas para que a sociedade entenda como tamanha brutalidade pôde acontecer.
Segurança nas escolas volta a ser debatida
Este triste evento no Cefet Maracanã não é um caso isolado de violência em escolas no Brasil, mas possui características específicas que o diferenciam de ataques indiscriminados. Aqui, a violência foi direcionada, fruto de conflitos internos mal resolvidas. No entanto, o efeito na sensação de segurança é o mesmo. A comunidade escolar se sente desprotegida. Medidas de controle de acesso e monitoramento certamente serão revistas e intensificadas nas próximas semanas em toda a rede federal.
É fundamental que o debate sobre este crime não se encerre apenas na esfera policial. Ele deve servir de alerta para a gestão de pessoas no serviço público e para a proteção de mulheres em cargos de chefia. A violência de gênero não escolhe lugar ou hora, e suas vítimas hoje foram duas profissionais que estavam apenas cumprindo seu dever. A resposta das autoridades deve ser firme, não apenas na elucidação do caso, mas na criação de políticas que protejam efetivamente os servidores em seu exercício profissional.
O fim de tarde no Maracanã foi marcado pelo silêncio e pelas lágrimas. O campus, geralmente vibrante e cheio de vida, encerra esta sexta-feira mergulhado em luto. A sociedade carioca espera que a memória de Allane e Layse seja honrada com justiça e com mudanças efetivas que impeçam que outras mulheres sejam vítimas do ódio e da intolerância em seus locais de trabalho. O Cefet resistirá, mas as cicatrizes deste dia 28 de novembro ficarão marcadas para sempre em sua história.
