A confirmação de que Flávio Bolsonaro será o candidato do PL à Presidência da República em 2026 não agitou apenas Brasília, mas também as redações dos principais jornais econômicos e políticos do mundo. Veículos da imprensa internacional, como a Bloomberg, destacaram a escolha do “filho 01” como uma tentativa estratégica de suavizar a imagem da direita brasileira. A análise predominante no exterior é que, diferentemente da retórica incendiária de seu pai ou da combatividade ideológica de seus irmãos Carlos e Eduardo, Flávio possui um trânsito político que lhe confere o título de “mais moderado” do clã. Essa percepção é reforçada pela sua atuação no Senado, onde construiu pontes com partidos de centro que seriam impossíveis para outras figuras do bolsonarismo raiz.

Nesse sentido, a narrativa de “moderação” não é apenas uma construção externa, mas um ativo que a própria campanha pretende explorar. Em entrevistas recentes, o deputado Eduardo Bolsonaro endossou essa visão, afirmando categoricamente que Flávio tem “condições totais” de liderar a chapa justamente por possuir esse perfil mais político e menos atrito. Para os observadores internacionais, essa característica é vital para que a oposição tenha chances reais de disputar o eleitorado que rejeita o radicalismo. A aposta é que o senador consiga, através do diálogo e de acordos de bastidores, unificar uma base que vai além dos fiéis seguidores de Jair Bolsonaro.
Além disso, a reação do mercado financeiro, embora inicialmente negativa com a queda do Ibovespa e a alta do dólar, reflete uma cautela que busca entender qual Flávio entrará na campanha. Investidores estrangeiros, ouvidos por agências de notícias, apontam que a “moderação” será testada na prática quando temas econômicos sensíveis entrarem em pauta. A expectativa lá fora é saber se ele manterá o discurso liberal prometido ou se cederá às tentações populistas que marcaram momentos da gestão anterior. A imprensa global observa se o “figurino” de estadista que Flávio tem tentado vestir resistirá ao calor da batalha eleitoral que se avizinha.
Senador viés conciliador
A trajetória de Flávio no Congresso Nacional é o principal argumento utilizado pelos analistas internacionais para justificar o rótulo de moderado. Ao contrário de seus irmãos, que frequentemente usam as redes sociais para ataques diretos às instituições, Flávio optou por um caminho mais institucional. Sua capacidade de sentar à mesa com lideranças do Centrão e até mesmo com adversários pontuais para destravar pautas é vista como uma qualidade rara na família. Essa postura pragmática permitiu que ele navegasse com relativa tranquilidade durante os anos mais turbulentos do governo do pai, servindo muitas vezes como bombeiro em crises institucionais.
Por conseguinte, essa habilidade de articulação é o que o diferencia no tabuleiro de 2026. Enquanto a extrema-direita global tende a apostar em figuras de ruptura, a escolha de Flávio sinaliza um movimento em direção à “política tradicional”. Para a imprensa estrangeira, isso pode significar um Brasil menos imprevisível diplomaticamente caso ele vença. A diplomacia, que exige tato e negociação, é uma área onde o radicalismo costuma fechar portas, e a aposta na conciliação pode ser a chave para reabrir diálogos comerciais importantes que ficaram estremecidos.
Entretanto, é preciso ponderar que a moderação no estilo não significa necessariamente moderação nas pautas. O senador continua sendo um defensor ferrenho das bandeiras conservadoras, da pauta de costumes e da política de segurança pública linha-dura. O que muda, segundo a análise internacional, é a forma. O “como” se faz política parece ser, neste momento, mais importante para a estratégia eleitoral do que o “o quê” se defende. Flávio é a embalagem mais palatável para o conteúdo bolsonarista, desenhada para não assustar o eleitor médio indeciso.

Político face pragmática
A comparação com figuras como Marine Le Pen na França ou Giorgia Meloni na Itália é inevitável nas análises estrangeiras. Ambas buscaram suavizar suas imagens para se tornarem elegíveis, num processo de “desdiabolização” da direita radical. Flávio parece seguir essa cartilha, buscando se apresentar como um gestor preocupado com a economia e a segurança, distanciando-se das polêmicas estéreis de guerras culturais que mobilizam a base, mas afastam o centro. A Bloomberg Linea, por exemplo, citou analistas que veem na divisão da oposição um risco, mas na figura de Flávio uma tentativa de coesão pragmática.
Outrossim, o pragmatismo de Flávio também é visto na forma como ele lidou com as investigações que o cercaram nos últimos anos. Em vez do confronto aberto e barulhento contra o Judiciário, sua defesa atuou de forma técnica nos tribunais superiores, conseguindo vitórias importantes que garantiram sua elegibilidade. Essa inteligência jurídica e política é citada como um diferencial competitivo. Para o eleitor que busca resultados e estabilidade, a promessa de um governo que “funciona” sem crises diárias é um apelo forte que a campanha deve explorar à exaustão.
Consequentemente, o desafio será manter essa face pragmática quando os ataques dos adversários começarem. A campanha presidencial é um ambiente de alta pressão onde deslizes são fatais. A imprensa internacional questiona se Flávio conseguirá manter a compostura quando confrontado com o legado controverso de seu pai ou com as acusações passadas. A resposta a essas provocações definirá se o pragmatismo é uma característica intrínseca do senador ou apenas uma máscara de campanha que cairá no primeiro debate televisionado.
Parlamentar tom ameno
A linguagem corporal e o tom de voz de Flávio são frequentemente contrastados com os de Jair Bolsonaro. Onde o pai gritava, o filho fala baixo; onde o pai gesticulava com agressividade, o filho mantém a postura de senador da República. Essa diferença estética tem um peso enorme na construção da imagem pública. Jornais europeus, que cobrem a política latino-americana com foco na estabilidade democrática, veem nesse “tom ameno” uma possibilidade de redução da temperatura política no Brasil. A polarização extrema é vista como prejudicial aos negócios, e um candidato que prometa pacificação, mesmo vindo da direita, atrai olhares curiosos.
Ademais, o tom ameno facilita a entrada em ambientes onde o bolsonarismo enfrenta resistência, como na classe média alta e no setor cultural. Flávio tem a missão de “furar a bolha”. A rejeição ao sobrenome Bolsonaro é alta, mas a rejeição à pessoa de Flávio é, segundo pesquisas internas, menor do que a de seus irmãos ou do próprio pai. A estratégia é usar essa menor rejeição para dialogar com setores da sociedade que estão cansados do governo atual, mas que têm medo da volta do estilo beligerante de 2018.
Dessa forma, a campanha deve investir pesado em peças publicitárias que mostrem Flávio em situações de diálogo, família e trabalho legislativo, reforçando a imagem de serenidade. O objetivo é criar um contraste não apenas com a esquerda, mas com a própria memória recente do governo de direita. É um exercício de equilíbrio delicado: ser Bolsonaro o suficiente para herdar os votos do pai, mas diferente o suficiente para ganhar os votos que o pai perdeu.
Filho articulador hábil
Por fim, a habilidade de Flávio como articulador foi testada e aprovada dentro do próprio PL. A confirmação de seu nome veio após uma série de reuniões onde ele conseguiu pacificar, ao menos momentaneamente, as alas divergentes do partido. Valdemar Costa Neto, uma raposa política que não costuma dar ponto sem nó, chancelou a escolha porque vê em Flávio alguém com quem é possível negociar acordos de longo prazo. A fidelidade partidária e a capacidade de cumprir combinados são moedas valiosas em Brasília, e Flávio acumulou capital nesse sentido.
Em suma, a visão da imprensa internacional sobre Flávio Bolsonaro como o “moderado” do clã é um reflexo de sua atuação nos bastidores e de uma estratégia de marketing político bem desenhada. Se essa moderação será suficiente para vencer as eleições de 2026, ainda é uma incógnita, mas é certo que ela reposiciona o jogo político, obrigando os adversários a recalcular suas rotas de ataque. O Brasil e o mundo observam agora se o “Bolsonaro Paz e Amor” é uma realidade ou apenas uma miragem eleitoral.
