Governo do Estado do Rio de Janeiro deu início nesta segunda-feira (24) à Operação Barricada Zero, ação integrada que visa remover sistematicamente barricadas instaladas por organizações criminosas em comunidades da região metropolitana. Força-tarefa coordenada pelo Gabinete de Segurança Institucional reúne equipes da Polícia Militar, Polícia Civil, secretarias estaduais e prefeituras municipais para desobstruir acessos que restringem direito de ir e vir dos moradores, dificultam chegada de serviços essenciais e comprometem trabalho das forças de segurança.
Operação foi anunciada pelo governador Cláudio Castro em 17 de novembro após mapeamento realizado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) identificar 13.604 pontos de bloqueio espalhados pelo estado fluminense. Obstáculos variam desde lixeiras, entulhos e caçambas até verdadeiras estruturas de engenharia construídas especificamente para impedir acesso das forças policiais. Informações serão atualizadas em tempo real pelas Polícias Civil e Militar para ampliar precisão do mapeamento e garantir maior efetividade das ações.
Cinco municípios iniciam remoção nesta segunda-feira
Equipes atuam hoje na Cidade de Deus na Zona Oeste da capital, além de Duque de Caxias (comunidade Mangueirinha), Nova Iguaçu (Grão Pará), Queimados (São Simão e Dom Bosco) e São Gonçalo (Jardim Catarina). Cronograma inicial contempla 12 municípios da região metropolitana: Rio de Janeiro, Belford Roxo, Japeri, Nova Iguaçu, São Gonçalo, Itaboraí, Duque de Caxias, Queimados, São João de Meriti, Nilópolis, Mesquita e Maricá. Operação mobiliza ações conjuntas de engenharia, inteligência, infraestrutura e segurança pública.
Durante primeiro dia de operação, policiais do 18º Batalhão de Polícia Militar prenderam quatro criminosos na localidade da Cidade de Deus. Na ação, uma pistola e diversas drogas foram apreendidas, com ocorrência encaminhada à 32ª Delegacia de Polícia. Prisões demonstram que operação combina simultaneamente remoção física de obstáculos com repressão policial contra traficantes responsáveis por instalação e manutenção das barricadas.
Governador promete resposta dura contra reinstalação
Governador Cláudio Castro afirmou que “essa ação integrada traz recado muito claro para os que insistem em interromper direito de ir e vir dos moradores: nós não vamos mais tolerar que barricadas sejam instaladas no Rio de Janeiro. E para os que ousarem reinstalar esses obstáculos, resposta será dada à altura, com operações das unidades especiais das polícias Civil e Militar”. Castro anunciou que, se tráfico vier a colocar novas barreiras após remoção, terá início operação das tropas de elite estadual formada pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar e Coordenadoria de Operações Especiais (Core) da Polícia Civil.
Segundo governador, iniciativa prevê não apenas desobstrução dos acessos, mas retirada completa das estruturas utilizadas como barricadas, incluindo construções, veículos, cabos e restos de madeira. “Prefeituras terão papel fundamental, principalmente no fornecimento de caminhões para remoção dos materiais. Valas abertas por criminosos também serão aterradas, com aplicação imediata de concreto”, explicou Castro durante anúncio da operação. Estado fornecerá kits de demolição e corte, iniciando com 50 equipamentos, com previsão de ampliação conforme necessidade operacional.
Equipamentos especializados e equipes técnicas
Operação Barricada Zero utiliza retroescavadeiras, rompedores hidráulicos, caminhões basculantes, veículos de concreto, maçaricos, motosserras e equipes técnicas especializadas para remoção dos bloqueios. Máquinas como retroescavadeiras e tratores, provenientes de contratos com diferentes secretarias estaduais, também serão empregadas. Palácio Guanabara disponibilizará meios aos municípios para demolição das estruturas, utilizando inclusive maquinário contratado por secretarias diversas do governo estadual.
Kits são compostos com ferramentas de alto desempenho utilizadas para remoção de barreiras e estruturas irregulares. “Ideia é que a gente consiga restituir e restabelecer, de uma vez só, mobilidade urbana”, explicou governador Cláudio Castro. Polícia Militar será responsável pela segurança durante operações, garantindo proteção das equipes de engenharia e infraestrutura que realizam demolições e remoções dos materiais que compõem barricadas.
Mapeamento identifica quatro tipos principais de obstáculos
De acordo com Castro, barricadas foram identificadas por meio de drones e denúncias ao Disque Denúncia, sendo que número pode ser ainda maior que 13.604 pontos mapeados inicialmente. Governador classificou quatro tipos principais de obstruções que dificultam acesso às comunidades. Obstáculos variam desde objetos simples como lixeiras, entulhos e caçambas até verdadeiras estruturas de engenharia construídas com concreto e aço fincados no chão que só podem ser retirados com auxílio de retroescavadeiras e furadeiras especializadas.
Em março de 2025, Polícia Militar retirou 56 toneladas de barricadas que dificultavam acesso de moradores a comunidades da zona norte do Rio. Barreiras eram formadas de concreto e aço e operação desobstruiu cerca de 10 ruas em diferentes pontos do Complexo do Chapadão em Costa Barros. Ao longo de 2024, forças de segurança fluminenses retiraram mais de 7 mil toneladas de barricadas em comunidades dominadas por facções criminosas, segundo secretário de Segurança Pública Victor Santos.
Controle territorial e limitação de direitos fundamentais
Segundo secretário Victor Santos, barricadas representam “mais que obstáculos físicos”. “Elas são formas de controle que essas organizações criminosas fazem da sociedade e da comunidade local. Aonde há bloqueio e medo, estado, com certeza, tem que chegar”, afirmou. Declaração foi feita durante coletiva sobre Operação Torniquete, realizada no conjunto de favelas do Alemão, onde polícia também atacou esquema de lavagem de dinheiro do Comando Vermelho.
Barricadas representam limitação territorial imposta por criminosos que buscam afirmar domínio sobre áreas sob controle de facções. Estruturas funcionam não apenas como proteção contra incursões policiais, mas também como pontos de extorsão. Em janeiro de 2025, Secretaria de Ordem Pública (Seop) removeu oito barricadas em operação conjunta em comunidades da Ilha do Governador que funcionavam como pedágios para extorsão de motoristas de aplicativo, conforme investigação da Polícia Civil revelou.
Prisão do “Mentor de Barricadas” precedeu operação
Em 18 de novembro, Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu Cosme Rogério Ferreira Dias, conhecido como “Mentor de Barricadas”. Prisão fez parte de nova fase da Operação Contenção, deflagrada para impedir expansão territorial do Comando Vermelho na capital fluminense. Apontado como chefe do braço financeiro da organização criminosa, Cosme Ferreira Dias foi preso em casa, em condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes na Zona Sudoeste do Rio.
Castro afirmou que Operação Contenção, de bloqueio ao avanço das facções iniciada no final de outubro, criou momento propício para Barricada Zero. “Após essa operação, é hora que a gente tem mais legitimidade, mais apoio popular e mais força para retirar essas barricadas. Então, isso tudo será planejado com prefeito e prefeitura, para que a gente possa ter sucesso na operação fazendo mini comitê local para que dentro desse comitê seja feito planejamento, execução e pós para a gente ter participação popular em cima disso”.
Sistema de bonificação para policiais
Castro anunciou sistema de bonificação para policiais civis e militares que retirarem barricadas e também impedirem retorno delas aos territórios. Medida visa incentivar atuação permanente das forças de segurança na manutenção das vias desobstruídas. Governador enfatizou que não vai “permitir que criminosos impeçam direito de ir e vir dos cidadãos. Retirada dessas barricadas é fundamental para devolver tranquilidade às comunidades e garantir acesso dos serviços essenciais”.
Trabalho em conjunto com prefeituras vai envolver limpeza, recuperação de vias, reorganização urbana e devolução dos espaços públicos à população. Ação teve finalidade de garantir livre circulação da população e também restabelecer fornecimento de serviços públicos e privados essenciais, como luz, telecomunicações, água, coleta de lixo e transporte público que frequentemente ficam comprometidos pela presença das barricadas instaladas por facções criminosas.
Contexto de violência e controle territorial
Operação ocorre em contexto de crescente violência relacionada ao controle territorial de facções. Em 2024, ao menos nove pessoas foram baleadas ou agredidas por traficantes ao entrarem por engano na favela da Cidade Alta. Motorista de aplicativo e passageira foram rendidos após desviarem de barricada. Outros casos resultaram em feridos e desaparecidos, destacando risco enfrentado por quem passa pelas vias expressas ao redor das favelas.
Operação aconteceu cerca de semana após operação policial que resultou em 121 mortos — sendo 117 suspeitos e quatro policiais — nos complexos da Penha e do Alemão, considerada uma das mais letais da história do Rio de Janeiro. Ministério Público relatou ao Supremo Tribunal Federal lesões atípicas em operação que motivou investigações sobre uso da força por parte das polícias fluminenses.
Reunião com prefeitos da região metropolitana
Governador Cláudio Castro reuniu-se em 17 de novembro com prefeitos da Região Metropolitana para alinhar plano conjunto de remoção de barricadas em comunidades sob domínio do crime organizado. Participaram do encontro prefeitos Eduardo Paes (Rio), Capitão Nelson (São Gonçalo), Marcelo Delaroli (Itaboraí), Dudu Reina (Nova Iguaçu), Marotto Miranda (Mesquita), Glauco Kaiser (Queimados), Léo Vieira (São João de Meriti), Fernanda Ontiveros (Japeri) e Márcio Canella (Belford Roxo), além de representantes de Nilópolis, Duque de Caxias e Maricá.
Planejamento será guiado por diagnósticos técnicos produzidos a partir de ferramentas de inteligência do Instituto de Segurança Pública, que continuará monitorando situação em tempo real. Objetivo declarado é garantir direito de ir e vir, devolver segurança às comunidades e impedir que crime limite acesso de moradores, serviços e agentes públicos. Operação Barricada Zero representa compromisso do governo estadual com retomada da soberania territorial do Estado em áreas historicamente dominadas por facções criminosas.