Rodrigo Bacellar deixa sede da Polícia Federal: ALERJ revoga prisão do presidente

Após decisão da Assembleia Legislativa por 42 votos a 21, deputado do União Brasil ganha liberdade; STF havia ordenado prisão preventiva por suposta obstrução de justiça e vazamento de operação policial.

Foto de Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj, discursando ao microfone em sessão plenária.
O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), durante sessão na Alerj. Ele foi preso pela Polícia Federal por suspeita de vazar informações de operação contra o ex-deputado TH Joias, acusado de ligação com o Comando Vermelho. (Foto: Thiago Lontra/ALERJ)

O deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), Rodrigo Bacellar (União Brasil), deixou a sede da Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá, na noite desta terça-feira (9). A saída do parlamentar ocorre pouco mais de 24 horas após o plenário da Casa Legislativa aprovar, por ampla maioria, a revogação de sua prisão preventiva. Bacellar estava detido desde o dia 3 de dezembro, alvo da Operação “Unha e Carne”, deflagrada por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A movimentação na porta da Polícia Federal foi intensa, com advogados e assessores aguardando os trâmites finais do alvará de soltura. A liberação marca o capítulo mais recente de uma crise institucional que coloca frente a frente o Judiciário e o Legislativo fluminense. A prisão havia sido decretada sob a suspeita de que Bacellar teria vazado informações privilegiadas sobre a “Operação Zargun” para o ex-deputado TH Joias, supostamente ligado à facção criminosa Comando Vermelho.

Liberdade do parlamentar

A saída de Rodrigo Bacellar não encerra as investigações, mas devolve ao cenário político do Rio de Janeiro sua figura central. A decisão de soltura baseou-se no artigo 53 da Constituição Federal, que confere às casas legislativas o poder de revisar prisões de parlamentares no exercício do mandato. A votação que garantiu a liberdade de Bacellar foi expressiva: 42 deputados votaram a favor da revogação da medida cautelar, enquanto 21 foram contra, além de duas abstenções.

A defesa do deputado sustentou, desde o início, que a prisão era desnecessária e arbitrária. Segundo os advogados, Bacellar sempre esteve à disposição das autoridades e não representava risco à ordem pública ou à instrução criminal. No entanto, a Polícia Federal argumentou que a manutenção do presidente da ALERJ em liberdade poderia comprometer a coleta de provas, dada a sua influência política e a gravidade das acusações de interferência em inquéritos sigilosos envolvendo o crime organizado.

Revogação da custódia

O processo que culminou na saída de Bacellar da carceragem da PF envolveu intensas articulações nos bastidores da ALERJ. A sessão que deliberou sobre a soltura foi marcada por discursos inflamados sobre a autonomia do Parlamento estadual frente às decisões monocráticas do STF. Deputados aliados argumentaram que a prisão preventiva, sem condenação definitiva, feria as prerrogativas do mandato conferido pelo voto popular.

Por outro lado, a oposição criticou duramente a celeridade com que a Casa agiu para blindar seu presidente. Parlamentares contrários à soltura lembraram que as evidências apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) eram robustas. Entre as provas citadas estariam trocas de mensagens e registros telefônicos que indicariam, segundo a PF, o alerta dado por Bacellar a TH Joias horas antes da operação que visava prender o aliado. A revogação da custódia, portanto, é vista por críticos como um movimento de autoproteção corporativista.

Acusações de obstrução

O inquérito que levou Rodrigo Bacellar à prisão detalha uma suposta rede de proteção a figuras ligadas ao tráfico de drogas dentro da política fluminense. A Operação “Unha e Carne” investiga se o presidente da ALERJ utilizou seu cargo e seus contatos para blindar TH Joias, acusado de ser o elo entre o poder público e o Comando Vermelho. A PF afirma que Bacellar teria orientado o ex-deputado a se desfazer de provas e a fugir antes da chegada dos agentes federais em setembro.

Um dos pontos mais sensíveis da investigação refere-se à interceptação de diálogos onde Bacellar supostamente discute a operação policial iminente. Para o ministro Alexandre de Moraes, essas condutas configuram obstrução de justiça e atentado contra o Estado de Direito. A gravidade reside na suspeita de que a estrutura do Estado estaria sendo usada para fortalecer facções criminosas em troca de “milhões de votos” em áreas dominadas pelo tráfico, conforme apontado nos relatórios da inteligência federal.

Imbróglio jurídico-político

A soltura de Bacellar abre um precedente perigoso e reacende o debate sobre os limites da imunidade parlamentar. Embora a Constituição garanta que deputados só possam ser presos em flagrante de crime inafiançável, a interpretação do STF em casos recentes tem sido mais rigorosa. A decisão da ALERJ de derrubar a ordem de Moraes pode gerar uma nova reação do Supremo, que ainda analisará a validade do ato legislativo estadual frente aos indícios de crimes comuns.

O cenário político no Rio de Janeiro, historicamente marcado por prisões de ex-governadores e presidentes da Assembleia, vive agora um momento de tensão máxima. O retorno de Bacellar à presidência da Casa, embora legalmente amparado pela votação dos pares, ocorre sob a sombra de uma investigação federal em curso. A sociedade civil e entidades de transparência observam com cautela os desdobramentos, temendo que a normalização institucional mascare a gravidade das denúncias de infiltração do crime organizado nas esferas de poder.

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