A população de Boa Vista, em Roraima, acordou nesta semana diante de uma daquelas histórias que parecem roteiro de filme, mas que retratam a dura realidade do crime no Brasil. Francisco Gleiton Martins de Oliveira, um rosto familiar para milhares de telespectadores e internautas do estado, trocou os holofotes dos estúdios de TV pelas páginas policiais dos sites governamentais.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) atualizou recentemente sua “Lista de Procurados Nacional“, incluindo Francisco Gleiton como um dos alvos prioritários de captura no estado de Roraima. A medida, que coloca o influenciador no mesmo patamar de periculosidade de chefes de facções e traficantes internacionais, marca o ponto mais baixo de uma trajetória que, até pouco tempo, era celebrada nas colunas sociais e palcos da região Norte.
A ironia do destino não passou despercebida: Francisco Gleiton construiu parte de sua fama comandando um programa policial. Diariamente, ele entrava na casa das pessoas para narrar prisões, cobrar segurança e apontar o dedo para a criminalidade. Hoje, é a sua foto que estampa o “Projeto Captura”, uma iniciativa federal que visa integrar esforços para prender indivíduos que representam risco elevado à sociedade ou cujos crimes possuem gravidade acentuada.
A inclusão na lista do MJSP não é um procedimento burocrático simples. Ela exige que o foragido possua mandado de prisão em aberto (cautelar ou definitiva) e que sua captura seja considerada estratégica para o combate ao crime organizado ou para a segurança pública interestadual. Embora os crimes específicos muitas vezes não sejam detalhados na vitrine pública do portal para preservar o andamento de investigações sigilosas, a presença de Gleiton ali indica que as autoridades esgotaram as tentativas convencionais de localização.
Comunicador Foragido
A ascensão de Francisco Gleiton na mídia local foi marcada por sua versatilidade. Além da faceta de apresentador sisudo que cobrava as autoridades, ele investiu pesado na carreira artística como cantor e influenciador digital. Suas redes sociais eram uma vitrine de sucesso, ostentando viagens, shows e o estilo de vida que muitos de seus seguidores almejavam.
No entanto, nos bastidores, uma outra realidade começava a ser desenhada pelas forças de segurança. A investigação que culminou em sua inclusão na lista de procurados aponta para uma vida dupla, onde a exposição pública servia, em muitos momentos, como um escudo social. A Polícia Civil de Roraima, em trabalho conjunto com a inteligência federal, identificou elementos que tornavam imperativa a sua prisão.
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Quando a operação para capturá-lo foi deflagrada, o “apresentador da lei” já havia desaparecido. A fuga transformou o caso, que poderia ser apenas mais uma ocorrência local, em uma questão de honra para a segurança pública do estado. A suspeita é de que ele possa estar utilizando sua rede de contatos e recursos financeiros acumulados para se movimentar entre estados ou até mesmo países fronteiriços, aproveitando a geografia de Roraima.
A notícia de sua condição de foragido caiu como uma bomba entre fãs e ex-colegas de trabalho. Muitos relembraram, nas redes sociais, discursos moralistas feitos por ele no ar, agora ressignificados sob a luz das acusações criminais. O choque de ver alguém que “almoçava e jantava” com a polícia sendo agora caçado por ela reflete a complexidade das dinâmicas sociais na fronteira.
Ex-Âncora Investigado
O “Projeto Captura” do MJSP, onde o nome de Francisco Gleiton agora figura, é uma ferramenta moderna de combate ao crime. Ele funciona divulgando amplamente a imagem de foragidos para que a população de todo o Brasil possa atuar como os “olhos” da polícia.
Estar nessa lista significa que o indivíduo perdeu o direito ao anonimato em qualquer canto do território nacional. Hotéis, aeroportos e rodoviárias, que utilizam sistemas integrados de verificação, agora possuem o alerta vermelho ligado para o nome do influenciador. A estratégia é asfixiar a logística do foragido, tornando cada deslocamento um risco iminente de prisão.
As autoridades policiais alertam que a rede de proteção que, porventura, esteja acobertando Francisco Gleiton também está na mira. O Código Penal brasileiro é claro: prestar auxílio a criminoso para subtraí-lo à ação da autoridade pública é crime de favorecimento pessoal. Amigos, familiares ou fãs que estejam dando guarida ao ex-apresentador podem ser responsabilizados criminalmente.
A investigação segue em sigilo quanto aos passos exatos da polícia para não alertar o suspeito, mas fontes indicam que o rastreamento financeiro e digital tem sido peça-chave. Em tempos de PIX e redes sociais, deixar rastros é quase inevitável, e a inteligência policial aposta em um deslize do influenciador, acostumado à exposição, para efetuar a captura.
Celebridade Local Procurada
O caso de Francisco Gleiton levanta um debate importante sobre a idoneidade de figuras públicas e o poder de influência. Durante anos, ele teve o microfone na mão e a capacidade de formar opinião sobre segurança pública. Agora, sua história serve como um alerta sobre as aparências enganosas que permeiam o mundo da fama regional.
Para o Ministério da Justiça, não importa a quantidade de seguidores ou o passado na televisão. O critério é técnico e jurídico: se há mandado e risco à sociedade, o nome vai para a lista. A “democratização” do crime, que atinge todas as esferas sociais, encontra na lei o seu nivelador.
A sociedade roraimense, que um dia aplaudiu o cantor nos palcos, agora é convocada a exercer sua cidadania de outra forma: denunciando. O Disque-Denúncia (190 ou 197) garante o anonimato absoluto para quem tiver informações sobre o paradeiro de Francisco Gleiton.
A queda do apresentador serve como um lembrete sombrio: a câmera que antes o filmava por escolha, agora o busca por obrigação judicial. E, diferentemente de seus programas, onde ele decidia a hora do intervalo, agora é a Justiça quem ditará o final dessa transmissão.
Enquanto a caçada continua, a foto de Francisco Gleiton no site do governo permanece como um símbolo da fragilidade da fama construída sobre bases duvidosas. O Brasil observa, e a polícia não descansa.
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