Natália Szermeta, esposa de Boulos, prepara candidatura à Câmara em 2026

Advogada e coordenadora do MTST ganha protagonismo no partido para ocupar o vácuo deixado pelo marido; movimento espelha tática de rivais como Ricardo Nunes e desenha novo xadrez eleitoral em SP.

Guilherme Boulos e sua esposa, Natália Szermeta, aparecem sorrindo lado a lado em cima de um caminhão de som durante um ato político; ele veste camiseta azul e ela amarela, ambos com adesivos do número 50, diante de uma multidão com bandeiras ao fundo.
Natália Szermeta, advogada e coordenadora do MTST, ao lado do marido e ministro Guilherme Boulos; ela é o nome escolhido para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados e manter o legado político do grupo. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

O tabuleiro político para as eleições de 2026 já começa a ser desenhado com movimentos estratégicos que envolvem não apenas os grandes caciques partidários, mas também seus círculos mais íntimos. Em uma manobra para não perder força no Legislativo, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) prepara o lançamento de Natália Szermeta, esposa do atual ministro Guilherme Boulos, como candidata a deputada federal por São Paulo.

A decisão, tratada nos bastidores como uma “passagem de bastão” necessária, ocorre em um momento crucial. Guilherme Boulos, que foi o deputado mais votado de São Paulo em 2022 com mais de um milhão de votos, assumiu recentemente a Secretaria-Geral da Presidência da República no governo Lula.

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Como ministro de Estado, Boulos sinalizou publicamente que não pretende deixar o cargo em abril de 2026 para concorrer à reeleição, optando por cumprir sua missão no Executivo até o fim do mandato presidencial. Essa escolha, embora fortaleça sua posição no governo federal, cria um vácuo perigoso para o PSOL: o risco de perder a cadeira de “puxador de votos” que garante uma bancada expressiva na Câmara.

É nesse cenário que o nome de Natália surge não apenas como uma opção familiar, mas como uma estratégia de sobrevivência partidária. A aposta é que ela consiga aglutinar o eleitorado fiel do marido, mantendo o legado do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) vivo no Congresso Nacional.

Liderança do MTST: Quem é Natália Szermeta?

Para quem acompanha a política apenas pelas manchetes principais, Natália pode parecer uma novidade, mas sua trajetória na militância é longa e anterior à fama nacional do marido.

Advogada formada, torcedora do Corinthians e militante histórica, Szermeta atua há mais de duas décadas nos movimentos sociais. Ela é uma das coordenadoras nacionais do MTST, o mesmo movimento que projetou Boulos para a política institucional. Foi justamente nas ocupações e na luta por moradia que o casal se conheceu e construiu sua base ideológica.

Dentro do partido, Natália também possui “luz própria”. Ela já presidiu a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, o braço teórico e de formação política do PSOL, cargo que lhe conferiu trânsito livre entre as diversas tendências da sigla.

Sua pré-candidatura, portanto, tenta equilibrar dois discursos: o da continuidade do projeto de Boulos e o da legitimidade de uma mulher que, segundo aliados, “não é apenas a esposa do ministro”, mas uma quadro político preparado para o debate legislativo.

Apesar disso, a narrativa de “herança política” é inevitável e deve ser o principal ponto de ataque dos adversários, que questionarão se a transferência de votos é automática ou se reflete uma tentativa de perpetuação de poder familiar, prática comum na velha política brasileira que a esquerda costuma criticar.

Herdeira do Capital Político e a “Guerra das Esposas”

O movimento do PSOL não é isolado. Curiosamente, a eleição de 2026 em São Paulo pode ser marcada por um duelo indireto entre as esposas de antigos rivais.

Enquanto Boulos projeta Natália, articulações no MDB indicam que Regina Nunes, esposa do ex-prefeito Ricardo Nunes (adversário de Boulos em 2024), também deve pleitear uma vaga na Câmara dos Deputados.

Essa “coincidência” revela uma tendência pragmática dos partidos: apostar em nomes com alta taxa de reconhecimento (recall) vinculado aos cônjuges famosos para garantir cadeiras no sistema proporcional.

Para Natália Szermeta, o desafio será converter a popularidade digital e a militância de base em votos na urna eletrônica. Fontes ligadas ao partido afirmam que psolistas já começaram a compartilhar intensamente conteúdos dela nas redes sociais, visando aumentar seu engajamento e torná-la conhecida para além da bolha da esquerda radical.

A estratégia de comunicação deve focar na defesa das pautas de moradia, direitos das mulheres e na fidelidade ao governo Lula, colando sua imagem à gestão do marido na Secretaria-Geral.

Aposta do PSOL para a Sobrevivência

A matemática eleitoral do PSOL depende dessa manobra. Sem os votos de legenda e a votação estrondosa de Boulos, a bancada do partido poderia encolher drasticamente devido ao quociente eleitoral.

Além de Natália, a sigla aposta no crescimento de outras lideranças, como a deputada Erika Hilton e o ex-presidente do partido Juliano Medeiros, para compor a linha de frente. No entanto, a figura de “puxadora de votos” principal recai sobre os ombros da advogada.

Se eleita, Natália terá a missão de manter a voz ativa do MTST em Brasília, enfrentando um Congresso que se projeta ainda conservador.

Resta saber se o eleitor paulista comprará a ideia da transferência de prestígio ou se buscará novas lideranças. O que é certo é que, em 2026, o sobrenome Boulos estará nas urnas, mesmo que o titular esteja despachando na Esplanada dos Ministérios.

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