Com a decisão fulminante do Supremo Tribunal Federal (STF) que cassou o mandato de Carla Zambelli nesta sexta,feira (12), os holofotes de Brasília se voltam para o homem que herdará sua cadeira: Márcio Tadeu Anhaia de Lemos, popularmente conhecido como Quem é Coronel Tadeu. O parlamentar, que ficou como primeiro suplente do Partido Liberal (PL) por São Paulo nas eleições de 2022, deve tomar posse nas próximas 48 horas, conforme determinação do ministro Alexandre de Moraes. A troca de guarda não altera o perfil ideológico da vaga; pelo contrário, Tadeu é conhecido por ser tão ou mais incisivo que a titular afastada na defesa das pautas conservadoras e da chamada “Bancada da Bala”.
Aos 59 anos, Tadeu retorna ao Congresso Nacional em um momento de turbulência institucional. Sua trajetória política é marcada pela fidelidade irrestrita ao ex,presidente Jair Bolsonaro, com quem mantém laços estreitos desde antes da onda conservadora de 2018. Durante seu mandato anterior (2019,2022), ele se destacou não pela articulação de bastidores, mas pelo enfrentamento direto no plenário, protagonizando episódios que viralizaram nas redes sociais e cimentaram sua imagem junto ao eleitorado de direita que exige “mão firme” na segurança pública.
Leia Também: Moraes anula decisão da Câmara e decreta perda imediata do mandato de Zambelli
Veterano da polícia
O histórico do veterano da polícia molda completamente sua atuação legislativa. Coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo, Tadeu serviu na corporação por mais de três décadas, experiência que ele utiliza como principal credencial política. Sua plataforma é monotemática e clara: endurecimento das leis penais, excludente de ilicitude para agentes de segurança e combate ao que ele classifica como “inversão de valores” na sociedade. Para os analistas, sua volta à Câmara garante que a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado continuará tendo uma voz estridente contra políticas de desencarceramento.
Entretanto, sua carreira não é isenta de controvérsias. O episódio mais marcante ocorreu em novembro de 2019, quando Tadeu arrancou e destruiu uma charge exposta nos corredores da Câmara que denunciava a violência policial contra jovens negros. O ato, classificado pela oposição como censura e racismo, foi defendido por ele como uma “reação necessária” contra uma ofensa à honra de sua corporação. Esse perfil explosivo sugere que o substituto não buscará apaziguar os ânimos entre o Legislativo e o Judiciário, mas sim dobrar a aposta no confronto.
Substituto parlamentar
Como substituto parlamentar, Coronel Tadeu herda não apenas o gabinete e a verba de Zambelli, mas também a responsabilidade de liderar a ala mais radical do PL. Nos bastidores, comenta,se que sua posse é vista com preocupação pela ala pragmática do partido, liderada por Valdemar Costa Neto, que tenta negociar uma trégua com o governo Lula e o STF. Tadeu, por sua natureza combativa, é considerado “incontrolável” e pouco afeito a acordos de cúpula, o que pode gerar novos atritos para a legenda em um ano pré,eleitoral.
Além disso, a base eleitoral de Tadeu é similar à de Zambelli, concentrada em militares, clubes de tiro e conservadores do interior paulista. Sua votação em 2022, embora insuficiente para a eleição direta, foi expressiva, demonstrando que ele possui capital político próprio. Ao assumir o mandato, ele ganha uma vitrine poderosa para tentar a reeleição em 2026, e a expectativa é que ele utilize a tribuna diariamente para denunciar o que considera ser uma “ditadura da toga”, mantendo a narrativa de perseguição acesa na base bolsonarista.
Aliado bolsonarista
A lealdade do aliado bolsonarista será testada imediatamente. Com a oposição enfraquecida por prisões e inelegibilidades, Tadeu deve assumir a linha de frente na obstrução de pautas econômicas do governo federal. Em entrevistas recentes, ele já sinalizou que sua prioridade será “vingar” a cassação de Zambelli através de uma fiscalização agressiva do Executivo e de pedidos de impeachment contra ministros do Supremo. Sua retórica, muitas vezes bélica, ecoa os sentimentos de uma parcela do eleitorado que se sente órfã de representação após os reveses judiciais do bolsonarismo.
Diferentemente de outros suplentes que assumem com postura discreta, Tadeu chega com a autoridade de quem já conhece os atalhos do Salão Verde. Ele foi um dos principais defensores da flexibilização do porte de armas e crítico feroz das medidas de isolamento durante a pandemia. Essa coerência ideológica, se por um lado agrada a militância digital, por outro o coloca no radar das mesmas investigações que derrubaram sua antecessora. A dúvida que paira é se ele moderará o tom para evitar o destino de Zambelli ou se usará o mandato como escudo para intensificar a guerra cultural.
Oficial da reserva
Por fim, o oficial da reserva traz para o debate a visão corporativista das forças de segurança. Uma de suas bandeiras históricas é a reestruturação das carreiras policiais e a garantia de proteção jurídica para militares em operação. Com a segurança pública despontando como uma das maiores preocupações do brasileiro segundo pesquisas recentes, Tadeu tem em mãos um tema de forte apelo popular para trabalhar. Resta saber se ele conseguirá transformar discursos inflamados em projetos de lei aprovados ou se seu mandato será marcado apenas pelo barulho mediático.
Consequentemente, a posse de Coronel Tadeu, prevista para ocorrer em regime de urgência, não significa o fim da crise, mas sua renovação. Ele é a prova viva de que o bolsonarismo raiz mantém sua capilaridade e capacidade de reposição de quadros. Para o governo e para o STF, a troca de Zambelli por Tadeu é, na prática, a substituição de seis por meia dúzia em termos de oposição radicalizada. Brasília aguarda os primeiros discursos do novo deputado, que promete não deixar o silêncio imperar no plenário da Câmara.
