O subprefeito da Vila Mariana, Rafael Minatogawa, deteve pessoalmente um funcionário de uma empresa terceirizada que presta serviços à Enel Distribuição São Paulo na tarde desta quinta-feira (11). O caso ocorreu em meio ao caos provocado pelo apagão que atinge a capital paulista, quando o agente público flagrou o eletricista cobrando a quantia de R$ 2.500,00 para restabelecer a energia de um imóvel comercial na Zona Sul. A ação, registrada em vídeo e amplamente divulgada nas redes sociais, expõe a vulnerabilidade da população diante da crise energética e a conduta criminosa de oportunistas que tentam lucrar com o desespero dos consumidores.
O flagrante aconteceu na Rua Sena Madureira, uma das vias mais movimentadas da região, após o subprefeito receber uma denúncia direta de um comerciante local que estava sendo extorquido. De acordo com o relato das autoridades, o técnico da empresa Alpitel Energy, parceira da Enel, condicionou o retorno da luz ao pagamento imediato via Pix, ignorando que o serviço de reparo e religação é uma obrigação gratuita da concessionária. Ao ser confrontado por Minatogawa, que filmava a abordagem, o funcionário admitiu a cobrança ilegal e acabou recebendo voz de prisão no local, sendo conduzido posteriormente ao 16º Distrito Policial (Vila Clementino) por corrupção passiva.
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Funcionário exige suborno
A abordagem realizada pelo subprefeito revelou detalhes alarmantes sobre o modus operandi utilizado pelo prestador de serviço para coagir as vítimas. No vídeo que circula nas redes, é possível ouvir o momento em que o funcionário, sem saber que estava sendo gravado inicialmente, justifica a cobrança alegando que estava realizando um “trampo” fora de sua rota oficial. O diálogo mostra o técnico explicando que havia sido abordado para religar a luz em um local diferente de sua ordem de serviço e que, por isso, cobraria o valor exorbitante: “Mano, vê lá para pagar para mim”, disse o suspeito na gravação, confirmando a transação financeira ilícita.
Além da cobrança em si, áudios divulgados pela subprefeitura indicam que o funcionário chegou a ameaçar o consumidor caso o pagamento não fosse efetuado. Em uma das mensagens, o eletricista afirmou que iria “desligar a energia” e ir embora se o dinheiro não caísse na conta, utilizando a infraestrutura essencial como ferramenta de chantagem. Essa postura agressiva evidencia como a falta de fiscalização adequada sobre as equipes terceirizadas pode gerar situações de abuso de poder contra cidadãos que já enfrentam prejuízos massivos devido à falta de eletricidade, que em alguns pontos da cidade já dura mais de 24 horas.
Prestador pede pagamento ilícito
A reação do subprefeito Rafael Minatogawa foi imediata e contundente, refletindo a tensão que domina as ruas de São Paulo após o vendaval que registrou rajadas de 98 km/h. Minatogawa, que é economista e ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), afirmou que é “inaceitável” que profissionais se aproveitem de uma calamidade pública para extorquir moradores e comerciantes. Ele relatou que estava monitorando os trabalhos de remoção de árvores e limpeza na região quando foi alertado sobre a situação, decidindo intervir pessoalmente para garantir a integridade do serviço público.
O caso na Vila Mariana não foi isolado, indicando um possível padrão de comportamento entre algumas equipes em meio ao colapso do sistema elétrico. Relatos similares surgiram em Diadema, na Grande São Paulo, onde a Polícia Militar também foi acionada para deter funcionários da Enel suspeitos de cobrarem entre R$ 300 e R$ 1.000 para religar a luz de um condomínio. Essa repetição de ocorrências sugere que o descontrole na gestão das equipes de campo da concessionária está permitindo que práticas corruptas se proliferem, agravando ainda mais a percepção negativa da população sobre a privatização do setor elétrico no estado.
Eletricista detido por extorsão
Juridicamente, a conduta do funcionário enquadra-se em crimes graves contra a administração e a ordem econômica. A Polícia Civil registrou o caso como corrupção passiva, crime que prevê pena de reclusão e multa, dado que, embora terceirizado, o funcionário exerce uma função delegada de serviço público essencial. A detenção em flagrante, apoiada por provas materiais como o vídeo da confissão e os registros de conversas, fortalece o inquérito policial e serve de alerta para outros prestadores que possam estar cogitando práticas semelhantes durante o período de crise.
A Enel Distribuição São Paulo, pressionada por mais esse escândalo, emitiu uma nota oficial repudiando a atitude do funcionário da empresa parceira. A companhia reforçou que “qualquer exigência de pagamento para reparos na rede elétrica da distribuidora está fora das regras de conduta” e orientou os clientes a denunciarem tais práticas nos canais oficiais. No entanto, a declaração protocolar da empresa faz pouco para acalmar os ânimos de uma população que vê o serviço deteriorar a cada evento climático extremo, sentindo-se refém tanto da ineficiência da concessionária quanto da ganância de maus profissionais.
Terceirizado solicita vantagem indevida
O contexto desse incidente é um dos piores apagões recentes da história de São Paulo, com cerca de 1,3 milhão de imóveis sem energia logo após as chuvas e ventos fortes. A demora no restabelecimento do serviço cria o cenário perfeito para a atuação de oportunistas. Comerciantes perdem estoques de produtos perecíveis, hospitais operam com geradores no limite e moradores ficam incomunicáveis, gerando um desespero que torna as vítimas mais propensas a aceitar pagamentos indevidos para ter a luz de volta.
A ação do subprefeito, embora pontual, destaca a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e da própria prefeitura sobre a operação da Enel. O incidente na Vila Mariana demonstra que o problema da concessão de energia em São Paulo vai além da infraestrutura precária de cabos e postes; ele permeia também a gestão de recursos humanos e a ética corporativa das empresas contratadas para servir a população. Enquanto a cidade tenta voltar à normalidade, a prisão deste técnico permanece como um símbolo da desordem que tomou conta do setor elétrico paulista.
