Alemanha cancela contas por motivação política, diz NZZ

Relatório do jornal suíço aponta que instituições financeiras estão encerrando contas bancárias de ativistas, jornalistas e ONGs por razões ideológicas.

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Fachada moderna da sede do VerbundVolksbank OWL, com estrutura de vidro e passarela suspensa entre prédios comercia
Edifício do VerbundVolksbank OWL, banco alemão citado em reportagens sobre políticas internas e encerramento de contas.

Bancos na Alemanha estão cancelando contas bancárias de cidadãos e organizações por motivações políticas, segundo reportagem publicada pelo jornal suíço Neue Zürcher Zeitung (NZZ). Os encerramentos vêm afetando pessoas de diferentes espectros ideológicos, incluindo indivíduos associados à direita, à esquerda e até entidades apartidárias.

O fenômeno chamou atenção do veículo suíço após uma série de relatos nos últimos meses envolvendo jornalistas independentes, pequenos partidos, ONGs e ativistas que tiveram suas contas encerradas sem explicação clara. Em muitos casos, as instituições bancárias mencionaram apenas “políticas internas” ou “gestão de risco”, sem detalhar os critérios utilizados.

Casos atingem direita, esquerda e entidades neutras

De acordo com o NZZ, um dos elementos que mais preocupam especialistas é que os cancelamentos não seguem um padrão ideológico fixo. Em alguns episódios, contas de grupos conservadores e representantes da direita foram encerradas após participarem de eventos considerados “controversos”. Em outros, ativistas de esquerda relatam bloqueios após organizarem protestos ou campanhas de pressão contra empresas.

O jornal cita também situações envolvendo ONGs ambientalistas, jornalistas independentes e coletivos estudantis que afirmam ter sido punidos por posicionamentos públicos, ainda que dentro da esfera democrática. Para analistas ouvidos pelo NZZ, o que une os casos é a crescente sensibilidade política das instituições financeiras, que estariam buscando evitar associação com qualquer tema considerado polarizador.

Bancos alegam cumprimento de normas e combate ao extremismo

As instituições financeiras afirmam que o fechamento de contas é resultado de protocolos de conformidade, regras de combate ao extremismo e políticas internas de risco reputacional. Segundo porta-vozes citados na reportagem, decisões desse tipo seriam amparadas por legislação europeia contra financiamento ilícito e mecanismos de monitoramento de conduta.

No entanto, críticos argumentam que a aplicação dessas normas está se tornando excessivamente ampla e, em alguns casos, politicamente enviesada. Para eles, a falta de transparência sobre os critérios permite que encerramentos sejam usados como ferramenta indireta de pressão ideológica.

Debate cresce e governo é pressionado a agir

A repercussão dos casos levou partidos alemães a pressionarem o governo federal por regras mais claras. Parlamentares pedem que bancos sejam obrigados a justificar detalhadamente o encerramento de contas, especialmente quando não há indícios de ilegalidade ou risco financeiro concreto.

Organizações civis afirmam que o uso político do sistema bancário ameaça princípios democráticos fundamentais, como a liberdade de expressão e a neutralidade institucional. O acesso a conta bancária é considerado serviço essencial; seu bloqueio pode inviabilizar atividades profissionais ou até impedir a subsistência de indivíduos e grupos.

Preocupação internacional cresce com o fenômeno

A matéria do NZZ aponta que fenômenos semelhantes vêm ocorrendo em outros países europeus, mas com menor intensidade. A Alemanha, no entanto, se destaca pelo número crescente de relatos e pela dimensão política do debate.

Especialistas do jornal afirmam que, se a tendência continuar, instituições bancárias podem se tornar instrumentos indiretos de controle político, criando um ambiente de autocensura e afetando a pluralidade democrática. A discussão ainda está em evolução, e o governo alemão deve se posicionar oficialmente sobre o tema nas próximas semanas.

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