O sábado de viagens no Japão (29) transformou-se em uma dor de cabeça logística para milhares de passageiros da All Nippon Airways (ANA). A maior companhia aérea do país anunciou o cancelamento súbito de 65 voos domésticos, afetando diretamente cerca de 9.400 pessoas. A decisão drástica não foi causada por condições meteorológicas, mas por um alerta de segurança urgente emitido pela fabricante europeia Airbus, relacionado a uma falha de software nos modelos da família A320. A situação gerou filas e confusão, principalmente no Aeroporto de Haneda, em Tóquio, hub central das operações.
Diferente do que circulou inicialmente em alguns rumores, a Japan Airlines (JAL) confirmou que suas operações seguem normais, uma vez que sua frota de corredor único é composta majoritariamente por aeronaves Boeing, que não utilizam o sistema afetado. Para a ANA, no entanto, o impacto foi imediato. A empresa precisou manter 34 de seus jatos Airbus A320 em solo para realizar atualizações obrigatórias nos computadores de controle de voo, uma medida preventiva que não permite adiamentos quando a segurança está em jogo.
O perigo da radiação solar nos aviões
A causa técnica por trás desses cancelamentos soa como ficção científica, mas é uma realidade na aviação moderna. A Airbus identificou que uma radiação solar intensa (tempestades geomagnéticas) poderia, em condições específicas, corromper dados críticos no sistema de gerenciamento de voo da família A320. Essa corrupção de dados poderia levar os computadores da aeronave a comportamentos imprevisíveis, comprometendo a estabilidade do voo. O recall de software emitido pela fabricante visa blindar o sistema contra essa vulnerabilidade eletrônica.
Engenheiros explicam que, conforme os aviões se tornam mais dependentes de sistemas digitais complexos (“fly-by-wire”), a proteção contra interferências externas, como a radiação cósmica, torna-se vital. Embora nenhum acidente tenha ocorrido devido a essa falha específica na frota da ANA, a companhia optou pela cautela absoluta (“safety first”). O procedimento de atualização do software leva tempo e exige que a aeronave esteja desligada e conectada a equipamentos de manutenção, o que inviabilizou a malha aérea programada para este fim de semana.
Impacto nos passageiros e reacomodação
O saguão do Aeroporto de Haneda amanheceu lotado de viajantes frustrados. A ANA mobilizou equipes extras para tentar reacomodar os passageiros em voos de outras companhias ou em trens-bala (Shinkansen), quando possível. Rotas turísticas e de negócios para províncias como Tottori e Saga foram as mais prejudicadas. A empresa emitiu um pedido formal de desculpas e garantiu reembolso integral ou remarcação sem custos para todos os afetados pelos cancelamentos deste sábado.
Analistas de aviação alertam que o efeito cascata pode durar até domingo, enquanto a frota é gradualmente liberada pela manutenção. Para os passageiros com voos marcados para os próximos dias em aeronaves Airbus A320 da ANA, a recomendação é verificar o status do voo no aplicativo da companhia antes de se dirigir ao aeroporto. A situação serve como um lembrete da fragilidade das operações aéreas diante de exigências técnicas rigorosas, onde um simples “update” de sistema pode parar dezenas de aviões.
Recall global da Airbus
O problema não é exclusivo do Japão. A Airbus emitiu boletins para operadores do mundo todo, indicando que milhares de aeronaves podem precisar dessa correção. No entanto, a ANA foi uma das primeiras a tomar a atitude radical de cancelar uma grande quantidade de voos de uma só vez para resolver a pendência em bloco. Outras companhias ao redor do globo estão agendando as atualizações de forma escalonada para evitar o colapso de suas malhas.
A indústria aeronáutica observa com atenção. A transparência da ANA em paralisar a frota, apesar do prejuízo financeiro e de imagem, reforça os altos padrões de segurança da aviação japonesa. Enquanto isso, a rival Japan Airlines respira aliviada por não ter essa configuração de frota, operando seus voos pontualmente e absorvendo parte da demanda de passageiros que ficaram a ver navios — ou melhor, a ver aviões parados — nos pátios da concorrente.
