Apoiado por Trump, Asfura lidera apuração em Honduras

Candidato conservador abre vantagem sobre rival liberal e governista, apuração segue lenta e sob forte pressão internacional após declarações dos EUA

Candidato presidencial Nasry Asfura exibe documento de identidade cercado por jornalistas e câmeras em Honduras.
O candidato conservador Nasry Asfura, líder nas parciais eleitorais, exibe seu documento durante a votação em meio à tensão política em Honduras.

A apuração das eleições presidenciais em Honduras iniciou se sob um clima de extrema tensão e polarização, confirmando as previsões de uma disputa acirrada, mas com uma tendência clara à direita. Nasry “Tito” Asfura, o candidato do Partido Nacional e figura central da oposição conservadora, despontou na liderança dos resultados preliminares divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Com cerca de 40,63% dos votos contabilizados nas primeiras parciais, Asfura, conhecido popularmente como “Papi a la Orden”, sustenta uma vantagem estratégica sobre seus oponentes, desenhando um cenário que pode recolocar os conservadores no poder após o hiato do governo esquerdista de Xiomara Castro. A liderança de Asfura não é apenas um dado numérico, mas o reflexo de uma campanha marcada pela influência externa direta e agressiva, protagonizada pelo presidente dos Estados Unidos.

A votação de domingo ocorreu sob a sombra das declarações de Donald Trump, que não economizou palavras para endossar Asfura e atacar seus rivais. A vantagem inicial do conservador é vista por analistas como uma resposta direta — e talvez pragmática — do eleitorado hondurenho às ameaças vindas de Washington. Trump condicionou explicitamente a continuidade da ajuda financeira americana à vitória de Asfura, criando um dilema existencial para um dos países mais pobres do continente: votar ideologicamente ou votar pela sobrevivência econômica. Esse fator externo transformou o pleito hondurenho em um referendo sobre a relação com os Estados Unidos, ofuscando debates locais sobre infraestrutura ou corrupção.

Enquanto a contagem avança lentamente, a atmosfera em Tegucigalpa é de vigília. A diferença para o segundo colocado, Salvador Nasralla, do Partido Liberal, é estreita, girando em torno de 1,5 a 2 pontos percentuais, o que mantém o jogo aberto matematicamente, embora politicamente o vento sopre a favor de Asfura. Já a candidata do governo, Rixi Moncada, do partido Libre, amarga um distante terceiro lugar, sinalizando um colapso na popularidade da atual administração. O cenário que se desenha nas primeiras horas desta segunda feira é o de uma guinada à direita, impulsionada pelo medo do isolamento internacional e pela promessa de alinhamento automático com a potência do norte.

Asfura lidera eleição Honduras em disputa voto a voto

O detalhamento dos números divulgados pelo órgão eleitoral hondurenho mostra uma fragmentação do voto que, paradoxalmente, fortaleceu o núcleo duro do conservadorismo. Nasry Asfura, ao consolidar mais de 40% da preferência inicial, demonstra ter herdado com eficácia o espólio político tradicional do Partido Nacional, apesar das manchas de corrupção que historicamente atingem a sigla. A estratégia de campanha, focada em obras e gestão pragmática — herança de seu tempo como prefeito da capital —, parece ter ressoado mais alto do que as denúncias de seus adversários. No entanto, a margem apertada em relação a Salvador Nasralla indica que uma parte significativa da população busca uma alternativa de direita que não esteja vinculada ao “trumpismo” ou ao passado recente do Partido Nacional.

Nasralla, um apresentador de televisão veterano e populista, surpreendeu ao capturar quase 39% dos votos na largada, colando se a Asfura e polarizando a disputa dentro do espectro da direita e centro direita. Esse desempenho esvaziou completamente a candidatura oficialista de Rixi Moncada, que não conseguiu transferir a militância do partido Libre para as urnas. O fracasso da esquerda em se manter competitiva reflete o desgaste da gestão de Xiomara Castro, incapaz de resolver problemas crônicos de violência e pobreza, além de ter se envolvido em polêmicas diplomáticas desnecessárias. Para Asfura, a liderança é um alívio, mas a proximidade de Nasralla obriga sua equipe a manter a cautela e a fiscalização rigorosa em cada mesa apuradora.

A geografia do voto também é crucial para entender como Asfura lidera eleição Honduras neste momento. O candidato conservador performou acima da média nas zonas rurais e nos redutos tradicionais do Partido Nacional, onde a máquina partidária e o discurso de ordem e segurança têm forte penetração. Já nas grandes cidades, o voto se dividiu mais, com Nasralla capturando o eleitorado urbano insatisfeito tanto com o governo atual quanto com a velha política representada por Asfura. A contagem final dependerá crucialmente de como as atas das regiões mais remotas chegarão à capital, um processo que historicamente em Honduras é lento e sujeito a apagões de informação que geram desconfiança.

O fator Trump na vanguarda conservadora

Não é possível analisar a liderança de Asfura sem dissecar a intervenção sem precedentes de Donald Trump. Dias antes do pleito, o líder americano utilizou sua plataforma Truth Social para lançar um ultimato aos hondurenhos: ou Asfura vence, ou o dinheiro acaba. Trump chamou o candidato conservador de “homem que defende a democracia” e rotulou seus opositores de “narcocomunistas” e “radicais”, em uma retórica que remete aos tempos mais quentes da Guerra Fria na América Central. Essa pressão diplomática direta, que em outros tempos seria vista como ingerência inaceitável, foi calculada para atingir o ponto mais sensível do eleitor: o bolso e a dependência das remessas e ajudas internacionais.

Além da ameaça econômica, Trump jogou uma carta ainda mais polêmica ao prometer o perdão presidencial ao ex presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, atualmente preso nos EUA por tráfico de drogas. Hernández é do mesmo partido de Asfura, e a promessa de liberdade para o ex mandatário serviu para energizar a base militante do Partido Nacional, que vê na prisão de seu líder uma injustiça ou perseguição política. Ao vincular a vitória de Asfura à liberdade de Hernández, Trump consolidou o voto conservador e enviou uma mensagem de que a lealdade a Washington traz recompensas tangíveis, mesmo para aqueles condenados pela própria justiça americana.

Essa estratégia de choque e pavor parece ter funcionado. O medo de que Honduras se tornasse uma pária internacional sob um novo governo de esquerda, ou mesmo sob um governo liberal não alinhado, empurrou indecisos para o colo de Asfura. Onde Asfura lidera eleição Honduras, vê se a mão invisível — ou bastante visível — da política externa de Trump, que busca redesenhar o mapa político da América Latina através de aliados fiéis, dispostos a seguir suas diretrizes sobre imigração e segurança fronteiriça. Para muitos hondurenhos, o voto em Asfura tornou se um voto de autopreservação diante do gigante do norte.

Quem é o homem que comanda a apuração?

Nasry Juan Asfura Zablah, de 67 anos, não é um novato na política, nem um outsider. Empresário bem sucedido do setor da construção civil e ex prefeito de Tegucigalpa por dois mandatos, ele construiu sua imagem pública baseada na eficiência administrativa e na execução de obras viárias, o que lhe rendeu o apelido carinhoso de “Papi a la Orden” (Papai às ordens). Seu estilo é folclórico: raramente é visto sem suas botas de trabalho e jeans, cultivando a persona do “fazedor” que prefere o canteiro de obras aos salões de debate político. Essa imagem de tocador de obras foi amplamente explorada na campanha para contrastar com a paralisia percebida no governo atual.

No entanto, a biografia de Asfura não é isenta de controvérsias graves. Ele já foi alvo de investigações por lavagem de dinheiro e desvio de fundos públicos durante sua gestão municipal, acusações que ele sempre negou e conseguiu manobrar nos tribunais locais. Seus críticos o apontam como um continuador do sistema clientelista que domina Honduras há décadas, uma engrenagem essencial da máquina que produziu figuras como Juan Orlando Hernández. Para a oposição, a vitória de Asfura representa o retorno da impunidade e o fortalecimento de uma elite econômica que governa o país como se fosse uma fazenda particular.

Apesar das sombras em seu currículo, a promessa de estabilidade e a bênção de Trump foram suficientes para colocá-lo à frente. Sua plataforma de governo foca na atração de investimentos estrangeiros, na desregulamentação da economia e no endurecimento das políticas de segurança pública, em linha com o que outros líderes de direita na região, como Nayib Bukele em El Salvador, têm pregado. Asfura vende a ideia de que Honduras precisa de um gerente, não de um ideólogo, e que sua boa relação com a Casa Branca garantirá os recursos necessários para tirar o país do atoleiro econômico. É com esse perfil pragmático e controverso que Asfura lidera eleição Honduras.

O colapso da esquerda e o cenário regional

A liderança de Asfura e o bom desempenho de Nasralla sinalizam um colapso retumbante da esquerda hondurenha. O partido Libre, que chegou ao poder com uma votação histórica impulsionada pela esperança de mudança e pelo desgaste do pós golpe de 2009, viu seu capital político derreter em tempo recorde. A candidata Rixi Moncada não conseguiu se desvencilhar da imagem de um governo ineficiente, marcado por nepotismo e incapacidade de frear a violência das gangues. A terceira posição nas parciais é um veredito duro das urnas: o projeto do socialismo democrático em Honduras falhou em entregar resultados concretos para a população mais pobre.

Este resultado insere Honduras em uma tendência regional de guinada à direita, ou pelo menos de rejeição aos incumbentes de esquerda. Com a Argentina de Milei e a força conservadora em outros países, a América Latina parece estar em um novo ciclo pendular. O eleitorado, cansado de promessas sociais não cumpridas e assustado com a insegurança, tende a buscar refúgio em figuras de autoridade que prometem ordem e mercado. A derrota iminente do oficialismo em Honduras serve como um alerta para outros governos progressistas da região: sem entrega econômica e segurança, o discurso ideológico não sustenta a governabilidade.

Além disso, o resultado preliminar em que Asfura lidera eleição Honduras redesenha a geopolítica da América Central. Um governo alinhado a Trump em Honduras facilitaria imensamente a agenda de controle migratório dos EUA, servindo como um “terceiro país seguro” ou barreira física para as caravanas de migrantes. Para a China e a Rússia, que vinham flertando com o governo de Xiomara Castro, a vitória de Asfura representa um revés estratégico, recolocando Honduras firmemente na órbita de influência de Washington.

Tensão pós eleitoral e o futuro imediato

Embora a liderança de Asfura seja clara, a eleição está longe de terminar com tranquilidade. O estreito margen que o separa de Nasralla é combustível para contestações e instabilidade. O histórico de fraudes eleitorais em Honduras, somado à desconfiança nas instituições, cria um ambiente propício para protestos e acusações mútuas. O Conselho Nacional Eleitoral tem o desafio hercúleo de conduzir o restante da apuração com transparência absoluta, sob os olhares atentos de observadores internacionais e a pressão sufocante das declarações vindas dos Estados Unidos.

A possibilidade de violência nas ruas não é descartada. Partidários de Nasralla já se mobilizam nas redes sociais denunciando supostas irregularidades em atas vindas do interior, enquanto a base de Asfura celebra antecipadamente, amparada pela confiança de que o apoio americano blinda sua vitória. As forças de segurança estão em alerta máximo, sabendo que qualquer faísca pode incendiar o país novamente, como ocorreu em pleitos passados. A democracia hondurenha, frágil e traumatizada, passa por mais um teste de fogo, onde a vontade popular duela com as maquinações políticas e a influência estrangeira.

Nos próximos dias, a confirmação ou não da vitória de Asfura definirá o rumo de Honduras por décadas. Se confirmado, o país entrará em uma era de alinhamento total com os EUA de Trump, com promessas de prosperidade condicionada e perdões polêmicos. Se houver uma reviravolta, a instabilidade política será a norma. De qualquer forma, o recado das urnas já foi dado: Honduras quer mudança, e essa mudança, por enquanto, tem a cor azul do conservadorismo e o sotaque inglês de Washington.

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