Atentado Rafael Belaúnde: Carro é baleado no Peru

Líder do Libertad Popular sofre emboscada em Cerro Azul, sobrevive sem ferimentos graves e caso expõe escalada da violência política na eleição peruana.

Montagem com duas fotos: à esquerda, o pré-candidato Rafael Belaúnde Llosa dentro de um carro com o rosto e a camisa ensanguentados; à direita, o para-brisas do veículo com três marcas de perfuração por tiros.
Imagens divulgadas após o ataque mostram o pré-candidato peruano Rafael Belaúnde Llosa com ferimentos no rosto e o para-brisas do seu veículo perfurado por múltiplos disparos em Cerro Azul.

A corrida presidencial no Peru sofreu um abalo violento e preocupante nesta terça-feira, 2 de dezembro de 2025. O carro que transportava Rafael Belaúnde Llosa, pré-candidato à presidência pelo partido Libertad Popular, foi alvo de um ataque a tiros na região de Cerro Azul, ao sul de Lima. O incidente, que poderia ter terminado em tragédia, reacende o alerta máximo sobre a segurança de figuras públicas em um país já marcado pela instabilidade política crônica. Imagens divulgadas mostram o para-brisas do veículo perfurado por balas, evidenciando que a intenção dos criminosos era letal. A sobrevivência do político foi confirmada por aliados, mas o episódio lança uma sombra de medo sobre o processo eleitoral que se avizinha.

Ataque armado ao político

O atentado ocorreu durante uma visita de Rafael Belaúnde à província de Cañete, onde cumpria agenda relacionada a atividades empresariais e políticas. Segundo relatos preliminares confirmados por Pedro Cateriano, ex-primeiro-ministro e correligionário da vítima, o veículo foi interceptado por agressores que abriram fogo diretamente contra a cabine. A blindagem ou a sorte evitaram que os projéteis atingissem órgãos vitais do candidato, que saiu praticamente ileso fisicamente, embora o trauma psicológico de uma execução frustrada seja imensurável. A Polícia Nacional do Peru foi acionada imediatamente e isolou a área para perícia, buscando cápsulas e pistas que levem aos autores dos disparos.

A confirmação de que Belaúnde “está bem” trouxe alívio momentâneo aos apoiadores, mas não dissipou a tensão. Nas redes sociais, fotos mostravam o político com manchas de sangue na camisa, possivelmente causadas por estilhaços de vidro ou ferimentos superficiais decorrentes do impacto, contradizendo inicialmente a versão de “nenhum ferimento”, mas confirmando que ele escapou da morte por pouco. Esse detalhe visual chocou a opinião pública peruana, que viu na imagem de um candidato ensanguentado o retrato fiel da vulnerabilidade do Estado diante do crime organizado. A rapidez com que a notícia se espalhou demonstra o nervosismo de uma nação que teme ver sua democracia sequestrada pela violência das ruas.

Além disso, o contexto do ataque em Cerro Azul, uma área conhecida por disputas territoriais e criminalidade, levanta questões sobre a motivação real do crime. Embora Belaúnde estivesse supervisionando um empreendimento privado no momento, a sua condição de presidenciável torna impossível dissociar o ato de sua vida pública. Aliados políticos foram rápidos em classificar o episódio como um “grave atentado”, exigindo do governo de Dina Boluarte uma resposta enérgica e imediata. A fronteira entre a criminalidade comum e a violência política no Peru parece cada vez mais difusa, criando um terreno fértil para teorias e acusações mútuas entre os grupos que disputam o poder.

Violência contra presidenciável

A repercussão do ataque a Rafael Belaúnde ultrapassou as fronteiras partidárias, unindo momentaneamente adversários em torno da condenação da violência. O ex-ministro do Interior, Gino Costa, utilizou suas plataformas digitais para denunciar a gravidade do fato, alertando que “é um mau início de campanha” para todos os peruanos. A mensagem é clara: se um candidato à presidência, teoricamente protegido e visível, pode ser alvejado à luz do dia, o cidadão comum está completamente desamparado. Esse sentimento de orfandade institucional é o combustível que pode inflamar ainda mais os ânimos de um eleitorado já descrente com a classe política tradicional.

Historicamente, o Peru enfrenta ciclos de violência que se intensificam em períodos pré-eleitorais, mas ataques diretos a candidatos presidenciais com armas de fogo representam uma escalada perigosa. Analistas de segurança apontam que o crime organizado, muitas vezes ligado ao garimpo ilegal e ao tráfico de drogas, tenta influenciar o pleito através da intimidação ou eliminação de oponentes indesejados. Rafael Belaúnde, neto do ex-presidente Fernando Belaúnde Terry, carrega um sobrenome de peso na história democrática do país, o que torna o atentado ainda mais simbólico. Atirar contra ele é, de certa forma, atirar contra a própria institucionalidade peruana.

Por outro lado, a resposta das autoridades será decisiva para determinar o clima dos próximos meses. Se os autores não forem identificados e punidos rapidamente, cria-se um precedente de impunidade que pode encorajar novos ataques. O Ministério do Interior já anunciou reforço na segurança de outros pré-candidatos, uma medida paliativa que tenta estancar o sangramento da confiança pública. Contudo, blindar carros e aumentar escoltas não resolve o problema estrutural de um país onde armas circulam livremente e a vida humana tornou-se moeda de troca barata em disputas de poder local e nacional.

Investida criminosa em Cerro Azul

A escolha do local do ataque, Cerro Azul, não parece ter sido aleatória. A região, situada estrategicamente no litoral sul, tem sofrido com o aumento da extorsão e da presença de bandas armadas que cobram “pedágio” de empresários e comerciantes. O fato de Belaúnde possuir negócios na área pode sugerir uma tentativa de extorsão que deu errado ou uma mensagem direta enviada por máfias locais que se sentiram ameaçadas por sua presença ou discurso. Essa hipótese, se confirmada, revelaria o grau de contaminação da economia formal pelo submundo do crime, onde nem mesmo figuras de alto perfil estão imunes às regras brutais impostas por bandidos.

Entretanto, a narrativa política tende a dominar o debate. O partido Libertad Popular, fundado para defender ideias liberais e reformistas, vê no atentado uma prova cabal da falência do estado de direito sob a atual administração. Pedro Cateriano, ao falar com a imprensa, enfatizou a necessidade de rejeitar com firmeza esse tipo de agressão, sob pena de normalizarmos a barbárie como ferramenta de disputa política. A vitimização de Belaúnde, embora trágica, pode paradoxalmente fortalecer sua imagem como um sobrevivente corajoso que enfrenta as máfias, alterando a dinâmica das pesquisas de intenção de voto que ainda estão em fase incipiente.

A investigação policial terá o desafio de separar os fatos das narrativas. A perícia balística no veículo, a análise de câmeras de segurança da rota e o depoimento das testemunhas oculares serão cruciais. Há relatos de que os disparos foram feitos “diretamente” contra o passageiro, o que reforça a tese de execução planejada e enfraquece a hipótese de assalto comum ou bala perdida. O modus operandi dos atiradores, que fugiram rapidamente sem levar nada, carrega a assinatura típica de sicários profissionais contratados para matar, e não para roubar.

Repercussão do crime eleitoral

O atentado acontece em um momento de fragilidade extrema das instituições peruanas. Com ex-presidentes presos ou investigados e uma crise de governabilidade que se arrasta há anos, a violência física contra políticos é o último degrau de uma degradação anunciada. A comunidade internacional, que já observa o Peru com cautela devido aos protestos recentes e à instabilidade jurídica, deve reagir com preocupação a este novo capítulo. A segurança do processo eleitoral de 2026 está agora oficialmente em xeque. Organismos como a OEA podem ser chamados a intervir ou observar mais de perto as condições de segurança para os candidatos.

Para o eleitor peruano, o ataque a Belaúnde é um lembrete amargo de que a paz social é um sonho distante. A conversa nas ruas de Lima e nas províncias hoje não gira em torno de propostas econômicas ou sociais, mas sim de quem será a próxima vítima. O medo é um péssimo conselheiro em democracias, levando muitas vezes a escolhas baseadas na promessa de “mão de ferro” e autoritarismo. Candidatos que adotam discursos de segurança pública radical podem capitalizar sobre o sangue derramado em Cerro Azul, prometendo varrer o crime com violência estatal, um ciclo vicioso que a América Latina conhece bem.

Finalmente, é imperativo que a sociedade civil peruana se levante contra a normalização do terror. Partidos de todas as cores ideológicas, sindicatos, empresários e imprensa devem formar um cordão sanitário em defesa da vida dos participantes do pleito. O atentado contra Rafael Belaúnde Llosa não foi apenas contra um homem ou um partido; foi um disparo contra o direito de cada peruano escolher seu futuro sem a mira de uma arma apontada para sua cabeça. O dia 2 de dezembro de 2025 ficará marcado como o dia em que a democracia peruana sangrou, mas sobreviveu para exigir justiça.

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