A China registrou um marco econômico sem precedentes na história recente ao ultrapassar oficialmente o patamar de US$ 1 trilhão em excedente comercial. Os dados divulgados pela administração aduaneira nesta semana confirmam a resiliência do setor manufatureiro do país, mesmo diante de um cenário externo hostil. O volume de exportações continuou a crescer de forma robusta, impulsionado pela baixa demanda interna que forçou as empresas a buscarem compradores no exterior. Consequentemente, o mundo foi inundado por produtos chineses competitivos, desde veículos elétricos até painéis solares e baterias de lítio.
No entanto, esse resultado surpreende analistas que previam uma retração significativa devido às políticas protecionistas implementadas pelo governo dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump, cumprindo promessas de campanha, elevou tarifas sobre produtos chineses, visando reduzir o déficit americano e proteger indústrias locais. Contudo, os números mostram que, embora as vendas diretas para os EUA tenham caído drasticamente, a China encontrou rotas alternativas eficazes. Dessa forma, a estratégia de “desacoplamento” promovida por Washington enfrenta desafios práticos imensos diante da complexidade das cadeias de suprimentos globais.
Excedente exportação asiática histórico
A diversificação dos parceiros comerciais foi a chave para o sucesso desta manobra econômica realizada por Pequim ao longo dos últimos meses. Estatísticas detalhadas revelam que o comércio com o Sudeste Asiático, através da associação ASEAN, e com a América Latina cresceu em ritmo acelerado. Além disso, as exportações para a Rússia e para países do continente africano também registraram aumentos de dois dígitos, compensando as perdas no mercado americano. Portanto, a China conseguiu substituir o consumidor americano por uma cesta diversificada de nações emergentes ávidas por tecnologia acessível e infraestrutura.
Por outro lado, essa inundação de produtos chineses em novos mercados está gerando tensões diplomáticas em outras frentes além da América do Norte. Países como Brasil, Índia e membros da União Europeia começaram a investigar práticas de dumping e subsídios estatais excessivos. A preocupação central é que a indústria local dessas nações não consiga competir com o preço dos importados asiáticos, levando à desindustrialização. Todavia, para a China, manter as fábricas operando a plena capacidade é uma questão de estabilidade social interna, superando os riscos de retaliação externa.
Lucro comércio exterior Pequim
O setor de alta tecnologia e energia verde desempenhou um papel fundamental na consolidação deste resultado financeiro extraordinário para o país oriental. As chamadas “novas três” forças de exportação da China, veículos elétricos, baterias e energia solar, representam uma fatia cada vez maior do bolo. O governo chinês investiu pesadamente nessas áreas durante a última década, criando uma vantagem competitiva que agora é difícil de ser superada rapidamente. Assim, mesmo com barreiras tarifárias, a relação custo-benefício dos produtos chineses permanece atraente para a maioria dos importadores globais que buscam transição energética.
Entretanto, economistas alertam que esse modelo de crescimento baseado puramente em exportações possui um teto de sustentabilidade a longo prazo. A fraca demanda dos consumidores chineses, afetada por uma crise imobiliária persistente e incertezas no mercado de trabalho, cria um desequilíbrio estrutural perigoso. Se o consumo interno não reagir, a China dependerá eternamente da vontade do resto do mundo de absorver sua produção excedente. Nesse cenário, qualquer fechamento adicional de mercados importantes, como uma eventual barreira rígida da União Europeia, poderia causar danos severos à economia chinesa.
Receita vendas internacionais oriental
A reação dos mercados financeiros globais ao anúncio do superávit foi mista, refletindo a complexidade da atual guerra comercial tecnológica. Investidores observam com cautela a desvalorização do Yuan, que torna os produtos chineses ainda mais baratos no exterior, mas irrita parceiros comerciais. O banco central chinês tem atuado para manter a moeda em um patamar que favoreça os exportadores, sem contudo provocar uma fuga de capitais descontrolada. Dessa maneira, a política cambial torna-se mais uma ferramenta no arsenal de Pequim para mitigar os efeitos das tarifas impostas pela Casa Branca.
Finalmente, este recorde de US$ 1 trilhão serve como um lembrete contundente da centralidade da China na economia globalizada moderna. Tentar isolar uma economia dessa magnitude provou ser uma tarefa mais árdua do que o previsto pelos estrategistas americanos. O fluxo de bens encontrou caminhos através de países intermediários, onde produtos são finalizados apenas para ganhar um novo selo de origem antes de seguir para o Ocidente. Portanto, a guerra comercial entra agora em uma nova fase, onde a rastreabilidade e as alianças regionais serão tão importantes quanto as próprias tarifas alfandegárias.
