A tensão geopolítica na América do Sul atingiu um novo pico nesta sexta-feira (28), repercutindo declarações contundentes vindas diretamente da Casa Branca. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou categoricamente que as operações militares americanas contra o narcotráfico na Venezuela entrarão em uma nova e delicada fase: o combate por terra. A revelação foi feita durante uma videoconferência com tropas americanas por ocasião do feriado de Ação de Graças, celebrado na quinta-feira (27). Segundo o mandatário, as interceptações marítimas já atingiram um teto de eficiência e o próximo passo lógico é a incursão terrestre para estancar o fluxo de drogas na fonte.
A fala de Trump não foi um comentário isolado, mas sim a peça que faltava em um quebra-cabeça de movimentações militares que vêm sendo monitoradas há semanas no Caribe. “Nós quase paramos tudo por mar. Cerca de 85% do trânsito foi interrompido. Agora vamos começar a pará-los por terra também. Por terra é mais fácil, mas isso vai começar muito em breve”, declarou o presidente a partir de seu resort em Mar-a-Lago, na Flórida. A frase ecoou imediatamente em Caracas e em diversas capitais latino-americanas, acendendo o alerta para o risco real de um conflito armado ou de operações de “extração” em solo venezuelano.
A nova estratégia de Trump ofensiva terrestre Venezuela
Especialistas em segurança internacional interpretam a mudança de tom como um ultimato ao governo de Nicolás Maduro. Até então, a pressão americana se concentrava em sanções econômicas e em um bloqueio naval de facto, sob a justificativa de operações antidrogas no Mar do Caribe e no Pacífico Oriental. Ao mencionar explicitamente ações terrestres, Trump rompe uma barreira tática e diplomática. Não ficou claro se essas ofensivas envolveriam tropas regulares, forças especiais ou o uso de drones e mísseis de precisão contra laboratórios e rotas de escoamento em áreas de fronteira.
O contexto para essa escalada inclui a recente movimentação do porta-aviões nuclear USS Gerald R. Ford, o maior e mais moderno da frota americana, que chegou à região do Caribe em meados de novembro. A presença de um grupo de ataque desse porte, somada à retórica presidencial, sugere que a infraestrutura para dar suporte a incursões terrestres ou aéreas já está posicionada. O Pentágono, por sua vez, mantém o discurso oficial de que todas as manobras visam exclusivamente o combate ao “narcoterrorismo”, termo que a administração Trump utiliza para classificar a suposta colaboração entre cartéis e o Estado venezuelano.
Reações internacionais à ameaça de invasão por solo
A resposta de Caracas foi rápida e furiosa. O governo venezuelano, através de seus canais oficiais e da televisão estatal, classificou as declarações como uma “declaração de guerra velada”. Nicolás Maduro, que já havia alertado sobre a presença do porta-aviões americano, ordenou o estado de alerta máximo nas fronteiras e convocou a milícia bolivariana para exercícios de defesa. Além disso, em uma medida de retaliação diplomática e de segurança, a Venezuela anunciou o banimento de seis companhias aéreas internacionais, acusando-as de colaborarem com o cerco imposto por Washington.
Na comunidade internacional, a preocupação é evidente. Países europeus e vizinhos sul-americanos temem que uma intervenção direta possa desestabilizar toda a região, gerando novas ondas migratórias e violência transfronteiriça. A China e a Rússia, aliados tradicionais de Maduro, condenaram as sanções e a retórica agressiva, pedindo diálogo e respeito à soberania nacional. No entanto, o alinhamento automático de Trump com uma política de “pressão máxima” indica que os apelos por moderação diplomática podem ter pouco efeito prático neste momento decisivo.
O combate aos cartéis e a justificativa para a ação militar
O argumento central da Casa Branca é que a Venezuela se tornou um santuário para o crime organizado, exportando toneladas de cocaína para os Estados Unidos e Europa. A recente designação do “Cartel dos Solis” — supostamente liderado por altas patentes militares venezuelanas — como uma organização terrorista estrangeira fornece o arcabouço legal doméstico que Trump precisa para autorizar ações militares sem a necessidade de uma declaração formal de guerra pelo Congresso. Essa brecha jurídica permite ataques cirúrgicos contra alvos específicos, tratados como ameaças à segurança nacional dos EUA.
A eficácia das operações marítimas, citada por Trump como 85% bem-sucedida, é contestada por alguns analistas independentes, que veem os números como inflados para justificar a expansão da missão. No entanto, é inegável que o cerco naval forçou os traficantes a buscarem novas rotas, possivelmente terrestres ou fluviais, através de países vizinhos ou pistas clandestinas no interior da Venezuela. É justamente essa adaptação do crime que serve de pretexto para a nova fase da operação: ir aonde os barcos da Marinha americana não podem chegar.
Impactos da incursão americana no território vizinho
Se as “ofensivas terrestres” se concretizarem, o cenário mais provável envolve operações de forças especiais (como os Navy SEALs ou Delta Force) visando capturar líderes de cartéis ou destruir infraestrutura logística. Outra possibilidade é o apoio de inteligência e poder de fogo a grupos rebeldes ou paramilitares que já operam na região. Qualquer erro de cálculo, porém, pode levar a um confronto direto com as Forças Armadas da Venezuela, que possuem sistemas de defesa aérea de fabricação russa e um contingente leal ao chavismo.
O clima em Washington também é de divisão. Enquanto a base republicana mais radical celebra a postura de “mão de ferro” contra o socialismo e as drogas, democratas e setores moderados alertam para o risco de um “novo Vietnã” ou de uma ocupação prolongada sem estratégia de saída clara. A promessa de Trump de que as ações começariam “muito em breve” coloca uma data de validade na diplomacia, pressionando atores regionais a escolherem um lado antes que o primeiro tiro seja disparado em solo venezuelano.
Desdobramentos da crise na fronteira sul-americana
Para o Brasil e a Colômbia, vizinhos imediatos, a situação é alarmante. Uma ofensiva terrestre na Venezuela poderia empurrar combatentes e refugiados para suas fronteiras, exigindo uma resposta militar e humanitária imediata. A Colômbia, parceira histórica dos EUA na região, poderia ser usada como plataforma logística, o que a colocaria na linha de frente de qualquer retaliação de Caracas. O Brasil, mantendo sua tradição diplomática de não intervenção, observa com cautela, mas com as Forças Armadas em prontidão na região amazônica.
Em suma, a declaração de Donald Trump no Dia de Ação de Graças de 2025 pode entrar para a história como o ponto de inflexão nas relações interamericanas. O que antes era uma guerra de palavras e sanções econômicas está perigosamente perto de se tornar uma guerra cinética. O mundo aguarda os próximos dias para ver se a ameaça de ofensiva terrestre é apenas mais uma tática de negociação agressiva ou o prenúncio de uma operação militar que mudará o mapa político da América do Sul.
