O governo dos Estados Unidos emitiu, neste fim de semana, uma das declarações mais otimistas dos últimos meses sobre o futuro das relações econômicas globais. Em um cenário marcado pelo retorno de políticas protecionistas intensas ao longo de 2025, o Representante Comercial dos EUA (USTR), Jamieson Greer, afirmou categoricamente que as tratativas com Pequim estão, finalmente, caminhando na “direção certa”. A fala ocorre logo após a consolidação dos termos da trégua tarifária assinada entre o presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping no final de outubro, sinalizando um arrefecimento tático na guerra comercial que vinha pressionando as cadeias de suprimentos globais.
A avaliação positiva de Washington não se baseia apenas em promessas diplomáticas vagas, mas em números concretos que começam a aparecer nos balanços do último trimestre. Segundo Greer, o objetivo principal da administração Trump 2.0 — tornar o comércio bilateral “menor e mais equilibrado” — está sendo atingido. Dados recentes indicam uma queda de aproximadamente 25% no fluxo de bens chineses para os EUA, um movimento que a Casa Branca interpreta não como isolamento, mas como um reajuste necessário para proteger a indústria doméstica e reduzir a dependência estratégica de um único fornecedor asiático.
Progresso no diálogo bilateral
O otimismo cauteloso demonstrado por autoridades americanas reflete o sucesso das rodadas de negociação realizadas recentemente via videoconferência. O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, juntamente com Greer, manteve conversas produtivas com o Vice-Premiê chinês He Lifeng. Nessas reuniões, ficou estabelecido que, embora a rivalidade sistêmica permaneça, há espaço para cooperação pragmática em áreas onde os interesses convergem. A China, pressionada por uma desaceleração interna e pela necessidade de manter o acesso aos mercados ocidentais, concordou em suspender a implementação de novos controles de exportação sobre minerais críticos, uma concessão vital para a indústria tecnológica americana.
Além disso, o acordo provisório, que tem validade até novembro de 2026, suspendeu a escalada de tarifas punitivas que ameaçavam ultrapassar a marca de 60% sobre produtos de consumo. Para o mercado financeiro, essa “pausa para respirar” é fundamental. A confirmação de que os canais de comunicação estão abertos e funcionando evita o pior cenário traçado por analistas no início do ano: um desacoplamento total e desordenado que poderia lançar a economia mundial em uma recessão profunda. A diplomacia comercial, portanto, volta a ocupar o centro do palco, substituindo a retórica de ultimatos por cronogramas de implementação conjunta.
Caminho para o equilíbrio econômico
Um dos pilares centrais que sustentam essa nova fase de “direção certa” é o compromisso renovado da China com o setor agrícola americano. O agronegócio, base eleitoral importante para o governo Trump, recebeu garantias robustas. Pequim comprometeu-se a adquirir pelo menos 12 milhões de toneladas métricas de soja dos Estados Unidos ainda neste final de 2025, com a promessa de elevar esse volume para 25 milhões de toneladas anuais entre 2026 e 2028. Esse fluxo garantido de exportações oferece um alívio imediato para os produtores do Meio-Oeste, que sofreram com a volatilidade dos preços durante os meses de incerteza tarifária.
Contudo, a definição de “equilíbrio” para a atual administração vai além de vender mais grãos. O governo americano insiste que a redução do déficit comercial é uma questão de segurança nacional. O fato de as exportações chinesas para os EUA estarem deslizando, conforme apontam os relatórios de novembro, é visto como uma vitória da política de “América Primeiro”. Essa reengenharia dos fluxos comerciais visa forçar a diversificação das cadeias de produção para países aliados ou para o próprio território americano, reduzindo a alavancagem econômica que a China possui sobre setores estratégicos.
Evolução das tratativas diplomáticas
Outro ponto crucial que validou a percepção de avanço foi a inclusão de temas não comerciais na mesa de negociações econômicas, especificamente o combate ao fentanil. Em um movimento inédito de coordenação, a China concordou em tomar medidas rigorosas para interromper o envio de precursores químicos para a América do Norte. Em troca, os EUA ofereceram um alívio pontual nas tarifas impostas especificamente para combater o tráfico de opioides. Essa troca de concessões demonstra uma sofisticação na estratégia de negociação, onde sanções econômicas são usadas como moeda de troca para obter resultados em crises de saúde pública e segurança.
Apesar do clima positivo, analistas alertam que a “trégua” é frágil. O acordo atual é, em essência, um cessar-fogo de um ano. A administração Trump deixou claro que as tarifas da Seção 301 permanecem como uma espada sobre a cabeça dos negociadores chineses. O objetivo é manter a pressão para garantir que as promessas de compra e de regulação sejam cumpridas à risca. A desconfiança histórica entre as duas potências significa que cada passo na “direção certa” é monitorado por falcões de ambos os lados, prontos para denunciar qualquer desvio como uma quebra de confiança.
Rumo estratégico positivo
A reação internacional a esse degelo parcial tem sido de alívio, mas com ressalvas. Parceiros comerciais da Europa e da Ásia observam atentamente se esse entendimento bilateral não resultará em desvio de comércio que prejudique suas próprias economias. No entanto, a estabilização da relação EUA-China é, inegavelmente, um fator de redução de risco global. Se as duas superpotências conseguirem manter esse “rumo estratégico positivo” ao longo de 2026, evitando novas rupturas, o cenário para investimentos de longo prazo torna-se muito mais favorável do que o previsto no início do segundo mandato de Trump.
Por fim, a mensagem enviada por Washington é clara: a negociação dura funciona. A estratégia de impor tarifas elevadas e ameaçar controles de exportação trouxe Pequim de volta à mesa com propostas concretas. O desafio agora será transformar esse alinhamento temporário em um quadro duradouro que atenda aos interesses industriais americanos sem colapsar o sistema de comércio global. Por enquanto, a avaliação é de que o navio, antes à deriva em águas turbulentas, encontrou uma bússola.
