Estados Unidos designou oficialmente Cartel de los Soles como Organização Terrorista Estrangeira (FTO) com efeito a partir de 24 de novembro de 2025, intensificando campanha de pressão contra presidente venezuelano Nicolás Maduro. Decisão representa escalada significativa nas tensões entre Washington e Caracas, permitindo governo Trump utilizar ferramentas legais mais amplas contra grupo criminal que autoridades americanas alegam ser liderado por Maduro e outros membros de alto escalão do regime venezuelano.
Secretário de Estado Marco Rubio anunciou designação afirmando que Cartel de los Soles “corrompeu instituições governamentais da Venezuela” e é responsável por “violência terrorista perpetrada por e em conjunto com outras” organizações criminosas. Anteriormente, em 25 de julho, Departamento do Tesoro já havia sancionado o cartel como Terrorista Global Especialmente Designado (SDGT), congelando ativos e bloqueando transações financeiras vinculadas ao grupo.
Origem e estrutura do Cartel de los Soles
Nome “Cartel de los Soles” deriva das insígnias solares que aparecem nos uniformes de oficiais militares venezuelanos de alta patente. Termo começou a ser utilizado por venezuelanos na década de 1990 para referir-se a oficiais militares de alto escalão que enriqueceram através de operações de narcotráfico. Inicialmente concentrado em altos comandos militares, uso da denominação expandiu-se gradualmente para incluir policiais e funcionários governamentais envolvidos também em atividades como mineração ilegal e contrabando de combustível.
Segundo indiciamento do Departamento de Justiça americano de 2020, Maduro negociou carregamentos de múltiplas toneladas de cocaína produzida pelas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), direcionou Cartel de los Soles a fornecer armas de grau militar para FARC, coordenou com narcotraficantes em Honduras e outros países para facilitar tráfico de drogas em larga escala, e solicitou assistência da liderança das FARC para treinar grupo de milícia não sancionada que funcionava essencialmente como unidade das forças armadas do cartel.
Vínculos com Tren de Aragua e Cartel de Sinaloa
Departamento do Tesoro afirma que Cartel de los Soles fornece apoio material a duas organizações terroristas estrangeiras que ameaçam paz e segurança dos Estados Unidos: Tren de Aragua e Cartel de Sinaloa. Tren de Aragua é organização que se originou na Venezuela e está envolvida em tráfico ilícito de drogas, contrabando e tráfico de pessoas, extorsão, exploração sexual de mulheres e crianças, e lavagem de dinheiro entre outras atividades criminosas.
Cartel de Sinaloa representa um dos cartéis mais antigos e poderosos do México, responsável por porção significativa de drogas mortais traficadas para Estados Unidos a partir do México. Além de traficar fentanil, metanfetamina, cocaína e outras drogas ilícitas para território americano, Cartel de Sinaloa engaja-se em violência generalizada. Em 20 de fevereiro de 2025, Departamento de Estado já havia designado tanto Tren de Aragua quanto Cartel de Sinaloa como FTOs e Terroristas Globais Especialmente Designados.
Recompensa de 50 milhões de dólares por Maduro
Procuradora-Geral Pam Bondi ofereceu em agosto recompensa de até 50 milhões de dólares por informações que levem à prisão de Maduro para enfrentar acusações de narcotráfico nos Estados Unidos. Valor representa maior recompensa já oferecida no histórico do Programa de Recompensas por Narcóticos, superando os 25 milhões inicialmente estabelecidos em janeiro de 2025 e os 15 milhões oferecidos originalmente em 2020. Como líder do Cartel de los Soles, Maduro torna-se primeiro alvo na história do programa com recompensa excedendo 25 milhões de dólares.
Autoridades americanas solicitam informações através do email CartelSolesTips@usdoj.gov, garantindo que todas identidades são mantidas estritamente confidenciais. Bondi não apresentou evidências conclusivas do suposto papel do líder venezuelano no tráfico internacional de drogas. Caracas rejeitou categoricamente as alegações, com Maduro negando qualquer associação ao narcotráfico e alegando que Trump utiliza narrativa falsa para justificar intervenção na Venezuela e removê-lo do poder.
Questionamentos sobre existência do cartel
Pesquisadores e analistas internacionais questionam classificação do Cartel de los Soles como organização unificada. Phil Gunson, pesquisador do International Crisis Group baseado em Caracas, declarou à CNN que “Cartel de los Soles, per se, não existe. É expressão jornalística criada para referir-se ao envolvimento de autoridades venezuelanas no tráfico de drogas”. Adam Isaacson, diretor de supervisão de defesa da Washington Office on Latin America, afirmou que “não é um grupo” no sentido tradicional, sem pessoas que se identificariam como membros, sem reuniões regulares e sem hierarquia formal estabelecida.
Ministro venezuelano Diosdado Cabello declarou em coletiva de imprensa em agosto que “Cartel de los Soles é invenção”. Presidente colombiano Gustavo Petro expressou em mensagem publicada no X em agosto que “Cartel de los Soles não existe, é desculpa fictícia da extrema direita para derrubar governos que não lhes obedecem”. Paradoxalmente, Senado da Colômbia aprovou em setembro proposição declarando o cartel como “organização criminal transnacional e terrorista”, decisão que passou com 30 votos favoráveis contra 20 contrários.
Implicações legais da designação como FTO
Designação como Organização Terrorista Estrangeira permite múltiplas agências estatais americanas envolverem-se em combate ao grupo, fornecendo ferramentas substancialmente mais amplas ao Estado norte-americano. Carlos Verissimo Storace, analista internacional especializado em Estados Unidos, explica que tradicionalmente DEA (Administração de Controle de Drogas) atua sobre grupos narcotraficantes, mas designação terrorista permite atuação do Departamento do Tesoro bloqueando ativos nos Estados Unidos ou países terceiros, do Pentágono através de possível ação militar fora do país, da Inteligência e do Departamento de Justiça para emitir ordens de captura.
Como resultado da designação, todas propriedades e interesses em propriedades da pessoa designada que estejam nos Estados Unidos ou na posse ou controle de cidadãos americanos devem ser bloqueados. Indivíduos que forneçam apoio material ou recursos ao cartel podem ser processados criminalmente. Membros da organização terrorista estrangeira são inadmissíveis nos Estados Unidos e, em certos casos, podem ser deportados. Designação impede ainda representantes de organizações terroristas estrangeiras de entrarem nos Estados Unidos.
Operações militares no Caribe e possível ação na Venezuela
Designação ocorre enquanto Estados Unidos intensificou presença militar no Mar do Caribe, incluindo chegada do maior porta-aviões do mundo no domingo anterior. Desdobramento militar americano inclui navios de desembarco anfíbio USS Iwo Jima, USS Fort Lauderdale e USS San Antonio com aproximadamente 4 mil fuzileiros navais. Confirmou-se também participação de três destróieres classe Arleigh Burke (USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson), além dos navios USS Lake Erie e USS Newport News.
Forças americanas realizaram 21º ataque conhecido contra suposto barco de tráfico de drogas durante fim de semana, matando mais de 80 pessoas ao longo da operação de meses. Trump sugeriu domingo que designação do Cartel de los Soles como organização terrorista estrangeira permite às forças armadas americanas capacidade de atingir ativos e infraestrutura de Maduro dentro da Venezuela. “Isso nos permite fazer isso, mas não dissemos que vamos fazer isso”, afirmou Trump a repórteres. “Podemos estar tendo algumas discussões com Maduro, e veremos como isso resulta. Eles gostariam de conversar”, acrescentou presidente sem elaborar detalhes.
Operações encobertas da CIA autorizadas
Em outubro, Donald Trump confirmou ter autorizado CIA a realizar operações encobertas na Venezuela. Segundo informações do The New York Times, funcionários americanos descrevem medida como parte de estratégia mais ampla destinada a aumentar pressão sobre governo de Nicolás Maduro e, segundo essas fontes, favorecer eventualmente sua saída do poder. International Crisis Group, organização não-governamental dedicada a analisar conflitos armados e prevenir escaladas de violência, declarou em artigo de outubro que “administração Trump está enviando recursos militares ao Caribe” em demonstração inusual de poder naval.
Muitos observadores internacionais, incluindo Maduro, veem movimentos militares como esforço para encerrar domínio de 26 anos do partido governante sobre o poder. Desde chegada de navios militares e tropas americanas ao Caribe, oposição política venezuelana apoiada pelos Estados Unidos também reacendeu promessa perene de remover Maduro do cargo, alimentando especulação sobre propósito real do que administração Trump denominou operação antidrogas.
Reações internacionais e designações similares
Diversos países latino-americanos seguiram classificação americana. Congresso peruano declarou em 3 de setembro Cartel de los Soles como organização terrorista, estrutura criminal vinculada ao regime de Maduro relacionada com narcotráfico, Tren de Aragua e Cartel de Sinaloa. Presidente do Equador Daniel Noboa designou cartel como “grupo terrorista do crime organizado” considerando-o “ameaça para população nacional”. Assembleia Nacional equatoriana aprovou resolução respaldando presidente na declaratória.
Senado do Paraguai aprovou medida assinada pelo presidente Santiago Peña. Argentina manifestou postura em 26 de agosto designando organização como terrorista. República Dominicana designou grupo armado em 2 de setembro através do Decreto 500-25, instruindo organismos de inteligência e segurança a adotar medidas apropriadas para prevenir incursões do grupo no território nacional ou contra interesses dominicanos no exterior. Ministro de Segurança Pública da Costa Rica afirmou existir narcogobierno na Venezuela, advertindo grupos políticos e sindicatos sobre riscos de vinculação com narcotráfico.
Contexto político venezuelano e legitimidade questionada
Trump, como predecessor, não reconhece Maduro como presidente legítimo da Venezuela. Maduro encontra-se em terceiro mandato após leais ao partido governante declararem-no vencedor da eleição presidencial do ano passado, apesar de evidências credíveis indicarem que candidato da oposição o derrotou por margem superior a 2 para 1. Líder venezuelano e oficiais seniores foram repetidamente acusados de violações de direitos humanos contra opositores reais e percebidos do governo, incluindo repercussões após eleição de julho de 2024.
Secretário do Tesoro Scott Bessent declarou que “ação de hoje expõe ainda mais facilitação do narcoterrorismo pelo regime ilegítimo de Maduro através de grupos terroristas como Cartel de los Soles. Departamento do Tesoro continuará executando promessa do presidente Trump de colocar América em primeiro lugar reprimindo organizações violentas incluindo Tren de Aragua, Cartel de Sinaloa e seus facilitadores como Cartel de los Soles”. Maduro citou dados das Nações Unidas mostrando que apenas fração minúscula do fornecimento global de cocaína passa pela Venezuela, país que nunca foi produtor importante de cocaína cultivada e produzida majoritariamente em Colômbia, Equador e Peru.