Autoridades dos Estados Unidos, da Ucrânia e de países europeus se reuniram neste domingo em Genebra para discutir o plano de paz apresentado pelo presidente Donald Trump para acabar com a guerra na Ucrânia. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o enviado especial Steve Witkoff lideraram a delegação de Washington nas conversações que buscam um acordo antes do prazo estipulado pela Casa Branca. Trump determinou que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky deve apresentar resposta até a próxima quinta-feira, Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos.
A delegação ucraniana foi chefiada por Andriy Yermak, chefe do gabinete de Zelensky, que chegou à Suíça acompanhado de outros altos funcionários do governo de Kiev. Os conselheiros de segurança nacional da coalizão formada por França, Reino Unido e Alemanha também participaram das discussões, assim como representantes da União Europeia e da Itália. O secretário do Exército dos Estados Unidos, Daniel Driscoll, viajou igualmente a Genebra para acompanhar as negociações.
Plano de 28 pontos gera controvérsia entre aliados
O documento elaborado pelo enviado especial americano Steve Witkoff em negociações diretas com o negociador russo Kirill Dmitriev contém vinte e oito pontos que definem os termos para o encerramento do conflito. Entre as principais exigências, a proposta determina que a Ucrânia ceda os territórios atualmente ocupados pela Rússia, equivalentes a cerca de vinte por cento do país. Além disso, Kiev teria que aceitar limitações severas ao seu poder militar e abandonar as ambições de ingressar na OTAN.
O plano prevê a redução do exército ucraniano para seiscentos mil soldados e a eliminação de armas de longo alcance do arsenal do país. Nenhuma tropa estrangeira poderia operar em território ucraniano, e a Constituição passaria a registrar que o país jamais ingressará na aliança atlântica. Em contrapartida, os Estados Unidos ofereceriam garantias de segurança condicionadas ao cumprimento integral dos termos acordados.
Os líderes europeus expressaram preocupação com as limitações propostas às Forças Armadas da Ucrânia, argumentando que tais condições deixariam o país vulnerável a futuros ataques russos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o plano exige trabalho adicional e que fronteiras não devem ser alteradas pela força.
Europa cobra participação nas decisões sobre acordo
Os aliados europeus manifestaram descontentamento por não terem sido consultados durante a elaboração inicial do plano americano. As negociações entre Washington e Moscou ocorreram sem participação dos países do continente europeu, que agora buscam influenciar os termos finais do acordo. Em declaração conjunta emitida à margem da cúpula do G20, representantes de onze países afirmaram que a proposta americana contém elementos importantes, mas necessita de ajustes substanciais.
O chanceler alemão Friedrich Merz destacou que uma eventual derrota ou colapso da Ucrânia teria impacto significativo em todo o continente europeu. Segundo ele, essa é a razão pela qual os países da região estão tão comprometidos com as negociações. O presidente francês Emmanuel Macron também enfatizou a necessidade de inclusão da Europa em qualquer acordo final que envolva a segurança do continente.
A declaração conjunta dos líderes europeus incluiu países como Holanda, Espanha, Finlândia, Noruega, Canadá e Japão. O documento afirma que a implementação de elementos relacionados à União Europeia e à OTAN exigiria consentimento dos membros dessas organizações. Trata-se de recado claro de que as potências europeias não aceitarão serem excluídas das decisões sobre o futuro da segurança regional.
Zelensky enfrenta dilema histórico sobre proposta
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky se encontra em situação extremamente delicada diante da proposta americana. Em pronunciamento à nação, ele reconheceu que o país vive um dos momentos mais difíceis de sua história e alertou para dias desafiadores pela frente. Zelensky afirmou que a Ucrânia pode enfrentar uma escolha muito difícil entre perder a dignidade ou correr o risco de perder um parceiro importante.
Em comunicado oficial, Kiev declarou que jamais será obstáculo à paz e que seus representantes defenderão os legítimos interesses do povo ucraniano. Zelensky acrescentou que é necessário garantir que em nenhum lugar da Europa ou do mundo prevaleça o princípio de que crimes contra pessoas e a humanidade possam ser recompensados e perdoados. A declaração demonstra resistência aos termos que premiariam a agressão russa.
O governo americano sinalizou que pode suspender o compartilhamento de inteligência e a ajuda militar caso a Ucrânia rejeite a proposta. Trump afirmou na sexta-feira que Zelensky terá que aceitar o plano, e se não aceitar, que continue lutando sozinho. A ameaça coloca pressão adicional sobre o líder ucraniano, que depende do apoio americano para sustentar o esforço de guerra.
Rússia vê plano como base para acordo definitivo
O presidente russo Vladimir Putin descreveu a proposta americana como base para uma resolução do conflito e afirmou estar pronto para negociações. Segundo Moscou, o plano retoma propostas discutidas anteriormente em conversas entre Putin e Trump no Alasca, que foram rejeitadas pela Ucrânia à época. O Kremlin pressiona Kiev, alegando que a rejeição do acordo resultará em novos avanços militares russos.
Apesar da receptividade inicial, a Rússia pode se opor a alguns pontos específicos da proposta. O documento exige que as forças russas se retirem de algumas áreas capturadas durante o conflito, o que pode encontrar resistência em Moscou. Os detalhes sobre quais territórios seriam devolvidos e quais permaneceriam sob controle russo ainda não foram divulgados publicamente.
Putin confirmou que mantém diálogo com o governo americano e demonstrou otimismo quanto à possibilidade de melhoria nas relações bilaterais entre Rússia e Estados Unidos. A postura conciliadora contrasta com a retórica agressiva dos últimos anos e indica que o Kremlin enxerga oportunidade de consolidar ganhos territoriais por meio da diplomacia.
Proposta inclui mecanismos controversos de compensação
O plano americano contém elementos que surpreenderam analistas de relações internacionais. Um dos mecanismos mais inusitados é o sistema de arrendamento territorial, pelo qual a Rússia pagaria à Ucrânia pela administração de áreas ocupadas, mesmo mantendo autoridade militar sobre elas. Na prática, o país seria compensado financeiramente por ceder temporariamente territórios que não deseja entregar.
O documento também prevê a destinação de cem bilhões de dólares em ativos russos congelados para a reconstrução da Ucrânia. Metade dos lucros desse fundo ficaria com os Estados Unidos, em arranjo que beneficia diretamente Washington. A União Europeia aportaria cem bilhões de dólares adicionais, ampliando os recursos disponíveis para a recuperação do país devastado por quase quatro anos de guerra.
Além das questões territoriais e militares, o plano busca reconfigurar a Ucrânia internamente. O russo se tornaria idioma oficial do país, e Kiev teria que adotar normas europeias para proteção de minorias e liberdade religiosa. Eleições nacionais seriam convocadas em até cem dias após a assinatura do acordo, e todos os envolvidos nas ações de guerra receberiam anistia total.
Próximos dias definirão rumos do conflito
As negociações em Genebra devem se estender ao longo deste domingo, com autoridades americanas e ucranianas debatendo os vinte e oito pontos em diversos formatos de reunião. Segundo fonte do governo americano, nada será acordado definitivamente até que Trump e Zelensky se encontrem pessoalmente. O prazo de quinta-feira estabelecido pelo presidente americano adiciona urgência às conversações.
O primeiro-ministro canadense Mark Carney confirmou que se reuniria com Zelensky no final deste domingo para discutir o plano de paz. A mobilização internacional demonstra a gravidade do momento e a pressão sobre o líder ucraniano para apresentar resposta às exigências americanas. O destino de milhões de pessoas e a configuração geopolítica da Europa dependem das decisões que serão tomadas nos próximos dias.
O conflito, que está prestes a completar quatro anos, entrou em uma de suas fases diplomáticas mais sensíveis desde o início. O impasse militar nas linhas de frente e o desgaste político em Kiev criaram ambiente favorável para negociações, mas os termos propostos por Washington representam concessões significativas que podem ser inaceitáveis para a população ucraniana que resistiu à invasão russa.