EUA sancionam artista Rosita e Tren de Aragua

Departamento do Tesouro dos EUA anuncia restrições contra DJ venezuelana e outros seis afiliados acusados de apoiar financeiramente organização criminosa transnacional através da indústria do entretenimento.

Selo do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos em fachada
Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro americano anuncia novas sanções contra afiliados do Tren de Aragua, incluindo artista Rosita

O Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou nesta quarta-feira, 3 de dezembro, novas sanções contra afiliados-chave do Tren de Aragua, organização criminosa designada como terrorista. Entre os alvos está a artista venezuelana Jimena Romina Araya Navarro, conhecida profissionalmente como Rosita, DJ, atriz e modelo com milhões de seguidores nas redes sociais. A medida representa intensificação da pressão americana contra redes financeiras que sustentam atividades criminosas transnacionais na América Latina, visando desmantelar estruturas de lavagem de dinheiro através da indústria cultural e do entretenimento.

As investigações americanas identificaram cinco pessoas vinculadas ao setor de entretenimento que forneceram apoio material ao grupo criminoso. Rosita mantém relação sentimental com Héctor Rusthenford Guerrero Flores, conhecido como Niño Guerrero, líder sancionado do Tren de Aragua sobre quem pesa recompensa de cinco milhões de dólares. Segundo o relatório oficial do Tesouro, a artista colaborou diretamente na fuga de Guerrero da prisão de Tocorón, na Venezuela, em 2012. Esta conexão transformou a DJ em personagem central do esquema investigado pelas autoridades americanas.

Rosita apresenta-se regularmente como DJ em diversas casas noturnas pela Colômbia, onde parte substancial da receita gerada durante performances e eventos é remetida à liderança do Tren de Aragua. O estabelecimento Maiquetía VIP Bar Restaurant, localizado em Bogotá, tornou-se ponto focal das investigações por servir como canal de lavagem de capitais. O local pertence a Eryk Manuel Landaeta Hernández, conhecido como Eryk, ex-guarda-costas e empresário da artista. Landaeta foi preso em outubro de 2024 após ser identificado como chefe financeiro e logístico da organização na capital colombiana.

Sanções contra rede de lavagem financeira

O Departamento do Tesouro incluiu quatro empresas na lista de entidades especialmente designadas por facilitarem operações financeiras ilícitas. A Global Import Solutions S.A., sediada na Venezuela e presidida por Rosita, aparece como uma das principais fachadas corporativas utilizadas para blanquear capitais provenientes do narcotráfico. A estrutura empresarial permitia movimentação internacional de recursos disfarçados como transações comerciais legítimas, dificultando rastreamento por autoridades financeiras regionais. Esta sofisticação operacional demonstra evolução das táticas criminosas na América Latina.

A Eryk Producciones SAS, empresa colombiana de produção criativa e entretenimento vinculada a Eryk Manuel Landaeta Hernández, também recebeu sanções. A companhia operava como veículo legítimo para atividades de lavagem enquanto mantinha aparência de negócio regular no mercado cultural. O Maiquetía VIP Bar Restaurant completa o esquema como ponto físico onde transações financeiras suspeitas ocorriam sob cobertura de atividade noturna. A Yakera y Lane SAS, empresa de comércio em Cúcuta vinculada a outro sancionado, fechava a rede corporativa investigada.

Como resultado das designações, todos os ativos e interesses dessas pessoas e entidades localizados nos Estados Unidos ou sob controle de cidadãos americanos ficam imediatamente bloqueados. Instituições financeiras globais que mantêm relações com os sancionados enfrentam risco de penalidades secundárias, incluindo restrições severas para abertura ou manutenção de contas correspondentes em território americano. O Tesouro advertiu que qualquer tentativa de burlar as sanções para beneficiar criminosos resultará em consequências adicionais para intermediários financeiros.

Ampliação das restrições contra criminosos

Kenffersso Jhosue Sevilla Arteaga, conhecido como El Flipper, figura entre os operadores de alto perfil sancionados nesta rodada. As investigações identificaram Sevilla como braço direito de Niño Guerrero e líder financeiro envolvido diretamente em extorsões e sequestros executados em múltiplos países da região. A empresa Yakera y Lane SAS, sediada em Cúcuta, servia como fachada para suas operações transfronteiriças. A proximidade geográfica com a Venezuela facilitava movimentação de recursos e coordenação de atividades criminosas entre os dois países.

O Tren de Aragua originou-se como gangue prisional no presídio de Tocorón, localizado na província venezuelana de Aragua, aproximadamente 60 quilômetros da capital Caracas. A organização expandiu-se internacionalmente aproveitando deterioração econômica venezuelana e massiva migração de cidadãos para países vizinhos. Atualmente opera em Bolívia, Colômbia, Chile, Peru, Brasil e Estados Unidos, envolvendo-se em tráfico de drogas, contrabando humano, exploração sexual de mulheres e crianças, extorsão e assassinatos por encomenda.

Em fevereiro de 2025, o Departamento de Estado americano classificou formalmente o Tren de Aragua como Organização Terrorista Estrangeira e Grupo Terrorista Global Especialmente Designado. Esta categorização ampliou substancialmente ferramentas legais disponíveis para combater a rede criminosa, permitindo coordenação internacional aprimorada entre agências de inteligência e aplicação da lei. A designação anterior como organização criminosa transnacional significativa ocorreu em julho de 2024, demonstrando progressão na percepção americana sobre ameaça representada pelo grupo.

Estratégia americana de combate ao crime

A ação contra Rosita e afiliados integra política mais ampla da administração Trump de repressão rigorosa a cartéis internacionais e organizações criminosas transnacionais. Em junho de 2025, o Tesouro sancionou Giovanni Vicente Mosquera Serrano, líder sênior do Tren de Aragua responsável por operações em múltiplas jurisdições. Um mês depois, em julho, Niño Guerrero foi formalmente sancionado juntamente com outros dirigentes e colaboradores essenciais da estrutura criminal. A sequência cronológica revela estratégia coordenada de desmantelamento progressivo da organização.

O governo americano oferece recompensa de cinco milhões de dólares por informações que levem à captura ou condenação de Niño Guerrero, considerado arquiteto da transformação do Tren de Aragua em ameaça hemisférica. Guerrero chefia atividades criminosas há mais de duas décadas, convertendo gangue prisional focada em extorsão interna em organização sofisticada com presença em todo Hemisfério Ocidental. Autoridades acreditam que ele não se encontra na Venezuela, operando possivelmente desde outros países latino-americanos onde mantém redes de proteção.

Grupos criminosos exploram migrantes venezuelanos e colombianos economicamente vulneráveis para tráfico sexual, submetendo vítimas à servidão por dívida. Polícia regional reporta milhares de pessoas vitimadas através de extorsão, tráfico de drogas e humano, sequestros e homicídios. À medida que se expandia pela América do Sul, o Tren de Aragua infiltrava-se oportunisticamente em economias criminosas locais, estabelecia operações financeiras transnacionais, lavava fundos mediante criptomoedas e formava laços com o Primeiro Comando da Capital, notório grupo brasileiro sancionado pelos Estados Unidos.

Impacto das penalidades econômicas internacionais

Adam Isaacson, diretor de supervisão de defesa do Washington Office on Latin America, avalia que sanções americanas provavelmente terão efeito limitado nas operações cotidianas imediatas do grupo. Contudo, a designação formal facilita dedicação de maiores recursos de inteligência e defesa para perseguir membros da organização. General aposentado Óscar Naranjo, ex-vice-presidente colombiano e ex-chefe da Polícia Nacional, classificou a gangue como a organização criminosa mais perturbadora operando atualmente na América Latina, representando verdadeiro desafio para estabilidade regional.

Na Colômbia, o Tren de Aragua e o Exército de Libertação Nacional operam redes de tráfico sexual na cidade fronteiriça de Villa del Rosario e no departamento de Norte de Santander. Relatórios oficiais documentam exploração sistemática de mulheres e menores em zonas fronteiriças onde presença estatal mostra-se historicamente frágil. A cooperação entre organizações criminosas e grupos armados ilegais potencializa capacidades operacionais de ambos, criando sinergias perigosas que complicam resposta governamental. Autoridades regionais enfrentam dificuldades crescentes para conter expansão das atividades ilícitas.

Desafio significativo para autoridades policiais consiste na dificuldade de determinar quantos membros do Tren de Aragua já operam em território americano. Imigrantes venezuelanos na Flórida e outros estados relataram à imprensa presenciar tipos de atividade criminosa dos quais fugiram na Venezuela. O Insight Crime, centro de pesquisa especializado em crime organizado, avaliou em outubro que a reputação do Tren de Aragua cresceu mais rapidamente que sua presença real nos Estados Unidos. Inexistem evidências até o momento de cooperação entre células americanas ou recebimento de instruções específicas da liderança.

Autoridades venezuelanas afirmam ter desmantelado liderança do Tren de Aragua e libertado a prisão de Tocorón do controle de seus membros. Entretanto, analistas internacionais questionam efetividade dessas operações, apontando continuidade das atividades criminosas em múltiplos países. O presidente Donald Trump ordenou em setembro ataque mortal no Caribe contra suposta embarcação de drogas vinculada ao cartel, resultando em onze mortes. A ação militar gerou controvérsia sobre proporcionalidade da resposta americana e respeito ao direito internacional em águas caribenhas.

As sanções desta semana consolidam padrão de ações punitivas progressivamente abrangentes contra infraestrutura financeira e logística do Tren de Aragua. A inclusão de figuras da indústria do entretenimento sinaliza reconhecimento americano sobre diversificação das estratégias criminosas para infiltração na economia formal. Especialistas avaliam que desarticulação efetiva requer não apenas sanções unilaterais, mas cooperação regional coordenada entre sistemas judiciais e policiais latino-americanos para identificar, processar e encarcerar membros da rede em suas respectivas jurisdições nacionais.

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