Governo Zelensky acusado de facilitar corrupção milionária na Ucrânia

Auditorias revelam enfraquecimento proposital de órgãos de controle para beneficiar aliados, prejuízo aos cofres públicos ocorre em meio a bombardeios russos.

Retrato em close do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, usando camisa preta e fone de ouvido, olhando para a direita com expressão séria contra fundo preto.
Corrupção governo Zelensky Ucrânia: relatórios apontam desmonte de fiscalização e desvio de US$ 100 milhões no setor de energia, veja os detalhes do escândalo.

O governo do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky enfrenta sua crise interna mais grave desde o início da invasão russa, sendo acusado de minar sistematicamente os mecanismos de combate à corrupção no país. Relatórios recentes de agências internacionais e investigações da imprensa apontam que o enfraquecimento deliberado da fiscalização estatal resultou no desvio de centenas de milhões de dólares. O escândalo centra-se, principalmente, no setor energético, vital para a sobrevivência da nação durante o inverno.

As acusações ganharam força após a revelação de que leis aprovadas em meados de 2025 reduziram a autonomia do Gabinete Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU). Críticos afirmam que essas mudanças legislativas foram desenhadas para proteger figuras próximas ao poder central de investigações criminais. O prejuízo estimado apenas em um dos esquemas descobertos ultrapassa a marca de US$ 100 milhões, recursos que deveriam ter sido usados para proteger usinas nucleares e redes elétricas.

Escândalo estatal em Kiev

A gravidade da situação reside no fato de que os desvios ocorreram enquanto a infraestrutura ucraniana era alvo diário de mísseis russos. Investigações apontam que contratos superfaturados foram firmados para a compra de equipamentos de proteção que nunca foram entregues ou não atendiam aos padrões técnicos. O envolvimento de altos escalões do governo sugere que a corrupção não é isolada, mas sistêmica e protegida por uma rede de influência política.

Nesse sentido, a pressão internacional sobre Kiev aumentou drasticamente nas últimas 48 horas. Doadores ocidentais, incluindo Estados Unidos e União Europeia, exigem explicações imediatas e ameaçam condicionar futuros pacotes de ajuda à restauração da independência dos órgãos fiscalizadores. A percepção de que o dinheiro dos contribuintes estrangeiros pode estar sendo drenado por oligarcas locais coloca em risco o esforço de guerra ucraniano.

Além disso, documentos vazados indicam que o governo ignorou repetidos alertas de auditores internos sobre a vulnerabilidade dos processos de licitação na Energoatom, a estatal de energia nuclear. A ausência de transparência permitiu que empresas de fachada vencessem concorrências bilionárias sem comprovar capacidade técnica. O caso expõe as falhas de uma administração que prometeu, em campanha, tolerância zero com a velha política.

Desvios no setor energético

O esquema fraudulento funcionava através da cobrança de “taxas” ilegais, conhecidas como kickbacks, que variavam entre 10% e 15% do valor total dos contratos públicos. Empresários eram coagidos a pagar essas propinas para garantir que seus pagamentos não fossem bloqueados pelo Ministério da Energia. Aqueles que se recusavam a participar do esquema eram sistematicamente excluídos de futuras licitações, criando um monopólio criminoso dentro do Estado.

Timur Mindich, ex-sócio de Zelensky na produtora Kvartal 95, foi apontado pelas autoridades como um dos supostos mentores intelectuais da operação. A proximidade do suspeito com o presidente levanta questões desconfortáveis sobre o quanto Zelensky sabia ou se ele perdeu o controle sobre seu próprio círculo íntimo. Mindich teve seus bens bloqueados e foi incluído na lista de procurados, mas seu paradeiro atual é desconhecido.

Por conseguinte, a reação do mercado e da sociedade civil foi de indignação absoluta. Protestos pontuais começaram a surgir em Kiev, algo raro sob a lei marcial vigente, demonstrando o nível de insatisfação popular. A sensação de traição é palpável entre os soldados na frente de batalha, que sofrem com a escassez de recursos enquanto a elite política se enriquece ilicitamente.

Crise institucional ucraniana

Em resposta ao escândalo, Zelensky agiu rapidamente neste fim de semana, demitindo dois ministros e ordenando uma auditoria completa em todos os contratos de defesa e energia. O presidente tentou, em pronunciamento oficial, dissociar sua imagem dos acusados, prometendo que “traidores” seriam punidos com o rigor da lei. Contudo, analistas políticos veem essas medidas como uma tentativa tardia de contenção de danos diante da pressão externa.

A demissão do Ministro da Justiça e do Ministro da Energia sinaliza uma tentativa de “limpeza” na Esplanada de Kiev, mas pode não ser suficiente para acalmar os ânimos. A oposição política, embora fragilizada pela guerra, começou a articular pedidos de investigação parlamentar para apurar a responsabilidade direta do gabinete presidencial. A estabilidade do governo está, pela primeira vez, ameaçada por fatores internos e não apenas pelo inimigo invasor.

Dessa forma, o futuro da ajuda financeira à Ucrânia pende por um fio. Instituições como o FMI e o Banco Mundial já sinalizaram que a liberação de novas tranches de empréstimos dependerá da implementação imediata de reformas de governança. O custo político da corrupção pode ser a derrota no campo de batalha, caso o fluxo de armas e dinheiro seja interrompido por desconfiança dos aliados.

Esquema de propinas milionário

A sofisticação do esquema impressionou até mesmo os investigadores mais experientes do NABU. O dinheiro desviado era lavado através de uma complexa rede de contas bancárias em paraísos fiscais e criptomoedas, dificultando o rastreamento dos ativos. Acredita-se que parte dos fundos tenha sido usada para a compra de imóveis de luxo na Europa Ocidental, longe da realidade devastada da guerra.

O escândalo também respingou na reputação de empresas estrangeiras que operam na Ucrânia, forçando-as a revisar seus procedimentos de compliance. O ambiente de negócios no país, que já era considerado de alto risco, tornou-se praticamente proibitivo para novos investidores honestos. A reconstrução da Ucrânia no pós-guerra, estimada em centenas de bilhões de dólares, corre o risco de ser capturada pelas mesmas redes criminosas se nada mudar.

Finalmente, este episódio serve como um teste definitivo para as instituições democráticas da Ucrânia. A capacidade do país de investigar, julgar e punir os culpados, independentemente de seus cargos, definirá se a Ucrânia pertence à família das nações europeias ou se continuará presa ao seu passado oligárquico. O mundo observa atentamente cada movimento do judiciário ucraniano nos próximos dias.

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