Guerra Aberta: Tailândia Lança Ataques Aéreos Devastadores Contra o Camboja

Bombardeios com caças F-16 marcam o dia mais sangrento do ano na região, cessar-fogo é rompido e artilharia pesada atinge vilarejos civis.

Grupo de sete oficiais militares tailandeses uniformizados em pé, lado a lado, com um porta-voz ao centro atrás de um pódio com o brasão oficial.
Oficiais do alto escalão das Forças Armadas da Tailândia durante o pronunciamento que confirmou os ataques aéreos na fronteira. (Foto: Reprodução/Exército Real Tailandês)

A frágil paz no Sudeste Asiático foi estilhaçada nas primeiras horas desta segunda-feira, 8 de dezembro de 2025. Em uma escalada militar dramática e sem precedentes recentes, a Força Aérea Real Tailandesa iniciou uma série de ataques aéreos coordenados contra posições militares dentro do território do Camboja. A operação, confirmada pelo Ministério da Defesa em Bangkok, marca o colapso definitivo do acordo de cessar-fogo que havia sido negociado há apenas dois meses com a mediação direta dos Estados Unidos e da Malásia.

Os eventos precipitaram-se após um fim de semana de tensão crescente na região de fronteira, especificamente nas províncias de Sisaket e Preah Vihear. Segundo o porta-voz do Exército Tailandês, Major-General Winthai Suvaree, a ordem para o envio dos caças foi dada em resposta direta ao bombardeio de artilharia cambojano que matou um soldado tailandês e feriu outros quatro na manhã de hoje. A retaliação aérea visou silenciar as baterias de foguetes BM-21 e posições de morteiro que, segundo Bangkok, estavam atacando deliberadamente áreas civis e militares tailandesas.

Ofensiva militar de caças

O uso de poder aéreo ofensivo representa uma mudança drástica nas regras de engajamento entre os dois vizinhos históricos. Relatórios de campo indicam que caças F-16 e possivelmente aeronaves Gripen foram utilizados para atingir alvos estratégicos na passagem de Chong An Ma e arredores do templo de Preah Vihear. As explosões puderam ser ouvidas a quilômetros de distância, gerando pânico generalizado em comunidades rurais que ainda tentavam se recuperar dos confrontos de julho deste ano.

Do lado cambojano, a narrativa é de agressão injustificada. O Ministério da Defesa em Phnom Penh acusou a Tailândia de iniciar as hostilidades com “ataques brutais e desumanos” às 5h04 da manhã, horário local. Autoridades cambojanas relatam que os ataques aéreos e de artilharia tailandeses resultaram na morte de pelo menos quatro civis e deixaram um rastro de destruição em aldeias fronteiriças. A porta-voz Maly Socheata afirmou categoricamente que suas tropas mantiveram a disciplina e não retaliaram inicialmente, uma versão que conflita diretamente com os relatórios de inteligência tailandeses.

A gravidade da situação forçou uma das maiores operações de evacuação civil da história recente da região. Autoridades tailandesas ordenaram a retirada imediata de moradores em quatro distritos fronteiriços, movimentando cerca de 35.000 pessoas para abrigos temporários apenas nas primeiras horas. No entanto, o número total de deslocados somando ambos os lados da fronteira já se aproxima de 400 mil pessoas, criando uma crise humanitária instantânea em uma área já marcada pela pobreza e pela presença de minas terrestres antigas.

Bombardeio tático na divisa

Este novo ciclo de violência enterra as esperanças diplomáticas que haviam sido celebradas globalmente em outubro. O “Acordo de Kuala Lumpur”, assinado com a presença do Presidente dos EUA, Donald Trump, e facilitado pelo Primeiro-Ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, foi desenhado para colocar fim a décadas de disputas territoriais. Contudo, a suspensão do acordo pela Tailândia em novembro, após incidentes com minas terrestres que mutilaram soldados em patrulha, deixou o caminho livre para o retorno das armas pesadas.

Analistas militares apontam que a decisão da Tailândia de empregar ataques aéreos — e não apenas fogo de contra-bateria de artilharia — sinaliza uma determinação de impor superioridade militar rápida e decisiva. Diferente das escaramuças de infantaria, o bombardeio aéreo destrói a infraestrutura logística do inimigo e serve como um aviso político severo. O governo tailandês, sob pressão interna de alas nacionalistas, parece decidido a não tolerar o que classifica como “provocações contínuas” na demarcação de fronteiras coloniais imprecisas.

A região do templo de Preah Vihear, um patrimônio mundial da UNESCO, volta a ser o epicentro simbólico e estratégico do conflito. Embora a Corte Internacional de Justiça tenha decidido em 1962 (e reafirmado em 2013) que o templo pertence ao Camboja, a área de 4,6 quilômetros quadrados ao seu redor permanece em disputa acirrada. Para os tailandeses, o controle dessa elevação geográfica não é apenas uma questão de orgulho nacional, mas uma vantagem tática militar que, se perdida, deixaria as planícies do nordeste da Tailândia vulneráveis.

Incursão aérea de combate

O impacto econômico e social do conflito já começa a ser sentido além das zonas de combate. As bolsas de valores do Sudeste Asiático reagiram com nervosismo, e o turismo, vital para ambas as economias, sofre um golpe imediato com o cancelamento de voos e o fechamento de fronteiras terrestres. A imagem de caças rasgando o céu e colunas de fumaça subindo da selva afasta investidores e visitantes, relembrando os dias sombrios das guerras da Indochina no século passado.

Internacionalmente, a reação é de alarme. A ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), atualmente presidida pela Malásia, convocou reuniões de emergência, temendo que o conflito se espalhe ou atraia potências externas. A China, que possui laços profundos com o Camboja, e os Estados Unidos, aliados de tratado da Tailândia, encontram-se em uma posição diplomática delicada. O fracasso do acordo mediado por Trump pode ser visto como um revés para a diplomacia americana na região, abrindo espaço para outras influências.

Relatos de hospitais na província tailandesa de Ubon Ratchathani descrevem a chegada de soldados feridos com gravidade, transportados por helicópteros sob fogo inimigo. A atmosfera nas cidades fronteiriças é de guerra total: escolas fechadas, bunkers sendo reabertos e comboios militares dominando as estradas. Para a população local, que viveu meses de relativa calma sob a promessa do acordo de paz, o retorno dos bombardeios é um pesadelo recorrente do qual parecem não conseguir acordar.

Golpe bélico pelo ar

A tecnologia militar empregada neste confronto de dezembro de 2025 supera em muito a das escaramuças de 2011. Ambos os lados modernizaram seus arsenais na última década. A Tailândia conta com uma força aérea superior e sistemas de radar modernos, enquanto o Camboja fortaleceu sua artilharia de foguetes móveis e defesas antiaéreas portáteis. Esse equilíbrio precário de poder letal aumenta o risco de que um erro de cálculo resulte em baixas massivas, não apenas de combatentes, mas de civis apanhados no fogo cruzado.

O ex-líder cambojano Hun Sen, pai do atual Primeiro-Ministro Hun Manet, utilizou as redes sociais para inflamar ainda mais os ânimos, declarando que a “linha vermelha” foi cruzada e exortando suas tropas a não recuarem. Essa retórica vinda de uma figura histórica tão influente sugere que o Camboja está preparado para uma guerra de atrito prolongada, caso a diplomacia não consiga intervir nas próximas horas. A mobilização de reservas e o movimento de tanques para a fronteira confirmam essa postura defensiva agressiva.

Enquanto o mundo observa, a situação no terreno permanece fluida e perigosa. Com a noite caindo sobre a Indochina, o temor é de que os combates se intensifiquem sob a cobertura da escuridão. O uso de drones de reconhecimento e artilharia noturna pode marcar a próxima fase deste conflito, transformando uma disputa de fronteira em uma guerra convencional de larga escala. A comunidade internacional aguarda, com a respiração suspensa, para ver se a diplomacia conseguirá silenciar os canhões antes que o custo humano se torne irreversível.

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários