Um incêndio de grandes proporções atingiu um complexo residencial em Hong Kong na tarde desta quarta-feira, 26 de novembro de 2025, deixando pelo menos 36 mortos, 29 feridos e 279 pessoas desaparecidas. A tragédia aconteceu no conjunto habitacional Wang Fuk Court, localizado no distrito de Tai Po, ao norte da cidade, e marca o incêndio mais devastador em Hong Kong desde 1996, quando 41 pessoas morreram em um prédio comercial no coração de Kowloon.
As chamas começaram por volta das 14h51 no horário local (3h51 no horário de Brasília) e se espalharam rapidamente através dos andaimes de bambu que revestiam os prédios. O Corpo de Bombeiros elevou o alerta para o nível 4 às 15h34, o segundo mais alto em uma escala de 1 a 5. Horas depois, o nível foi elevado para 5, o patamar máximo, indicando a gravidade extrema da situação.
O complexo Wang Fuk Court é composto por oito torres de 31 andares, abrigando aproximadamente 2 mil apartamentos e cerca de 4.800 moradores. Sete dos oito blocos foram atingidos pelas chamas. Imagens divulgadas pela imprensa local mostram colunas densas de fumaça preta subindo dos prédios enquanto chamas alaranjadas consumiam os andares superiores.
Operação de resgate mobiliza mais de 700 bombeiros
Entre as vítimas fatais confirmadas está um bombeiro que atuava no combate às chamas. O diretor do Corpo de Bombeiros, Andy Yeung Yan-kin, informou que nove pessoas morreram no local do incêndio e outras quatro faleceram após serem levadas ao Hospital Prince of Wales. Entre os 29 feridos hospitalizados, três estão em estado crítico, uma em estado grave e outra em condição estável. Um segundo bombeiro está sendo tratado por exaustão pelo calor.
A operação de resgate mobilizou mais de 700 bombeiros, 128 caminhões do Corpo de Bombeiros, 57 ambulâncias e 400 policiais. As equipes enfrentaram dificuldades para acessar os andares superiores devido ao calor intenso e à rapidez com que as chamas se espalharam pelos andaimes de bambu.
O líder do executivo de Hong Kong, John Lee Ka-chiu, anunciou que 279 residentes permanecem incontactáveis e que uma investigação foi aberta para apurar as causas do incêndio. O presidente chinês, Xi Jinping, enviou condolências às vítimas através da emissora estatal CCTV e exigiu que fossem envidados todos os esforços para extinguir o incêndio e minimizar o número de vítimas.
Andaimes de bambu facilitaram propagação das chamas
Os andaimes de bambu foram identificados como o principal vetor de propagação das chamas. Hong Kong é um dos últimos lugares do mundo onde o bambu ainda é amplamente utilizado para andaimes na construção civil devido à sua leveza e baixo custo. No entanto, o material é altamente inflamável e, quando combinado com as telas de proteção verdes instaladas no exterior dos prédios, facilitou a rápida disseminação do fogo pelos blocos do complexo.
O ex-vereador distrital Herman Yiu Kwan-ho relatou que pelo menos 13 pessoas seguem presas nos escombros, incluindo oito idosos e duas crianças. O vereador do distrito de Tai Po, Berry Mui Siu-fong, afirmou que praticamente todos os blocos do complexo foram atingidos pelo fogo, com apenas um deles sob controle inicial.
O Observatório de Hong Kong mantém alerta vermelho para risco de incêndio desde segunda-feira, 24 de novembro, advertindo para um risco extremamente elevado de incêndios florestais ou urbanos. O alerta é baseado em fatores como umidade baixa, velocidade do vento e secura da vegetação. As condições climáticas adversas contribuíram para a rápida propagação das chamas.
Alarmes de incêndio falharam durante tragédia
Moradores relataram que os alarmes de incêndio não dispararam antes da propagação das chamas, apesar de o complexo possuir sistema de segurança. O aposentado Chan Kwong-tak, de 83 anos, declarou ao South China Morning Post que percebeu o incêndio apenas pelo cheiro de queimado. “Se alguém estivesse dormindo naquele momento, estava condenado”, afirmou ele, relatando que os próprios moradores precisaram fugir por conta própria sem qualquer alerta prévio.
Segundo Herman Yiu, muitos residentes só foram alertados quando um segurança bateu às portas, o que deixou pouco tempo para evacuar. Um morador identificado como Wong, de 71 anos, desabou em lágrimas ao relatar que sua esposa estava presa em um dos prédios. Dezenas de moradores em choque, muitos aos prantos, observavam das passarelas próximas enquanto a fumaça subia do complexo.
O complexo Wang Fuk Court está passando por um processo de renovação orçado em 330 milhões de dólares de Hong Kong, equivalente a aproximadamente 42 milhões de dólares americanos ou 36,6 milhões de euros. A proposta de renovação gerou descontentamento entre muitos moradores antes mesmo do incêndio. Os trabalhos incluíam reparos nas paredes externas e nos suportes do ar condicionado, utilizando coberturas, redes e lonas de proteção padrão.
Série de incêndios expõe vulnerabilidades estruturais
Este incidente faz parte de uma série de incêndios relacionados a andaimes em Hong Kong que expuseram vulnerabilidades em estruturas de construção e renovação urbana. Em outubro passado, um incêndio nos andaimes externos da Torre Chinachem forçou a evacuação de dezenas de pessoas e deixou quatro hospitalizadas. As autoridades do Departamento de Edificações confirmaram a integridade estrutural do edifício naquela ocasião, embora tenham identificado materiais soltos na fachada que exigiam remoção imediata.
Especialistas apontaram faíscas de solda em canteiros de obras ou bitucas de cigarro descartadas como possíveis origens de incêndios anteriores. Esses incidentes reforçam as preocupações recorrentes sobre a segurança dos andaimes de bambu, frequentemente associados a obras de renovação, materiais inflamáveis ou fontes externas de ignição, num contexto de alta densidade urbana e clima propenso à seca.
O governo de Hong Kong iniciou em março de 2025 um processo gradual de eliminação do uso de andaimes de bambu por motivos de segurança, mas a medida ainda não estava totalmente implementada. A tragédia de hoje deve acelerar esse processo e provocar uma revisão completa das normas de segurança em obras de renovação de prédios residenciais.
O Departamento de Transportes de Hong Kong informou que, devido ao incêndio, um trecho inteiro da rodovia Tai Po foi interditado e os ônibus estão sendo desviados. A Escola Pública Batista de Tai Po, uma escola primária próxima, aconselhou os pais a evitarem a área devido à fumaça densa e aos riscos associados.
O último incêndio de grande magnitude em Hong Kong aconteceu em novembro de 1996, quando 41 pessoas morreram em um prédio comercial. O incêndio de hoje, com 36 vítimas fatais confirmadas e 279 pessoas ainda desaparecidas, torna-se o segundo mais mortal da história recente da cidade.
Cerca de 700 residentes foram levados para abrigos temporários enquanto as operações de resgate e combate às chamas continuam. As autoridades trabalham ao longo da noite para localizar os desaparecidos e prestar assistência aos feridos. O número de vítimas pode aumentar conforme as buscas avançam pelos blocos atingidos.