Lula aparece nos e-mails de Epstein

Lula aparece nos e-mails de Epstein em mensagem que cita uma suposta ligação intermediada por Noam Chomsky em 2018, quando o petista estava preso em Curitiba. O Planalto nega a conversa e reforça que a ligação “nunca aconteceu”.

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Presidente Lula falando diante de microfones, com duas bandeiras ao fundo.
Lula aparece nos e-mails de Epstein em citação a suposta ligação por telefone; Planalto nega e diz que a conversa “nunca aconteceu”.

A revelação de que Lula aparece nos e-mails de Jeffrey Epstein acionou imediatamente um nível elevado de atenção política e institucional em Brasília. A menção surge em um conjunto de documentos divulgados por um comitê do Congresso dos Estados Unidos, que liberou milhares de páginas de trocas de mensagens do financista condenado por abuso e tráfico sexual. Em uma dessas mensagens, Epstein escreve que teria participado de uma ligação com o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, supostamente intermediada pelo linguista Noam Chomsky, em 2018.

Segundo a transcrição divulgada, o bilionário registra, em inglês, uma frase curta: algo próximo de “Chomsky me ligou com o Lula. Da prisão. Que mundo”. O trecho é apresentado sem contexto adicional, sem data exata da conversa e sem detalhamento sobre o conteúdo do diálogo. A coincidência temporal levantada por veículos de imprensa é que Chomsky visitou Lula na carceragem da Polícia Federal em Curitiba em setembro de 2018, período em que os e-mails foram enviados.

A partir da divulgação dos documentos, o fato de que Lula aparece nos e-mails passou a ser explorado politicamente por grupos adversários, que apresentam a simples citação como se fosse comprovação de um relacionamento direto com o financista. No entanto, tanto especialistas em investigação internacional quanto fontes do governo ressaltam que a presença do nome em mensagens não equivale, por si só, a prova de que a ligação de fato ocorreu.

O que diz o governo brasileiro

Logo após a repercussão inicial, o Palácio do Planalto divulgou nota oficial negando a versão de Epstein. A Presidência foi categórica ao afirmar que a ligação citada nunca aconteceu. Na resposta enviada à imprensa, a Secretaria de Comunicação destacou que a informação “não procede” e cravou que a “citada ligação telefônica nunca aconteceu”.

Esse posicionamento oficial reposiciona a narrativa: de um lado, Lula aparece nos e-mails de Epstein como personagem mencionado em uma troca de mensagens; de outro, o governo brasileiro nega que o episódio descrito tenha se concretizado. Na prática, o cenário exige leitura cuidadosa, porque os documentos trazem a versão de um dos envolvidos, mas não apresentam evidências adicionais de que o telefonema tenha ocorrido de fato, como gravações, registros de chamadas ou comprovações externas.

Advogados ouvidos por veículos nacionais também chamaram atenção para um ponto operacional importante: o regime de visitas e comunicações na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Segundo especialistas, seria extremamente improvável que um preso, especialmente uma figura de alta repercussão como Lula à época, tivesse participação em ligação internacional com um financista norte-americano, usando aparelhos ou conexões fora dos protocolos estritos de segurança.

Como Lula aparece nos e-mails de Epstein

Na prática, o cenário é o seguinte: Lula aparece nos e-mails como personagem citado por Epstein, que descreve uma suposta chamada telefônica intermediada por Noam Chomsky. O texto do e-mail é lacônico e não entra em detalhes sobre o teor da conversa, nem explica qual teria sido o objetivo do contato. Em paralelo, o mesmo lote de documentos traz referências a outros líderes políticos, empresários e figuras públicas, o que reforça o caráter amplo e, em muitos trechos, fragmentado desse material.

Em outras mensagens, Epstein comenta a política brasileira, faz referência às eleições de 2018 e elogia Jair Bolsonaro, descrevendo o então candidato como “o cara” ou “the real deal”, conforme já relatado por veículos que analisaram o conteúdo. Esse conjunto de e-mails não tem uma narrativa linear; são recortes, avaliações rápidas, frases soltas e impressões pessoais enviadas a interlocutores diversos, o que exige cautela interpretativa.

Portanto, quando se afirma que Lula aparece nos e-mails, o que está documentado, de forma objetiva, é a citação feita por Epstein, e não a confirmação de que uma conversa telefônica entre os dois ocorreu. O próprio contexto carcerário e a negativa oficial do governo reforçam essa distinção.

Checagem: o que é fato, o que é versão e o que está em aberto

Do ponto de vista de checagem jornalística, é possível organizar o quadro em três camadas:

  1. Fato documental:
    É factual e verificável que Lula aparece nos e-mails divulgados: há uma mensagem em que Epstein diz ter sido “ligado” a Lula, com intermediação de Chomsky, a partir da prisão. Esses documentos foram liberados por um comitê do Congresso norte-americano e analisados por diferentes veículos.

  2. Versão contestada:
    O Planalto nega de forma explícita que a ligação tenha ocorrido e afirma que a narrativa descrita por Epstein não corresponde à realidade. Até o momento, não surgiram provas independentes que corroborem a realização do telefonema além da frase presente no e-mail.

  3. Ponto ainda em aberto:
    Não há, até aqui, esclarecimento técnico completo sobre como teria sido possível operacionalizar uma ligação internacional dessa natureza a partir de uma unidade da Polícia Federal, em um contexto de prisão altamente vigiada. Especialistas consideram a hipótese “muito improvável” dentro das regras padrão de carceragem, mas não há, por enquanto, relatório oficial detalhando todos os fluxos de comunicação do período.

Nessa configuração, a checagem aponta que a frase “Lula aparece nos e-mails de Epstein” é verdadeira no sentido literal — o nome do presidente está, de fato, citado nos documentos. Porém, extrapolar essa informação para afirmar que a conversa aconteceu, sem novas evidências, não encontra respaldo robusto na base factual hoje disponível.

Contexto político e uso da narrativa nas redes

Assim que a informação de que Lula aparece nos e-mails começou a circular, grupos políticos contrários ao governo passaram a apresentar o caso como exemplo de suposta proximidade entre o presidente brasileiro e o financista, cuja figura está associada a crimes graves de abuso e tráfico sexual. Em diversas postagens, a simples menção no e-mail foi tratada como se fosse confirmação direta de vínculo pessoal.

Do outro lado do tabuleiro, aliados de Lula apontaram que o caso se encaixa em um padrão de exploração política de fragmentos documentais, usados sem contextualização completa. O argumento desses grupos é que a negativa categórica do Planalto, somada às restrições da carceragem da PF, indica inconsistências na versão que Epstein descreveu superficialmente em sua mensagem.

Por que o nome de Lula aparece no radar de Epstein

Especialistas em política internacional observam que Lula aparece nos e-mails em um contexto mais amplo, no qual Epstein comentava sobre lideranças globais, cenários eleitorais e oportunidades de influência. O ex-presidente brasileiro, mesmo preso naquele momento, continuava sendo figura de grande projeção no cenário internacional, especialmente entre intelectuais e lideranças de esquerda.

É nesse ambiente que a ligação com Noam Chomsky entra na equação. O linguista, reconhecido por sua trajetória acadêmica e ativismo político, visitou Lula em Curitiba e se manifestou publicamente em defesa do petista, chamando-o de “líder mundial respeitado”. Essa aproximação ideológica pode ter colocado o nome de Lula no radar de conversas e especulações de Epstein, interessado em manter conexões com figuras influentes e intelectuais de destaque.

Epstein, listas, e o risco de leitura apressada

O caso também se soma a um histórico de interpretações equivocadas sobre a documentação envolvendo Epstein. Ao longo dos últimos anos, circularam listas supostamente definitivas de “clientes” e “associados”, muitas delas sem lastro oficial. O próprio Departamento de Justiça dos Estados Unidos já divulgou memorando informando não haver “lista de clientes” formalmente reconhecida e alertando para a ausência de evidência confiável de certas teorias conspiratórias.

Nessa linha, o fato de que Lula aparece nos e-mails precisa ser lido com a mesma cautela: o nome surge num conjunto de mensagens que mistura comentários políticos, impressões pessoais e fragmentos de conversas, sem que isso represente, automaticamente, participação em crimes ou vínculos orgânicos com a rede de abusos associada ao financista.

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