O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, surpreendeu a comunidade internacional nesta semana ao declarar, categoricamente, que o país já vive no futuro. Em um pronunciamento realizado na segunda-feira (9), Maduro afirmou: “O ano de 2026 já começou, já é 2026 hoje, começou cedo”. A declaração inusitada não foi um lapso, mas parte do lançamento oficial do “Plano 2026”, um conjunto de metas governamentais que visa consolidar uma “pátria pacífica e próspera” diante do que ele classifica como ameaças externas iminentes. O anúncio ocorre apenas dois meses após o governo ter decretado o início do Natal em 1º de outubro, criando um calendário paralelo no país vizinho.
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A fala do líder chavista busca mobilizar a base de apoio e criar uma narrativa de estabilidade, ignorando o fato de que o mundo ainda está na primeira quinzena de dezembro de 2025. Maduro justificou esse Salto Temporal político ao relacionar as ações de hoje diretamente aos resultados esperados para o próximo ciclo. Segundo ele, a antecipação é necessária para “consolidar um cenário de estabilidade” frente à pressão política e militar exercida pelos Estados Unidos, citando especificamente “23 semanas de ameaças no Caribe”.
Para a oposição e críticos internacionais, a medida soa como mais uma cortina de fumaça para desviar a atenção da crise econômica e das tensões diplomáticas. No entanto, internamente, o discurso é tratado com seriedade institucional, com ministérios e “circuitos comunitários” sendo orientados a operar sob a lógica de que o ano novo já está em curso.
Estratégia de Antecipação virou rotina
Esta não é a primeira vez que o governo Maduro manipula o calendário civil para fins políticos. A Estratégia de Antecipação tornou-se uma marca registrada de sua gestão. Em setembro deste ano, o presidente já havia decretado que o Natal na Venezuela começaria oficialmente em 1º de outubro, uma repetição do que fez em 2024 e anos anteriores. Na ocasião, ele afirmou que a medida visava garantir “o direito à felicidade” do povo venezuelano, apesar das dificuldades econômicas.
Ao declarar agora que “já é 2026”, Maduro radicaliza essa lógica. Se o Natal serviu para estimular o consumo e a sensação de normalidade festiva, a antecipação do ano novo tem um caráter mais defensivo e de sobrevivência. Analistas apontam que, ao viver no “futuro”, o governo tenta pular a etapa de balanço do ano atual, focando as esperanças da população em promessas de longo prazo que, teoricamente, já começaram a ser cumpridas.
Plano de Soberania contra pressão externa
O contexto da declaração está intrinsecamente ligado ao Plano de Soberania desenhado por Caracas para enfrentar o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA e a movimentação de navios americanos na região. Maduro citou que as novas diretrizes ampliam a organização territorial e social do governo para resistir ao que chama de “agressão imperialista”. O “Plano 2026” não é apenas um slogan, mas uma diretriz de segurança nacional que prioriza a defesa do território contra supostas invasões.
Dentro deste plano, a segurança interna ganha destaque. O governo venezuelano anunciou o fortalecimento das milícias e a preparação para defender a “pátria pacífica” a qualquer custo. A retórica de que 2026 “já começou” serve para colocar o aparato estatal em estado de alerta máximo imediato, sem esperar pela virada do calendário gregoriano tradicional.
Defesa Comunicacional e “batalha da verdade”
Outro pilar central do anúncio é a Defesa Comunicacional. Maduro destacou que uma das frentes prioritárias do “Plano 2026” é a “batalha comunicacional” para enfrentar campanhas de desinformação. Ele propôs a criação de uma “poderosa equipe de formação e comunicação” que atuará em mais de 5.300 zonas registradas como circuitos comunitários.
Essa rede capilarizada tem o objetivo de disseminar a narrativa oficial de que a Venezuela está prosperando e resistindo, contrapondo-se às notícias de crise humanitária e isolamento político. Ao afirmar que o ano novo já chegou, Maduro tenta impor sua própria “verdade” temporal, exigindo que sua base política e a mídia estatal se alinhem a essa nova realidade cronológica onde os desafios de 2025 já são águas passadas.
