O Senado do México aprovou, na última quarta-feira (10), um projeto de lei que institui um aumento significativo nas tarifas de importação para produtos de 12 países com os quais não possui tratado de livre comércio, incluindo o Brasil. A medida, que estabelece alíquotas de até 50%, afeta diretamente 1.463 classificações de produtos e deve entrar em vigor a partir de 1º de janeiro de 2026. A decisão do legislativo mexicano, impulsionada pelo governo da presidente Claudia Sheinbaum, é interpretada por analistas como uma reação direta às pressões comerciais exercidas pelos Estados Unidos, que buscam fechar o cerco contra a entrada de produtos asiáticos na América do Norte.
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A nova legislação coloca o Brasil na mesma lista de restrições que a China, Índia, Coreia do Sul e Rússia, tratando-os como competidores que ameaçam a indústria local mexicana. O texto foi aprovado com ampla maioria — 76 votos a favor e apenas 5 contra — demonstrando o alinhamento do Congresso com a política de “fortalecimento do mercado interno” defendida pelo executivo. Para o exportador brasileiro, o cenário é preocupante: setores estratégicos como o automotivo, têxtil, calçadista e de eletrodomésticos serão os mais penalizados pelas novas barreiras, o que pode encarecer a presença nacional no mercado mexicano e reduzir a competitividade frente aos parceiros do bloco norte-americano.
Ofensiva Tarifária
A amplitude dessa decisão surpreendeu o mercado e o governo brasileiro, visto que as relações diplomáticas entre os dois países vinham em um tom de aproximação. Segundo dados divulgados, as tarifas variam majoritariamente entre 20% e 35%, mas podem alcançar o teto de 50% em categorias específicas consideradas sensíveis para a economia do México. O objetivo declarado é arrecadar cerca de US$ 3,76 bilhões extras no próximo ano e proteger a indústria doméstica da “concorrência desleal”, um argumento frequentemente utilizado para justificar medidas protecionistas em tempos de crise global.
O impacto no Brasil é imediato na percepção de risco para negócios futuros. Embora o país possua acordos pontuais com o México, como o ACE-53 e o ACE-55 (automotivo), estes não cobrem a totalidade das 1.463 linhas tarifárias afetadas pela nova lei. Isso significa que uma vasta gama de produtos brasileiros que hoje entram com facilidade no território mexicano passará a enfrentar um custo aduaneiro proibitivo. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já manifestou preocupação, alertando que o setor automotivo, responsável por grande parte da pauta exportadora, concentra o maior risco, podendo sofrer com a desorganização das cadeias produtivas regionais.
Barreiras Comerciais
O contexto geopolítico é o grande motor dessa mudança. O ex-presidente e atual presidente eleito dos EUA, Donald Trump, tem ameaçado impor tarifas severas ao México caso o país continue servindo de “ponte” para produtos chineses entrarem no mercado americano. Para evitar sanções de seu maior parceiro comercial, o governo mexicano optou por erguer seus próprios muros tarifários contra as nações asiáticas e outros emergentes, levando o Brasil “de arrasto” nessa estratégia de contenção. A China, alvo principal da medida, já classificou a ação como “protecionismo unilateral” e prometeu retaliações, o que pode desencadear uma guerra comercial de proporções imprevisíveis.
Além disso, a medida expõe a fragilidade dos acordos vigentes na América Latina. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que o governo brasileiro está trabalhando para atualizar os acordos ACE-53 e ACE-55, que possuem mais de 20 anos e cobrem uma parcela pequena do fluxo bilateral. A diplomacia brasileira terá de agir rápido para tentar excluir o país dessa lista ou negociar exceções antes que a lei entre em vigor, sob pena de perder um mercado que consumiu bilhões em produtos nacionais no último ano.
Medida Restritiva
Internamente, a oposição mexicana criticou a pressa na aprovação do projeto, alegando que ele foi desenhado sem um estudo profundo sobre o impacto inflacionário para a própria população do México. Ao taxar insumos e produtos finais de parceiros importantes, o custo de vida tende a subir, prejudicando o consumidor final. No entanto, a narrativa de soberania econômica e defesa do emprego local prevaleceu no Senado, com legisladores governistas argumentando que a medida é essencial para o “Plano México”, que visa a substituição de importações.
Para os empresários brasileiros, a lição é clara: a diversificação de mercados é urgente. A dependência de acordos antigos e a vulnerabilidade a decisões unilaterais de parceiros comerciais mostram que o ambiente de negócios internacional está se tornando mais hostil e imprevisível. O “tarifaço” mexicano não é apenas uma barreira econômica, mas um sinal político de que o alinhamento com os interesses norte-americanos está se sobrepondo à integração latino-americana.
Protecionismo Econômico
Por fim, a implementação dessas tarifas em 2026 desenha um cenário desafiador para a balança comercial brasileira. Se não houver uma reversão diplomática ou a criação de novas exceções, produtos brasileiros perderão espaço para concorrentes que possuem livre comércio com o México, como os Estados Unidos e o Canadá. O governo brasileiro estuda acionar mecanismos da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou intensificar as negociações bilaterais para mitigar os danos, mas o tempo é curto e a vontade política do México parece decidida.
Portanto, os próximos meses serão cruciais para definir o futuro das relações comerciais entre as duas maiores economias da América Latina. O Brasil precisará demonstrar que é um parceiro estratégico e não uma ameaça industrial, tentando desvincular sua imagem da “invasão asiática” que o México tenta combater. A conferir se a diplomacia conseguirá derrubar o muro tarifário antes que ele seja cimentado na fronteira.
