Netanyahu confirma fim da 1ª fase do cessar-fogo em Gaza: tensão continua

Acordo inicial quase concluído, libertação de reféns entra em momento crítico e mundo pressiona por extensão da trégua humanitária

Benjamin Netanyahu discursando em um pódio com bandeiras de Israel ao fundo.
Primeiro-ministro israelense confirma conclusão iminente da primeira etapa do acordo com o Hamas (Foto: Reprodução/GPO).

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou neste domingo (7) que a primeira fase do plano de cessar-fogo na Faixa de Gaza está “quase completa”. Em um pronunciamento televisionado que parou o país, o líder israelense detalhou os avanços obtidos nos últimos dias de trégua, destacando o retorno de dezenas de reféns que estavam sob poder do Hamas desde o início do conflito. No entanto, Netanyahu manteve um tom cauteloso e firme, reiterando que a conclusão desta etapa não significa o fim definitivo das operações militares, mas sim o cumprimento de um compromisso específico para resgatar civis vulneráveis. A declaração ocorre em um momento de extrema sensibilidade, onde qualquer violação do acordo pode reiniciar os combates com intensidade redobrada.

Trégua no Oriente Médio avança

A implementação do acordo, mediado por Estados Unidos, Egito e Qatar, tem sido observada com lupa pela comunidade internacional. Segundo Netanyahu, a trégua no Oriente Médio avança conforme o planejado, permitindo não apenas a troca de prisioneiros, mas também um alívio momentâneo para a população civil de Gaza. A entrada de centenas de caminhões com ajuda humanitária, contendo alimentos, água e medicamentos, foi acelerada nas últimas 48 horas, cumprindo um dos requisitos fundamentais impostos pelos mediadores para a manutenção do silêncio das armas.

Apesar do progresso logístico e humanitário, a atmosfera na região permanece volátil. Forças de Defesa de Israel (IDF) mantêm suas posições dentro da Faixa de Gaza, prontas para retomar a ofensiva a qualquer momento. O primeiro-ministro enfatizou que a “missão suprema” de destruir as capacidades militares e governamentais do Hamas permanece inalterada. Para muitos analistas políticos em Jerusalém, essa postura dúbia de Netanyahu visa acalmar a ala mais radical de sua coalizão governamental, que vê com desconfiança qualquer pausa prolongada nos combates, temendo que o Hamas utilize o tempo para se reagrupar e rearmar seus batalhões.

Além disso, a pressão das famílias dos reféns que ainda permanecem em cativeiro continua a ser um fator determinante nas decisões do gabinete de guerra. Protestos em Tel Aviv exigem que o governo priorize a vida dos sequestrados acima de qualquer objetivo militar estratégico. Netanyahu, em sua fala, tentou equilibrar essas demandas, assegurando que o governo não descansará até que “o último refém volte para casa”, uma promessa que, segundo ele, justifica tanto a negociação atual quanto a eventual retomada da força militar.

Etapa inicial do acordo detalhada

A etapa inicial do acordo detalhada por oficiais do governo israelense previa a libertação de mulheres, crianças e idosos em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel e uma pausa nos bombardeios aéreos. Até o momento, os números indicam que mais de 90% dos alvos desta fase foram cumpridos. O mecanismo de troca, que envolve a entrega dos reféns à Cruz Vermelha e posteriormente às forças israelenses, tem funcionado com relativa estabilidade, apesar de alguns atrasos técnicos e acusações mútuas de violações menores do cessar-fogo.

No entanto, os desafios logísticos desta fase foram imensos. A identificação e o transporte dos reféns em uma zona de guerra devastada exigiram uma coordenação complexa entre agências de inteligência e organizações internacionais. Relatos de reféns libertados descrevem condições difíceis no cativeiro, o que aumentou a urgência em acelerar o processo. O governo israelense também teve que lidar com o dilema ético e político de libertar prisioneiros palestinos, muitos dos quais condenados por crimes de segurança, uma medida impopular entre grande parte do eleitorado de direita.

Paralelamente, a questão da ajuda humanitária revelou-se um ponto de atrito constante. Embora Israel tenha concordado com o aumento do fluxo de suprimentos, a inspeção rigorosa de cada caminhão na passagem de Kerem Shalom e Rafah gerou gargalos. Organizações da ONU alertam que, apesar da trégua, a quantidade de ajuda que chega ao norte de Gaza ainda é insuficiente para evitar uma catástrofe de fome e doenças. Netanyahu rebateu essas críticas, afirmando que Israel está facilitando o máximo possível sem comprometer sua segurança, impedindo que materiais de uso duplo cheguem às mãos do Hamas.

Pausa nas hostilidades sob risco

Contudo, a pausa nas hostilidades sob risco é uma realidade palpável a cada hora que passa. Incidentes isolados de disparos e movimentações de tropas foram reportados em diversas áreas do enclave costeiro, testando os limites da paciência de ambos os lados. O Hamas acusou Israel de voos de reconhecimento não autorizados, enquanto as IDF relataram tentativas de aproximação de militantes às suas linhas defensivas. A fragilidade do acordo é evidente, sustentada apenas pelo interesse mútuo temporário na troca de pessoas.

A transição para as próximas fases do acordo é o ponto mais crítico agora. A primeira fase focou nos civis, mas as etapas subsequentes envolvem a negociação de soldados homens e corpos de reféns falecidos, o que elevará o “preço” exigido pelo Hamas. O grupo militante já sinalizou que, para libertar militares israelenses, exigirá um cessar-fogo permanente e a retirada total das tropas de Israel de Gaza, condições que Netanyahu categoricamente rejeita no momento. Esse impasse estrutural ameaça colapsar as negociações assim que a lista de mulheres e crianças se esgotar.

Ademais, a dinâmica regional adiciona combustível à fogueira. Grupos aliados ao Hamas no Líbano, Iêmen e Iraque reduziram seus ataques durante a trégua, mas ameaçam uma escalada massiva caso Israel retome os bombardeios em larga escala. Os Estados Unidos, principais fiadores da segurança de Israel, têm trabalhado nos bastidores para estender a pausa, temendo que uma retomada violenta arraste todo o Oriente Médio para um conflito generalizado, algo que Washington quer evitar a todo custo em um ano pré-eleitoral.

Negociação Israel-Hamas prossegue

Portanto, enquanto a primeira fase se encerra, a negociação Israel-Hamas prossegue intensamente no Cairo e em Doha. Chefes da inteligência de Israel (Mossad), dos EUA (CIA) e mediadores árabes estão em reuniões contínuas para tentar costurar uma extensão do acordo atual. A proposta na mesa envolve a libertação de homens idosos e civis feridos que não se enquadravam na categoria inicial, em troca de mais dias de calmaria. Netanyahu indicou estar aberto a “dias extras” de trégua, desde que o Hamas continue a liberar reféns vivos diariamente.

A estratégia israelense parece ser a de “fatiar” o cessar-fogo, mantendo a pressão militar como uma espada sobre a cabeça do Hamas, enquanto extrai o máximo de concessões humanitárias possível. Por outro lado, o Hamas busca transformar essa pausa temporária em um estado permanente de não-beligerância, utilizando os reféns restantes como seguro de vida para sua liderança e sobrevivência política em Gaza. O jogo de xadrez é mortal e envolve não apenas táticas militares, mas uma guerra psicológica profunda contra a sociedade israelense e a opinião pública global.

Consequentemente, os próximos dias serão decisivos. Se as negociações fracassarem na transição para a “Fase 2”, o retorno dos combates deve ser feroz, com Israel buscando avançar para o sul de Gaza, onde a maioria da população e a liderança do Hamas estão agora concentradas. Netanyahu foi claro ao dizer que o exército está “recarregando as baterias” e revisando planos operacionais durante a pausa. A população de Gaza, exausta e deslocada, aguarda com apreensão, sabendo que o fim da “quase completa” primeira fase pode ser apenas o prelúdio de uma nova e devastadora tempestade.

Em suma, a declaração de Netanyahu serve como um marco temporal e político. Ela valida os esforços diplomáticos até aqui, mas lança uma sombra de incerteza sobre o futuro imediato. O sucesso da primeira fase prova que acordos são possíveis, mesmo entre inimigos mortais, mas a profundidade do ódio e a incompatibilidade dos objetivos finais de Israel (erradicar o Hamas) e do Hamas (sobreviver e governar) sugerem que a paz duradoura ainda é uma miragem distante no horizonte sangrento de Gaza.

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