Uma réstia de esperança iluminou o estado de Níger, no centro-norte da Nigéria, neste domingo (7). Autoridades governamentais confirmaram que 100 dos estudantes sequestrados da escola internato católica St. Mary, na comunidade de Papiri, foram libertados e estão a caminho de se reunir com suas famílias. O sequestro em massa, ocorrido em 21 de novembro, chocou o país e trouxe à tona, mais uma vez, a crise de segurança que assola a nação mais populosa da África. Contudo, a alegria é incompleta e mesclada com profunda ansiedade, pois cerca de 165 alunos e 12 funcionários da instituição permanecem em cativeiro, com seu destino ainda incerto nas mãos dos bandidos armados.
Crianças reféns escola soltas
O porta-voz da presidência, Sunday Dare, validou a informação de que o grupo libertado será entregue oficialmente aos representantes do governo do estado de Níger nesta segunda-feira. Segundo fontes ligadas à ONU e relatos da mídia local, como a Channels Television, as crianças estão exaustas e passarão por avaliações médicas imediatas antes do reencontro com os pais. Não foram divulgados detalhes operacionais sobre se houve pagamento de resgate ou se a libertação foi fruto de uma operação militar de extração, mantendo-se o sigilo para não comprometer a segurança dos que ainda estão na floresta.
O ataque original envolveu homens armados invadindo os dormitórios da escola durante a noite, levando consigo 303 alunos e diversos professores. Nos dias subsequentes ao ataque, cerca de 50 estudantes conseguiram escapar por conta própria, aproveitando-se do terreno difícil e da desatenção momentânea dos captores. A libertação deste novo grupo de 100 vítimas representa o primeiro grande avanço nas negociações, que envolvem líderes comunitários e intermediários de segurança. A pressão sobre o governo federal tem sido imensa, com protestos em Abuja exigindo ação concreta contra as gangues de “bandidos” que transformaram o sequestro em uma indústria lucrativa.
Vítimas abdução escolar livres
Além disso, o contexto deste incidente remete inevitavelmente ao trauma nacional das meninas de Chibok, ocorrido há mais de uma década. A recorrência desses crimes contra instituições de ensino demonstra a vulnerabilidade das zonas rurais nigerianas, onde a presença policial é escassa e o terreno favorece a ocultação de grandes grupos criminosos. A Diocese de Kontagora, responsável pela escola St. Mary, emitiu uma nota cautelosa através de seu porta-voz, Daniel Atori, afirmando que, embora a notícia seja “alentadora”, a igreja ainda aguarda a notificação oficial federal e continua em oração pela soltura de todos os 12 professores e dos alunos restantes.
A situação de segurança na Nigéria tem atraído atenção internacional renovada. Recentemente, a administração dos Estados Unidos sinalizou preocupação com a liberdade religiosa e a segurança de cristãos na região, o que pode ter acelerado os esforços diplomáticos e de inteligência para resolver este caso específico. O uso de sequestros para financiar insurgências ou simplesmente para lucro criminoso tornou-se uma tática endêmica no noroeste e centro do país, afetando desproporcionalmente o sistema educacional, já que muitas escolas são forçadas a fechar as portas por medo de novos ataques.
Jovens capturados Nigéria recuperados
Consequentemente, o desafio logístico e psicológico para reintegrar esses jovens à sociedade será monumental. Relatos de sobreviventes de sequestros anteriores indicam que as vítimas frequentemente sofrem de transtorno de estresse pós-traumático severo, desnutrição e doenças tropicais adquiridas durante a estadia forçada na mata. O governo do estado de Níger prometeu fornecer suporte psicossocial integral, mas a infraestrutura de saúde local é precária. A comunidade internacional, incluindo a UNICEF, já mobilizou equipes para auxiliar no processo de triagem e recuperação dos libertados.
Por outro lado, a permanência de mais de 150 reféns em cativeiro mantém o estado de alerta máximo. Analistas de segurança temem que os sequestradores utilizem o grupo restante como escudo humano ou moeda de troca para exigir anistia ou somas financeiras ainda maiores. A tática de liberar reféns em lotes é comum nessas negociações, servindo para provar que as vítimas estão vivas e aumentar a pressão emocional sobre as famílias e o governo para atender às demandas finais.
Portanto, os próximos dias serão críticos. As forças de segurança nigerianas, apoiadas por vigilância aérea, mantêm o cerco às áreas suspeitas de abrigar os esconderijos dos bandidos, mas qualquer ação ofensiva carrega o risco altíssimo de baixas civis. A nação aguarda, entre o alívio de ver 100 filhos voltando para casa e a agonia de saber que muitos outros ainda dormem sob a mira de armas na escuridão da floresta. A crise na escola St. Mary está longe de um desfecho definitivo, e a exigência por segurança nas escolas nunca foi tão urgente.
