Nigéria confirma libertação de 100 estudantes, mas 165 ainda seguem sob poder de sequestradores armados

Estudantes raptados Níger resgatados após semanas de negociação, Presidência confirma entrega às autoridades locais nesta segunda feira

Placa branca com letras azuis indicando o nome da escola St. Mary's Private Catholic Nursery & Primary School em Papiri, estado de Níger.
Placa de identificação da escola St. Mary, local onde centenas de alunos foram levados (Foto: Reprodução).

Uma réstia de esperança iluminou o estado de Níger, no centro-norte da Nigéria, neste domingo (7). Autoridades governamentais confirmaram que 100 dos estudantes sequestrados da escola internato católica St. Mary, na comunidade de Papiri, foram libertados e estão a caminho de se reunir com suas famílias. O sequestro em massa, ocorrido em 21 de novembro, chocou o país e trouxe à tona, mais uma vez, a crise de segurança que assola a nação mais populosa da África. Contudo, a alegria é incompleta e mesclada com profunda ansiedade, pois cerca de 165 alunos e 12 funcionários da instituição permanecem em cativeiro, com seu destino ainda incerto nas mãos dos bandidos armados.

Crianças reféns escola soltas

O porta-voz da presidência, Sunday Dare, validou a informação de que o grupo libertado será entregue oficialmente aos representantes do governo do estado de Níger nesta segunda-feira. Segundo fontes ligadas à ONU e relatos da mídia local, como a Channels Television, as crianças estão exaustas e passarão por avaliações médicas imediatas antes do reencontro com os pais. Não foram divulgados detalhes operacionais sobre se houve pagamento de resgate ou se a libertação foi fruto de uma operação militar de extração, mantendo-se o sigilo para não comprometer a segurança dos que ainda estão na floresta.

O ataque original envolveu homens armados invadindo os dormitórios da escola durante a noite, levando consigo 303 alunos e diversos professores. Nos dias subsequentes ao ataque, cerca de 50 estudantes conseguiram escapar por conta própria, aproveitando-se do terreno difícil e da desatenção momentânea dos captores. A libertação deste novo grupo de 100 vítimas representa o primeiro grande avanço nas negociações, que envolvem líderes comunitários e intermediários de segurança. A pressão sobre o governo federal tem sido imensa, com protestos em Abuja exigindo ação concreta contra as gangues de “bandidos” que transformaram o sequestro em uma indústria lucrativa.

Vítimas abdução escolar livres

Além disso, o contexto deste incidente remete inevitavelmente ao trauma nacional das meninas de Chibok, ocorrido há mais de uma década. A recorrência desses crimes contra instituições de ensino demonstra a vulnerabilidade das zonas rurais nigerianas, onde a presença policial é escassa e o terreno favorece a ocultação de grandes grupos criminosos. A Diocese de Kontagora, responsável pela escola St. Mary, emitiu uma nota cautelosa através de seu porta-voz, Daniel Atori, afirmando que, embora a notícia seja “alentadora”, a igreja ainda aguarda a notificação oficial federal e continua em oração pela soltura de todos os 12 professores e dos alunos restantes.

A situação de segurança na Nigéria tem atraído atenção internacional renovada. Recentemente, a administração dos Estados Unidos sinalizou preocupação com a liberdade religiosa e a segurança de cristãos na região, o que pode ter acelerado os esforços diplomáticos e de inteligência para resolver este caso específico. O uso de sequestros para financiar insurgências ou simplesmente para lucro criminoso tornou-se uma tática endêmica no noroeste e centro do país, afetando desproporcionalmente o sistema educacional, já que muitas escolas são forçadas a fechar as portas por medo de novos ataques.

Jovens capturados Nigéria recuperados

Consequentemente, o desafio logístico e psicológico para reintegrar esses jovens à sociedade será monumental. Relatos de sobreviventes de sequestros anteriores indicam que as vítimas frequentemente sofrem de transtorno de estresse pós-traumático severo, desnutrição e doenças tropicais adquiridas durante a estadia forçada na mata. O governo do estado de Níger prometeu fornecer suporte psicossocial integral, mas a infraestrutura de saúde local é precária. A comunidade internacional, incluindo a UNICEF, já mobilizou equipes para auxiliar no processo de triagem e recuperação dos libertados.

Por outro lado, a permanência de mais de 150 reféns em cativeiro mantém o estado de alerta máximo. Analistas de segurança temem que os sequestradores utilizem o grupo restante como escudo humano ou moeda de troca para exigir anistia ou somas financeiras ainda maiores. A tática de liberar reféns em lotes é comum nessas negociações, servindo para provar que as vítimas estão vivas e aumentar a pressão emocional sobre as famílias e o governo para atender às demandas finais.

Portanto, os próximos dias serão críticos. As forças de segurança nigerianas, apoiadas por vigilância aérea, mantêm o cerco às áreas suspeitas de abrigar os esconderijos dos bandidos, mas qualquer ação ofensiva carrega o risco altíssimo de baixas civis. A nação aguarda, entre o alívio de ver 100 filhos voltando para casa e a agonia de saber que muitos outros ainda dormem sob a mira de armas na escuridão da floresta. A crise na escola St. Mary está longe de um desfecho definitivo, e a exigência por segurança nas escolas nunca foi tão urgente.

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