Reino Unido Lança ‘Atlantic Bastion’: Escudo Naval com IA contra Rússia

Defesa britânica integra fragatas Type 26 a enxame de drones subaquáticos e sensores autônomos, visando fechar o cerco na lacuna GIUK e proteger infraestrutura crítica.

Drones navais autônomos e um navio de guerra no mar sob um céu tempestuoso.
Conceito do programa "Atlantic Bastion" do Reino Unido, que integrará drones e IA para defesa no Atlântico Norte. (Imagem: Divulgação/Royal Navy)

O governo do Reino Unido anunciou nesta segunda feira, 8 de dezembro de 2025, o lançamento oficial do programa “Atlantic Bastion”, uma ambiciosa iniciativa de modernização naval desenhada para conter a crescente ameaça russa no Atlântico Norte. O projeto representa uma mudança de paradigma para a Royal Navy, que passará a operar como uma “marinha híbrida”, integrando navios de guerra tradicionais com uma vasta rede de sistemas autônomos e inteligência artificial. O Secretário de Defesa, John Healey, descreveu o programa como um “projeto para o futuro”, focado em detectar, deter e, se necessário, derrotar adversários em águas profundas.

A urgência do anúncio reflete a preocupação da OTAN com a atividade de submarinos russos e navios de inteligência, como o Yantar, que têm operado perigosamente próximos a cabos de dados e dutos de energia vitais para a Europa. O Atlantic Bastion visa criar uma barreira tecnológica impenetrável, especialmente na estratégica lacuna GIUK (Groenlândia, Islândia e Reino Unido), garantindo que nenhuma movimentação hostil passe despercebida pelos novos olhos e ouvidos digitais da frota britânica.

Iniciativa de defesa marítima

O coração tecnológico do Atlantic Bastion reside na fusão de plataformas. As novas fragatas Type 26, consideradas as melhores caçadoras de submarinos do mundo, não atuarão mais sozinhas. Elas servirão como “naves mãe” para enxames de veículos não tripulados, tanto aéreos quanto submarinos, que estenderão o alcance dos sensores em centenas de quilômetros. Essa rede conectada permitirá que a Marinha Real monitore vastas áreas do oceano simultaneamente, sem a necessidade de expor tripulações humanas a riscos desnecessários em missões de patrulha de longa duração.

Além disso, o programa introduz o conceito de “guerra antisubmarina como serviço”, onde dados de sonares e satélites são processados em tempo real por algoritmos de IA para identificar assinaturas acústicas de embarcações inimigas. A fase inicial, batizada de Atlantic Net, já está em andamento com o desenvolvimento de sensores que serão implantados no fundo do mar para criar uma “cerca digital” permanente. Isso marca o fim da era em que a busca por submarinos dependia apenas da audição humana e da sorte.

Estratégia de guerra antisubmarina

A resposta da indústria de defesa foi imediata e robusta. O Ministério da Defesa confirmou que 26 empresas já apresentaram propostas para tecnologias de sensores, e 20 firmas estão demonstrando sistemas práticos, variando de grandes conglomerados a startups de tecnologia. Um investimento inicial de £14 milhões (“seedcorn funding”) foi liberado para acelerar o desenvolvimento desses protótipos, com a expectativa de que os primeiros sensores autônomos estejam operacionais no mar já no próximo ano.

Entre as inovações mais aguardadas está o drone subaquático extra grande (XLUUV) “Cetos” e o sistema “Herne”, capazes de operar de forma autônoma por longos períodos. Essas máquinas poderão mergulhar a profundidades inalcançáveis para mergulhadores e permanecer silenciosas à espera de alvos, alterando fundamentalmente o equilíbrio de poder no jogo de gato e rato submarino. A capacidade de “massa” – ter múltiplos sensores baratos e descartáveis – é vista como a chave para sobrecarregar a capacidade de furtividade dos modernos submarinos russos.

Projeto de modernização da frota

O impacto estratégico do Atlantic Bastion vai além da tecnologia; ele redefine a postura do Reino Unido na OTAN. Com a promessa de aumentar os gastos com defesa para 2,5% do PIB até 2027, o governo britânico sinaliza que está disposto a pagar o preço pela segurança coletiva da Europa. O Primeiro Lorde do Mar, Almirante Sir Gwyn Jenkins, enfatizou que essa “marinha híbrida” permitirá uma prontidão de combate muito maior, liberando os navios tripulados mais caros e complexos para missões de alto risco, enquanto as máquinas cuidam da vigilância persistente.

Contudo, o desafio não é apenas tecnológico, mas também industrial. A construção naval britânica precisará se adaptar para produzir esses novos vetores em escala e velocidade de “tempo de guerra”. A dependência de cadeias de suprimentos globais e a necessidade de integração perfeita entre sistemas de diferentes fabricantes serão testes cruciais para o sucesso do programa. O governo aposta que o Atlantic Bastion também servirá como um motor econômico, gerando empregos altamente qualificados em engenharia de robótica e inteligência artificial.

Plano de escudo oceânico

A vulnerabilidade das infraestruturas submarinas tornou se um tema central na geopolítica moderna. O programa Atlantic Bastion é, em essência, um escudo para a economia digital e energética do Ocidente. A sabotagem de gasodutos e cabos de internet poderia paralisar países inteiros, e a dissuasão através da presença constante é a única defesa viável. Ao tornar o Atlântico Norte “transparente” para seus sensores, o Reino Unido nega ao adversário a vantagem da surpresa e do anonimato nas profundezas.

Por fim, a implementação deste programa envia uma mensagem clara a Moscou: o domínio submarino não é mais um santuário seguro. A combinação de aço, silício e vontade política visa restaurar a primazia naval britânica em seu “quintal” histórico. O sucesso do Atlantic Bastion definirá a segurança marítima europeia pelas próximas décadas, estabelecendo um novo padrão para como as nações democráticas protegem seus interesses nas fronteiras azuis do planeta.

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