Rússia tomará todo o Donbass “pela força” se Kiev não recuar

Presidente russo endurece discurso em visita à Índia, rejeita concessões territoriais e avisa enviados dos EUA que avanço militar é inevitável sem retirada ucraniana imediata.

O presidente russo, Vladimir Putin, aparece sentado em uma mesa de conferência, vestindo um terno azul-escuro e gravata, falando ao microfone com uma expressão séria e gesticulando com a mão direita.
Vladimir Putin, durante pronunciamento, onde afirmou que a Rússia assumirá o controle do Donbass "pela força" se a Ucrânia não recuar suas tropas. (Foto: Reprodução)

O presidente russo, Vladimir Putin, elevou drasticamente o tom das tensões no leste europeu ao declarar, de forma categórica, que a Rússia assumirá o controle total da região do Donbass “pela força” caso as tropas ucranianas não se retirem voluntariamente. A afirmação contundente foi feita durante uma entrevista concedida nesta semana, no contexto de sua visita diplomática à Índia e de reuniões com enviados dos Estados Unidos. Putin foi direto ao estabelecer um ultimato a Kiev: “Ou libertamos esses territórios pela força das armas, ou as tropas ucranianas deixam esses territórios”. A declaração joga um balde de água fria nas esperanças de um cessar-fogo imediato, sinalizando que Moscou não aceitará o congelamento do conflito nas linhas atuais, mas sim a capitulação territorial completa das províncias de Donetsk e Luhansk.

A postura intransigente do líder russo surge em um momento crítico, onde negociações de bastidores com representantes norte-americanos tentavam desenhar um esboço de acordo de paz. Segundo fontes diplomáticas, a Rússia deixou claro que o reconhecimento, ainda que informal, do controle russo sobre todo o Donbass é uma pré-condição não negociável para qualquer avanço diplomático. Atualmente, as forças russas controlam a totalidade de Luhansk e cerca de 80% de Donetsk, mas a insistência de Putin na captura dos 20% restantes demonstra que o objetivo de guerra do Kremlin permanece inalterado e maximalista. O governo ucraniano, por sua vez, rejeitou prontamente a exigência, reiterando que a integridade territorial do país não está à venda e que a retirada de suas tropas significaria a entrega de sua soberania.

O impacto dessas palavras reverbera globalmente, pois sugere que a Rússia está disposta a intensificar a guerra de atrito, independentemente das sanções ou da pressão ocidental. Analistas apontam que a escolha de Putin por fazer tal ameaça em solo indiano, um parceiro estratégico que mantém laços econômicos com Moscou apesar das sanções, visa demonstrar que a Rússia não está isolada e possui capital político para sustentar uma guerra longa. A recusa em detalhar quais concessões a Rússia estaria disposta a fazer indica que, para o Kremlin, a “paz” só é concebível sob seus próprios termos ditados no campo de batalha.

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Investida Militar como única opção russa

Ao colocar a Investida Militar como a alternativa primária à diplomacia falha, Putin reforça a narrativa interna de que a “Operação Especial” é existencial para a Rússia. A retórica de “libertação” utilizada pelo presidente visa legitimar uma nova onda de ofensivas que podem custar milhares de vidas nos próximos meses. Especialistas militares observam que, para cumprir a promessa de tomar o restante de Donetsk “pela força”, o exército russo precisará romper linhas defensivas ucranianas fortificadas há anos, o que exigirá um emprego massivo de artilharia e infantaria.

Essa aposta na Investida Militar também serve como um recado direto aos Estados Unidos. Ao receber enviados de Washington, como Steve Witkoff e Jared Kushner, e logo em seguida fazer ameaças públicas de escalada, Putin sinaliza que não está desesperado por uma saída diplomática rápida. Pelo contrário, ele tenta impor uma “paz dos vencedores”, onde o Ocidente seria forçado a aceitar a nova realidade geográfica desenhada pelos tanques russos. A menção de que a Rússia “aceitou algumas propostas dos EUA” mas que o diálogo deve continuar sob a sombra da guerra mostra a estratégia do Kremlin de usar a força bruta como alavanca de negociação.

Além disso, a Investida Militar contínua no Donbass tem o objetivo de exaurir os recursos ucranianos. Ao forçar Kiev a defender cada metro de território sob bombardeio intenso, a Rússia busca quebrar a vontade política da Ucrânia e o suporte financeiro de seus aliados. Putin parece calcular que o tempo está a seu favor e que a ameaça de uma ofensiva total fará com que o Ocidente pressione Zelensky a ceder territórios em troca do fim do derramamento de sangue.

Tomada Territorial como objetivo inegociável

A Tomada Territorial completa do Donbass não é apenas um objetivo militar, mas o pilar central da legitimidade política de Putin neste estágio do conflito. Desde a anexação ilegal de quatro regiões ucranianas em 2022 (Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia), a constituição russa foi alterada para incluir esses territórios como parte inalienável da Federação. Recuar dessas reivindicações seria, para o Kremlin, uma admissão de derrota impensável. Portanto, a exigência de retirada ucraniana é apresentada não como uma conquista, mas como a restauração da “integridade” russa sobre terras que Moscou considera suas por direito histórico e legal.

Nesta lógica de Tomada Territorial, qualquer cessar-fogo que deixe tropas ucranianas dentro das fronteiras administrativas dessas províncias é visto por Moscou como temporário e inaceitável. Relatórios indicam que a Rússia já controla quase toda a região de Luhansk, mas enfrenta resistência feroz em bolsões de Donetsk. A declaração de Putin de que “alcançará seus objetivos” de qualquer maneira reforça que a anexação no papel deve se tornar uma anexação de fato no terreno, custe o que custar.

A insistência na Tomada Territorial também complica qualquer plano de paz proposto por terceiros. Iniciativas que sugerem o congelamento das linhas de frente atuais (modelo coreano) esbarram na recusa de Putin em aceitar uma Ucrânia soberana em partes do que ele chama de “Novorossiya”. O presidente russo parece determinado a retificar o mapa da Europa Oriental pela força, desafiando a ordem internacional baseada em regras que proíbe a aquisição de território por meio de guerra agressiva.

Avanço Bélico e a reação internacional

O anúncio de um novo Avanço Bélico iminente gerou reações imediatas e preocupadas nas capitais ocidentais. O Reino Unido, através de comunicado, condenou a retórica agressiva e reiterou que a única obstrução à paz é a vontade da Rússia de continuar uma guerra de agressão. Diplomatas europeus veem na fala de Putin a confirmação de que Moscou não está negociando de boa fé, mas sim usando o tempo diplomático para reagrupar forças e preparar o terreno para novas operações ofensivas.

Este Avanço Bélico prometido coloca pressão adicional sobre a administração dos EUA e seus enviados. A tentativa de costurar um acordo que satisfaça as demandas de segurança russas sem entregar a soberania ucraniana parece cada vez mais impossível diante do maximalismo de Putin. A menção a “propostas dos EUA” que incluiriam elementos novos, mas inaceitáveis em sua totalidade para o Kremlin, sugere que o fosso entre as posições de Washington e Moscou permanece largo.

Contudo, o Avanço Bélico russo enfrenta desafios práticos. Apesar da retórica triunfalista, as forças russas têm avançado lentamente e a custos altíssimos de pessoal e equipamento. A ameaça de tomar o Donbass “pela força” pode ser também uma tentativa de mascarar as dificuldades no campo de batalha, projetando uma imagem de inevitabilidade da vitória russa para desencorajar o apoio ocidental à Ucrânia. A guerra cognitiva de Putin visa convencer o mundo de que a resistência é inútil, mesmo quando seus ganhos territoriais reais em 2025 foram, até o momento, incrementais.

Domínio da Região e o futuro do conflito

O Domínio da Região do Donbass é visto por Putin como o mínimo aceitável para declarar “missão cumprida” diante de seu público doméstico. A região, rica em recursos e simbolismo industrial, foi o estopim da guerra em 2014 e continua sendo o coração sangrento do conflito. Ao exigir a saída voluntária dos ucranianos, Putin oferece a Kiev uma “rendição honrosa” para evitar a destruição total, uma oferta que Zelensky, apoiado pela maioria da população ucraniana, recusa veementemente, temendo que a cessão do Donbass seja apenas o prelúdio para novas demandas territoriais.

A busca pelo Domínio da Região também tem implicações demográficas e humanitárias. Milhões de pessoas vivem nessas áreas e estão sujeitas à “russificação” forçada sob ocupação. A fala de Putin sobre “libertar” essas populações contrasta com os relatórios de direitos humanos que descrevem um cenário de repressão e deportações nas áreas ocupadas. O controle total do Donbass permitiria à Rússia consolidar uma ponte terrestre para a Crimeia e projetar poder sobre todo o Mar de Azov, alterando permanentemente o equilíbrio estratégico no Mar Negro.

Por fim, a determinação russa pelo Domínio da Região sugere que 2026 poderá ser um ano de combates ainda mais intensos. Se a diplomacia falhar em encontrar um meio-termo — o que parece provável diante das linhas vermelhas traçadas por Putin na Índia —, o destino do Donbass será decidido nas trincheiras, com consequências devastadoras para a estabilidade europeia e global.

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